
Setembro Amarelo: conferência em Salvador discute saúde mental na Segurança Pública
Pressão constante, risco de morte, contato frequente com situações traumáticas. Essa é a rotina de quem atua na Segurança Pública, profissionais que, mesmo protegendo a sociedade, muitas vezes silenciam suas próprias dores emocionais. A sobrecarga pode se manifestar em forma de ansiedade, insônia, estresse crônico e até transtornos mentais graves. No mês em que há a mobilização com o Setembro Amarelo, a 2ª Conferência Nacional de Direito Militar, promovida pelo Instituto Brasileiro de Direito Militar (IBDM), abre espaço para discutir o tema em Salvador, nos dias 24 e 25 de setembro. A mesa “Saúde mental, atividade militar e autocuidado” reunirá especialistas para debater estratégias de cuidado e prevenção.
O psiquiatra e coordenador médico da Clínica Apice, patrocinadora do evento, Dr. Ivan Araújo, ressalta que a vulnerabilidade desses profissionais exige políticas públicas consistentes e programas específicos de atenção psicológica. “Nas forças armadas e policiais, a expressão das emoções ainda enfrenta obstáculos relacionados à cultura organizacional. Em muitos contextos, demonstrações de fragilidade são interpretadas como sinal de perda da capacidade operacional, o que contribui para a manutenção do estigma em torno da saúde mental”, pontua. Considerando o acesso cotidiano a armas de fogo, essa combinação eleva o risco e reforça a necessidade de medidas preventivas estruturadas. “Nesse cenário, é fundamental quebrar paradigmas e reconhecer que, para além do papel institucional, existe um indivíduo que demanda cuidado especializado. O IBDM dá um passo importante ao trazer essa discussão para a Conferência, o que pode favorecer o fortalecimento de políticas de prevenção e consolidação de redes de apoio”, afirma Araújo.
O especialista acrescenta que estratégias como o acesso facilitado a profissionais de saúde mental, implementação de grupos de discussão dentro das corporações, fortalecimento dos vínculos familiares e melhoria das condições de trabalho representam fatores protetores relevantes. “Quando os sinais iniciais de sofrimento psíquico não são reconhecidos, há maior probabilidade de evolução para quadros mais graves. Diferentemente de doenças físicas com marcadores visíveis, os transtornos mentais apresentam manifestações sutis, o que exige vigilância constante por parte de colegas, familiares e instituições”, completa.
Entre os destaques da mesa sobre saúde mental, a fisioterapeuta e psicoterapeuta Gabriela Saback vai apresentar as contribuições da Microfisioterapia, técnica de terapia manual que surgiu na França em 1980 e chegou ao Brasil em 2002. O método atua no reconhecimento das chamadas ‘marcas invisíveis do combate’, registros de traumas, choques emocionais e situações de estresse que ficam gravados no corpo e podem se manifestar em sintomas físicos, emocionais ou comportamentais. “Durante a sessão de Microfisioterapia, por meio de toques suaves, investigamos no corpo essas cicatrizes celulares e estimulamos o organismo a ativar seus próprios mecanismos naturais de autorregulação. Para profissionais da segurança pública, constantemente expostos a experiências traumáticas, a técnica representa uma ferramenta de prevenção, cuidado e tratamento, ajudando a liberar marcas silenciosas que poderiam comprometer a saúde e a performance no trabalho”, explica Saback.
O Setembro Amarelo reforça a importância de quebrar tabus e ampliar o diálogo sobre prevenção e autocuidado, especialmente em categorias tão expostas ao risco quanto os profissionais da segurança pública.
(Fotos: Divulgação)