Cuba, Vily Modesto e ´las chicas`

Daniel Thame
Sul da Bahia, 1995. Acabo de voltar de Cuba, onde produzi para os jornais A Região (Itabuna) e Diário de Osasco (SP), uma série de reportagens que estão entre as melhores coisas que já realizei em quase cinquenta anos de jornalismo.
Para ser honesto a viagem à Cuba foi bancada inteiramente pelo jornal A Região, o que só se explica pela generosidade do inesquecível Manoel Leal (um dos anjos que o destino colocou na minha vida guache).
Afinal naquela época, mandar um repórter de um jornal do interior da Bahia fazer uma cobertura em Cuba equivalia a mandar um tabaréu a Marte.
A publicação no Diário de Osasco, onde trabalhei por 10 anos antes de emigrar para as terras do cacau, foi muito mais, reconheço, pela vaidade de mostrar que o menino que o Vrejhi Sanazar (outro anjo na minha vida) achava talentoso mas demasiado aventureiro pro gosto dele, estava se dando bem na vida.
Mas voltemos à Cuba, onde aliás retornei outras três vezes, apaixonado que sou por aquela que considero minha segunda pátria.
Ou melhor voltemos à Itabuna e a Bahia, minha verdadeira pátria.
A série de reportagens repercutiu tanto que mereci a honra de ser chamado para uma entrevista no programa Vily Modesto, na Rádio Jornal de Itabuna, patrocinado pelo Grupo Chaves (a citação é só pra lembrar de outro anjo, Helenilson Chaves) e que tinha como slogan “Durma com Jô e acorde com Vily”, referência mais do que justa ao “Jô Onze e Meia”, então no auge com Jô Soares.

Não dormi com Jô, mas acordei com Vily, feliz por poder falar para todo o Sul da Bahia.
Vily Modesto parecia estar inspirado por uma noite de sonhos calientes. Ou tinha lido Jorge Amado demais.
Após o meu tradicional bom dia aos queridos ouvintes e falar sobre minhas impressões iniciais sobre Cuba, Vily solta o vozeirão:
-Daniel Thame, e ´las chicas´? (as moçoilas, em bom português)
Fiz que não entendi e tasquei:
-Vily, a saúde em Cuba funciona bem, com atendimento de qualidade nos lugares mais distantes, nas capitais de provincia e em Havana e blá blá blá blá blá blá…
Vily engrossa mais a voz:
-E ´las chicas` Daniel?
E eu me finjo de surdo:
-A Educação é prioridade, com ensino gratuito do maternal à universidade e blá blá blá blá blá blá…
Vily parecia um disco travado:
-Eu quero saber com são ´las chicas`…
Eu parecia um surdo empedernido:
-Cuba tem praias maravilhosas, um patrimônio histórico-arquitetônico fantástico, o turismo tem sido a alternativa para minimizar o impacto causado pela queda do Muro de Berlim e blá blá blá blá blá blá…
Vily não queria saber nem de Muro, nem de Berlim:
-Eu quero saber como são ´las chicas`, Daniel.
Aí baixou um Che Guevera em mim.
Vily era uma figura maravilhosa, um ser humano espetacular e afinal eu era o convidado dele. Fui duro, sem perder a ternura, jamás!
-Vily meu amigo, se era pra ir atrás de ´las chicas` não precisava ir a Cuba, bastava ir ao Brega de Sônia.
Onde por sinal ´las chicas´ são (ou eram) muito mais ´hermosas`.
E vamos aos nossos comerciais, porque a entrevista acabou ali.
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Em tempo: Vily Modesto é umas dessas personalidades extraordinárias que ainda está a merecer o devido reconhecimento numa região que não é dada a reconhecer suas personalidades extraordinárias.
Mas isso já é assunto para outra crônica.












O cabra quis lhe colocar em apuros. Kkk