:: ‘Celso Daniel’
Um petista, um mendigo e um jantar que, literalmente, acabou em pizza
Daniel Thame
Santo André. São Paulo, ano 2001. Nomeado secretário de Comunicação em Itabuna, fui passar uma semana conhecendo a estrutura da Secom da cidade do ABC, uma espécie de grife das administrações petistas.
Lá conheci o prefeito Celso Daniel, excepcional figura humana. Um ano depois, durante o Carnaval Antecipado de Itabuna, por uma dessas trapaças do destino, com o telefone do então prefeito Geraldo Simões em mãos, recebi uma ligação de José Dirceu, e coube a mim comunicar a Lula, que estava participando da festa, o sequestro e posterior assassinato do seu provável coordenador da enfim vitoriosa campanha presidencial. Mas isso é outra história.
Uma noite, eu e mais três companheiros da Secretaria de Comunicação fomos comer uma pizza e zerar o estoque de chopp num restaurante italiano. Muita conversa jogada fora, eles me perguntando de sacanagem como é que alguém deixa Sunpolo pra vir morar na Bahia e eu respondendo que sacanagem é não deixar São Paulo pra morar na Bahia, até que vejo um mendigo batendo na janela de vidro do restaurante, ao lado da nossa mesa, fazendo o clássico sinal de que estava com fome.
Como se sabe a tendência alambiquista do PT, na qual integro com pompa e zelo, bebe muito e come pouco e ai sobraram vários pedaços de pizza.
Chamei o garçom e no melhor estilo de ternura guevarista disse:
-Por favor, embrulhe essa pizza e leva para aquele rapaz aí do lado de fora, que ele está com fome.
Foi como se eu sugerisse que ele desfilasse na Avenida Paulista com a camisa do Palmeiras num dia de festa de comemoração de título do Corinthians.
– Senhor a casa não permite esse tipo de procedimento
Ai baixou meu lado guevarista duro;
-Ou você embrulha essa pizza e leva para o rapaz lá fora ou eu levanto da mesa e vou buscá-lo pra jantar aqui com a gente e ainda peço mais uma pizza pra demorar bastante. Isso você não pode impedir né?
E ele, quase engasgando:
-Isso eu não posso impedir, senhor…
Paredón!
-Então escolha, ou leva a pizza e entrega pra ele no meu campo de visão ou o mendigo entra como cliente.
Nem precisa dizer a opção que ele escolheu
Enquanto meu lado petista se comovia com a alegria com que mendigo recebeu aqueles pedaços de pizza, meu lado Mochileiro das Américas (isso também é outra história) não resistiu em pensar no garçom dizendo no melhor (ou pior) estilo paulista chato:
-Senhor mendigo, o cavalheiro daquela mesa solicitou que lhe entregasse essa pizza. Bom apetite e boa noite!
(Pensamento real do garçom: “petista filho da puta, da próxima vez que vier aqui e espero que nunca mais venha, vou colocar Lacto Purga na pizza pra você se borrar de merda”)
E desce um chopps, porque eu dispenso os dois pastel!
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