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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

abril 2024
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:: ‘Notícias’

Operário em (des)construção


“Era ele que erguia casas/Onde antes só havia chão/Como um pássaro sem asas/Ele subia com as asas/que lhe brotavam da mão/mas tudo desconhecia/de sua grande missão…/ Como tampouco sabia/Que a casa que ele fazia/ sendo a sua liberdade/ era a sua escravidão”.

Trecho de “Operário em Construção´ de Vinicius de Moraes.

O pedreiro Gilcimar Pereira Santos, de 23 anos, provavelmente não conhecia o poema-canção de Vinicius de Morais, que fala dos milhares de trabalhadores anônimos que ganham o pão com o suor de seu rosto, numa profissão estafante e exposta a riscos de acidentes. Gente que ajuda a construir um país, ergue mansões e muitas vezes mora em casas que, que de tão precárias, só com muito boa vontade podem receber o nome de moradias.
É o caso de Gilcimar, morador do bairro São Pedro, na periferia de Itabuna, em que às casas simples, construídas à custa de muito sacrifício, somam-se a escassez de serviços públicos e uma violência desenfreada.
Gilcimar, entre o caminho aparentemente fácil da criminalidade e a vida difícil, mas decente, de trabalhador, optou pela profissão de pedreiro, que lhe garantia uma existência modesta, mas digna.
Atuava como pedreiro, sem carteira assinada e sem poder se dar ao luxo de escolher trabalho.
E na impossibilidade de poder escolher ou dispensar trabalho, Gilcimar trombou com a irresponsabilidade, um item não necessariamente raro no setor de construção civil, notadamente em obras menores, em que a inexistência de equipamentos de segurança ou de respeito às normas básicas do setor expõem os operários a risco de vida.
No caso de Gilcimar, essa combinação foi fatal.
Numa manhã de calor sufocante, ele trabalhava numa construção na área central de Itabuna, quando a barra de ferro que levava nas mãos tocou no fio de alta tensão da rede elétrica.
A violência de descarga foi tão violenta, que o pedreiro morreu na hora, eletrocutado.
Poderia se afirmar que a morte de Gilcimar Pereira dos Santos foi um acidente, uma fatalidade, dessas que podem acontecer com qualquer um.
Não foi.
Além de o operário trabalhar sem equipamentos de segurança, a obra estava embargada pela Prefeitura de Itabuna. O embargo não ocorreu apenas uma, mas duas vezes.
Ainda assim a obra continuou, no lamentável senso comum de que lei existe mesmo é para ser ignorada.
Ou seja: o pedreiro Gilcimar não poderia não deveria estar ali.
Mas estava e do rapaz trabalhador e brincalhão (os amigos afirmam que ele estava sempre sorrindo, encarando a vida com otimismo e bom humor) restou apenas um corpo carbonizado estendido no chão.
Um operário em (des)construção.
Mais uma vítima da irresponsabilidade casada com a impunidade.
Que é rima, mas nunca é solução.

VERSÕES DIFERENTES PARA UMA MESMA HISTÓRIA


A gente recebe (e envia) muita besteira por email.
Mas esse texto é interessante, no melhor estilo “entre o fato e a versão, vale a versão”.
____________

Se a história da Chapeuzinho Vermelho fosse verdade, como ela seria contada
na imprensa no Brasil? Veja as diferentes maneiras de contar a mesma história.

Jornal Nacional
(William Bonner):
“Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem…” (Fátima Bernardes): “…mas a atuação de um lenhador evitou a tragédia.”

Programa da Hebe
“…que gracinha, gente! Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi
retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?”

Cidade Alerta
(Datena): “…onde é que a gente vai parar,
cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A menina ia pra
casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte
público! E foi devorada viva…
… um lobo, um lobo safado. Põe na tela, primo! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não!”

Superpop
(Luciana Gimenez): “Geeente! Eu tô aqui com a ex-mulher do
lenhador e ela diz que ele é alcoólatra, agressivo e que não paga pensão aos filhos
há mais de um ano. Abafa o caso”

Globo Repórter (Chamada do programa): “Tara? Fetiche?
Violência? O que leva alguém a comer, na mesma noite, uma idosa e uma adolescente? O Globo Repórter conversou com psicólogos, antropólogos e com amigos e parentes do Lobo, em busca da resposta. E uma
revelação: casos semelhantes acontecem dentro dos próprios lares das vítimas, que silenciam por medo.. Hoje, no Globo Repórter.”

Discovery Channel
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.

Revista Veja
Lula sabia das intenções do Lobo.

Revista Nova
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama!

Revista Isto É
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.

Revista Playboy
(Ensaio fotográfico do mês seguinte): “Veja o que só o lobo viu”.

Folha de São Paulo
Legenda da foto: “Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador”. Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.

O Estado de São Paulo
Lobo que devorou menina seria filiado ao PT.

O Globo
Petrobras apoia ONG do lenhador ligado ao PT, que matou um lobo para salvar menor de idade carente.

Um revólver para a noiva


Maria da Silva (nome fictício) tinha todos os motivos do mundo para estar feliz. Na terça-feira de sol, por volta das 8 horas da manhã, seguia tranqüila para o trabalho, num hospital no centro de Itabuna.

Mas não era o trabalho, ainda que um trabalho que ajuda a salvar vidas, que fazia de Maria uma mulher feliz.

Era a concretização de um sonho: o casamento, marcado para o dia seguinte, com aquele que Maria considera sua cara-metade, o seu par perfeito num mundo de tantas uniões imperfeitas.

Nesse misto de expectativa e divagação, Maria caminhava pelas ruas que dão acesso ao hospital.

Caminhava , como caminha todos os dias, com a diferença de que esse na era um dia qualquer. Era a véspera do tão sonhado casamento.

Portanto, um dia diferente.

E acabou sendo mesmo um dia diferente.

Quando cruzava a esquina, já visualizando o prédio do hospital, Maria nem se deu conta que dois rapazes a bordo de uma motocicleta.

Poderia ser uma surpresa do noivo, mandando entregar flores para a amada. Ou algum colega de trabalho, a lhe entregar o presente de casamento de maneira inusitada. Ou mesmo alguém pedindo informação.

Nem flores, nem presentes, nem um prosaico pedido de informações.

Era um assalto. O clássico assalto que se tornou uma lamentável rotina em Itabuna: o piloto para a moto, o carona saca o revólver e anuncia o assalto.

Tudo muito rápido, em plena luz do dia e presenciado por outras pessoas, que impotentes nada podem fazer a não ser presenciar o desespero da vítima.

Com o revólver apontado ostensivamente para a cabeça, o risco real de levar um tiro dada a brutalidade de marginais para quem a vida (dos outros, bem entendido) não vale nada, Maria entregou a bolsa, com documentos, cartões de crédito, dinheiro e o telefone celular.

Quando os motobandidos saíram, com a tranqüilidade de quem faz um passeio matinal, Maria entrou em estado de choque. Foi socorrida pelos moradores, enquanto aguardou pela chegada dos colegas de trabalho.

Demorou para entender o que havia acontecido e deve demorar mais ainda para superar o trauma de uma violência absurda, que está presente do dia da dia da população, que passa por assaltos aos borbotões e termina nos assassinatos contados às centenas.

Nesta quarta-feira, quando subir para o altar e realizar o sonho de sua vida, Maria da Silva, nome fictício mas vítima de uma violência real, deve sentir um calafrio na espinha quando ouvir o padre dizer a frase “até que a morte os separe”.

Faltou pouco para que a morte os separasse na véspera da consumação da felicidade.

Que Maria, enfim, seja feliz, como merecem serem felizes todas as noivas e todas as pessoas do mundo.

RETRATO MAGNIFICO DE UMA CIVILIZAÇÃO

A história da chamada Civilização Cacaueira, onde opulência e decadência não são apenas uma rima, envolve personagens e fatos que soariam inverossímeis até na ficção. Mas são incrivelmente reais.

Pouquíssimas regiões no planeta pularam da riqueza extrema para a pobreza franciscana em tão curto espaço de tempo, assistindo, impotente, ao ouro que tudo permitia se transformar no pó que nada valia.

O salto (no abismo) da riqueza para a pobreza, provocado pela vassoura-de-bruxa, que mudou radicalmente a vida de milhares de pessoas, dos mais ricos aos mais pobres, tornou-se uma espécie de tabu no Sul da Bahia, como algo a ser esquecido.

Histórias de vida fascinantes, pela conjunção ápice/derrocada, estavam destinadas ao esquecimento e ao anonimato, visto que é raro alguém assumir, com o espírito desarmado e com a sobriedade necessária, que os reis estão nus e que os reinos se esfarelaram.

A lacuna começa a ser preenchida com iniciativas como o filme-documentário Os Magníficos, dirigido pelo francês Bernard Attal. O filme, com depoimentos fortes e imagens impressionantes, mostra a grandeza e o empobrecimento de famílias de produtores rurais no Sul da Bahia, com foco especial no município Itajuípe.

Os depoimentos de Amélia Amado, herdeira de uma das maiores fortunas do Sul da Bahia e que teve que vender ate o mobiliário para sobreviver, da família Pepe, para quem o mundo era ali na esquina na nos tempos áureos e hoje vive frugalmente; de Paulo Jorge, o Paulão que quando estava enfastiado pegava um avião pela manhã em Ilhéus, fazia a barba num salão chique do Rio de Janeiro, passava a tarde tomando chopp no Copacabana Palace e à noite já estava na fazenda e hoje vive num casebre de madeira; são o relato de uma época que, até para servir como lição, não deve ser relegada ao limbo.

Há ainda os depoimentos de gente que conseguiu enxergar uma luz no fim do túnel, antes de ser atropelado pelo trem descarrilado da crise, como o empresário Helenilson Chaves e sua pregação empreendedora, e o produtor João Tavares, que trata o cacau menos como símbolo e mais como negócio.

E há, também, o depoimento de um trabalhador rural, para quem os bons tempos de resumiram a uma dentadura, substituta dos dentes que doíam e ele ia arrancado; além de uma referência a opulência das festas da alta-sociedade, que faziam dos colunistas sociais espécie de vice-reis.

O filme mescla falas fortes com imagens impressionantes, numa profusão de fazendas fantasmas, amareladas e cacaueiros infestados pela vassoura-de-bruxa. Sem pieguismo, deixando que a emoção salte da voz dos entrevistados e das histórias que cada um tem para contar.

Os Magníficos, que foi apresentado nos centros culturais de Itabuna, Ilhéus e Salvador e exibido pela TV Educativa é um desses filmes que, a exemplo do que mostra, não pode ser relegada a um pequeno público.

É para ser exibido em escolas, associações de moradores, sindicatos e espaços públicos, como um relato de um tempo que não volta mais, como lição e também como uma sinalização de que, mudando paradigmas arraigados há tantas gerações, é possível reescrever a história, substituindo a palavra crise pela palavra oportunidade.

Uma sinalização de que poderemos ser magníficos protagonistas de uma outra História, sem relegar histórias que em sua opulência e pobreza foram igualmente magníficas.

Dona Zilda, quem diria, foi morrer/viver no Haiti


O Haiti, que ocupa metade da ilha de Hispaniola, no paradisíaco mar do Caribe, nasceu como nação há cerca de 200 anos, destinada a ser um exemplo para o mundo.

Uma república forjada na luta de escravos libertos, num tempo em que a escravidão, aberta ou disfarçada, ainda era regra no continente e que outras ilhas e ilhotas ao seu redor ainda penavam como colônias dos países da Europa, antes de serem submetidas a ditaduras brutais.

Dona Zilda Arns, uma catarinense de fala suave e de gestos comedidos, criada na parte rica do Brasil desigual, nasceu para servir, para ser a estrada que pavimenta o acesso de milhares, talvez milhões, de pessoas à inclusão social.

Uma mulher assentada na fé católica, mas que entendeu que a fé necessita estar aliada à ação para quem pretende fazer valer a mensagem de Deus. E que, lançadas as bases da Pastoral da Criança, desenvolveu um trabalho que atingiu todas as partes do Brasil e foi adotado em outros países do mundo.

E é aí que ocorre o imponderável, o momento em que as histórias de dona Zilda Arns e do Haiti se encontram, para se unir em laços que o destino, numa de suas muitas trapaças, tornariam eternos.

O destino glorioso do Haiti trombou com fenômenos naturais como furações, vendavais e terremotos, que aliados a uma ditadura brutal e corrupta transformaram aquela parte da Hispaniola num dos países mais paupérrimos do mundo.

Um país em que, todos os anos, milhares de recém-nascidos e de crianças morrem de desnutrição, na fome endêmica e na ausência de serviços básicos como saúde e saneamento, que compõem um quadro de miséria apocalíptica.

O espírito de solidariedade de dona Zilda Arns a empurrou de encontro ao Haiti, para onde seguiu disposta a implantar ações de combate à desnutrição.

Ela foi salvar vidas, porque a essência de Deus não está necessariamente na conquista de um hipotético reino dos céus, mas na preservação dessa dádiva maravilhosa que é a vida humana.

No momento em que as mãos desse anjo-humano chamado dona Zilda tocavam as crianças haitianas com o poder de oferecer-lhes um futuro, um terremoto destruiu o presente, o futuro e tudo o que encontrou pela frente, reduzindo o Haiti a escombros.

Levou também dona Zilda Arns. Se fosse possível celebrar a morte de quem tanto zelou pela vida, diríamos que ela morreu como morrem os que passam pela vida como protagonistas e não como meros expectadores: cumprindo sua missão, buscando a transformação através do trabalho voluntário e desprendido de vaidades.

O encontro, que se revelou trágico, da história de dona Zilda com a história do Haiti, talvez não seja obra do acaso.

É muito mais provável que seja um sinal.

O sinal de que, inspirados em seu exemplo, homens e mulheres de todo o planeta se unam num imenso abraço de solidariedade.

Agora, para salvar e reconstruir o Haiti.

Depois e sempre para livrar o mundo dos diversos haitis que existem espalhados pelo planeta.

Morta no Haiti, dona Zilda vive.

O CACAU É UM SHOW. PARA ELES…


O cacau, essa planta quase mítica que fincou raízes no Sul da Bahia, forjou uma civilização, fez brotar cidades com feições de metrópoles, gerou riquezas incalculáveis e nas últimas décadas foi abatido por uma doença terrível que atende pelo nome de vassoura-de-bruxa; virou enredo de escola de samba no carnaval de São Paulo.

Com o tema “o Cacau é Show”, durante cerca de uma hora, a história do cacau e a delícia que dele se produz, o chocolate, serão exibidos para todo o Brasil (o desfile é transmitido ao vivo para todo o Brasil), na música e nas coreografias da Escola de Samba Rosas de Ouro, uma das principais agremiações do carnaval paulista, daquelas que sempre entram na passarela para disputar o título.

A letra de autoria do carnavalesco Jorge Freitas, conta a história do cacau desde os maias e os astecas, quando foi considerado o manjar dos deuses, o fascínio que o chocolate despertou na nobreza européia e as delícias de um produto apontado como rei entre os presentes que traduzem o sentimento paixão.

O que poderia ser uma boa notícia para a Região Cacaueira, com a extraordinária divulgação de seu principal produto, acaba servindo como um sinal de alerta, um chamamento a reflexão.

Como o carnaval se transformou num grande negócio, o samba enredo da Rosas de Ouro é menos uma homenagem ao cacau e mais uma propaganda do chocolate. Mais precisamente a propaganda de uma das maiores fabricantes de chocolate do Brasil, cujo nome é quase o mesmo do título do samba.

Apesar de o chocolate ser o filho mais doce do cacau, há uma distância intergaláctica entre ambos.

Mais ou menos como se um fosse o pai pobre e o outro fosse o filho rico.

Ocorre que nesse samba do crioulo (do branco, do amarelo, do vermelho, etc.) doido, o produtor fica só com as migalhas e o fabricante saboreia a maior parte do bolo.

A conta é simples: enquanto o quilo da amêndoa de cacau é vendido por cerca de seis reais, o quilo do chocolate pode chegar a 300 reais. Ou até mais.

Os números são impressionantes. O mercado de amêndoas movimenta R$ 300 milhões de reais/ano e o mercado de chocolate movimenta R$ 4 bilhões/ano. E está em franca expansão.

Experiências regionais de industrializar o cacau, embora bem intencionadas, como a fábrica da Itaisa, ficaram pelo meio do caminho. Outros projetos, mesmo bem sucedidos, são pequenos empreendimentos, diante do volume do potencial de produção.

Na prática, continuamos como meros produtores de matéria prima, como no distante século XIX. Atravessamos assim o século XX e assim entramos no século XXI.

Enquanto não houver mudança de mentalidade, espírito empreendedor e uma política efetiva de implantação de fábricas de chocolate, continuaremos nos comportando como tapuias, trocando nossa principal riqueza por espelhinhos, colares de pedras mulambentas e outras bugigangas.

E constatando que o cacau é mesmo um show.

Para eles e não para nós.

ZILDA ARNS

Não há como fugir do lugar comum:

Dona Zilda Arns é um anjo de luz que cumpriu sua missão na terra e agora está na companhia de Deus.

Mas vai fazer muita falta nesse nosso mundo tão carente de gente como ela.

O CACAU DÁ SAMBA


O cacau pode não estar dando muito dinheiro, mas pelo menos está dando samba.

Isso mesmo: o cacau é o tema da Escola de Samba Rosas de Ouro no carnaval deste ano em São Paulo.

Vá lá que falta uma referência explícita ao Sul da Bahia, mas só o fato de ter o nosso principal produto mostrado por uma das principais escolas de samba de São Paulo, com o desfile transmitido ao vivo pela Rede Globo, com inevitável citação cenográfica a Jorge Amado, é uma divulgação e tanto.

Confiram a letra, de autoria do carnavalesco Jorge Freitas:

‘O cacau é show’

É tão doce sonhar
E recordar a própria história
Eu, que já fui dádiva celestial
Em misteriosas civilizações
Fui batizado de cacau
Caminhei entre Maias e Astecas
Consagrei o meu “valor”
Caí na graça e no gosto
Na taça do imperador

A nobreza da Europa, eu conheci
E num tal “mexe-mexe”, eu me vi
Ganhei um gosto especial
A mistura “deu carnaval”!

Sou rei entre os presentes
Se for falar de paixão
Nos sentidos dessa gente
Posso tocar um coração
Agradeço a cada sonhador
Que me deu forma, brilho e cor
Estou aqui pra festejar
Hoje sou o símbolo da vida,
Renasci nessa avenida
Na escolha popular

Tá na boca do povo:
“O Cacau é Show”!
Sou Rosas, Rosas de Ouro
Meu sabor te conquistou!

OS OUTROS FILHOS DO BRASIL


Há mais de cinco décadas, um menino subiu num pau de arara, com a família, fugindo do flagelo da seca no sertão nordestino. Viajou 13 dias até chegar a São Paulo, comeu o pão que o diabo amassou e não contente ainda cuspiu, aprendeu a profissão de metalúrgico, se transformou num líder sindical respeitado, fundou um partido de trabalhadores, disputou e perdeu três eleições para a presidência da república, até que…

Bem, essa é uma história fantástica e que virou até filme, com o título de “O Filho do Brasil” e que todos já conhecem.

O pau de arara, que trouxe o menino assustado que depois se tornaria personalidade planetária, deveria nos remeter aos tempos de antigamente, símbolo de um Brasil atrasado, caminhando lentamente para a modernidade.

Quase uma alegoria a alimentar o mito que superou a distância entre o Brasil pobre e o Brasil rico e, no comando desse país, vem procurando reduzir essa distância na prática, embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido.

Mas, infelizmente, o pau de arara, esse sistema de transporte coletivo arcaico, desumano e arriscado, não é uma alegoria.

Tanto tempo depois, tanto progresso depois, o pau de arara continua circulando pelas estradas poeirentas deste imenso Brasil e também pelas grandes rodovias, transportando gente como se transporta gado. Muitas vezes, transportando gente como nem gado se transporta.

E, pela completa falta de segurança, matando gente.

Foi o que aconteceu no domingo, dia 10, em plena rodovia BR 101, elo de ligação entre o Sul/Sudeste com o Nordeste do Brasil.

Nas proximidades da cidade de Tancredo Neves, no Sul da Bahia, um caminhão pau de arara, que transportava cerca de 30 pessoas para a zona rural, todas elas amontoadas na carroceria, bateu de frente numa moto. Testemunhas alegam que o motorista do caminhão perdeu a direção.

Sandro Gerônimo de Jesus e João de Jesus Oliveira estavam na moto e morreram na hora. Genival Nascimento dos Santos, Zélia de Jesus Andrade e Luiz Carlos dos Santos Sacerdote, que eram passageiros do caminhão, foram lançados para fora da carroceira e também morreram.

28 pessoas, todas elas passageiras do pau de arara, ficaram feridas, nove delas internadas em estado grave.

Genival Nascimento dos Santos, Zélia de Jesus Andrade e Luiz Carlos dos Santos Sacerdote, que encontraram a morte em vez do destino glorioso na madeira dura do pau de arara, são os filhos de um Brasil que nem deveria existir mais.

Mas que resiste em forma de exclusão social e, forçoso dizer, desse misto de irresponsabilidade e omissão de quem deveria fiscalizar e fecha os olhos para essas armadilhas, que passam impunemente pelos postos de fiscalização, como se invisíveis fossem.

Sandro, João, Genival, Zélia e Luiz Carlos, cuja chance de virarem filme é zero, são apenas o enredo quase anônimo de uma tragédia tantas vezes anunciada.

Transformados em cinco cruzes na beira de estrada, muito fariam se suas mortes conseguissem por um fim a esse tipo de transporte.

É pouco provável que isso ocorra.

Um pau de arara, e lá se vai muito tempo, transportou o imponderável.

Os de hoje transportam apenas vítimas em potencial.

Ou vítimas reais como Sandro, João, Genival, Zélia e Luiz Carlos.

CASO LEAL SERÁ REABERTO

EXCLUSIVO: A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos vai pedir formalmente ao Ministério Público a reabertura do caso Leal.

A decisão de solicitar novas apurações foi confirmada pelo secretário Nelson Pelegrino à Sociedade Interamericana de Prensa (SIP)

O jornalista Manoel Leal, diretor do jornal A Região (Itabuna/BA), foi assassinado em janeiro de 1998 e muito por conta das investigações capengas, apenas o ex-policial civil Mozar Brasil foi condenado. Os mandantes continuam desfrutando da mais completa impunidade.





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