Ferreirinha

Ferreirinha

Daniel Thame

 

No início da década de 90, então no vigor dos seus 80 anos, Ferreirinha ficou mundialmente conhecido após se casar com a estudante Yolanda, nos seus tenros com 15 anos. Foi tema de reportagens em jornais de todo o planeta e concedeu uma entrevista antológica no programa Jô Onze e Meia, no SBT, onde foi triunfalmente apresentado por Jô Soares como o “Garanhão de Itabuna”.

 

A entrevista com Jô, que levou seu monumental talento para a eternidade, foi acertada após o envio de um exemplar do Jornal A Região por Manoel Leal à produção do programa. O jornal, à época vivendo seu auge, foi o responsável pela divulgação inicial da insólita união.

 

Como Ferreirinha, já passando os 80 anos e com Yolanda batendo o pé e se negando a acompanhar o esposo, coube a este ex-jornalista  em atividade  (então editor de A Região), levá-lo a São Paulo.

Jô Soares (foto Agência Brasil-EBC)

Jô Soares (foto Agência Brasil-EBC)

Antes de viajar, Leal comprou uma camisa florida (estilo Jorge Amado) para Ferreirinha usar no programa e orientou que se Jô Soares perguntasse o segredo da propalada potência sexual, a reposta era: “muito suco de cacau”.

 

 

Na viagem de avião, Ferreirinha foi me contando-repetindo todas as suas peripécias sexuais, a ponto de eu me perguntar se ele teria coragem de dizer tudo aquilo no programa.

 

Disse  e levou Jô Soares e a platéia (composta majoritariamente por estudantes) às gargalhadas, imitando o famoso gesto da posição “receba, galinha”, a sua preferida, antes das núpcias com Yolanda, bem entendido.

Manoel Leal

Manoel Leal

Diante de um Jô Soares surpreso com tanta desenvoltura e todos os presentes à gravação encantados com aquele senhor com jeito de menino sapeca, Ferreirinha confirmou que o segredo de levar a jovem esposa à exaustão a ponto de que era ela e não ele quem pedia para parar os arrufos na cama, era mesmo o tal suco de cacau.

Foi o suficiente para Jô Soares pedir: “atenção meus amigos do Sul da Bahia, me mandem vários pacotes de suco de cacau!”

 

Por obra e graça (coloca graça nisso!) de  Jô Soares,  Ferreirinha ficou conhecido como “O Garanhão de Itabuna”, título do qual se orgulhava e procurava manter, sempre se vangloriando de seus “dotes garanhísticos”, até falecer (lúcido e bem humorado), aos 99 anos, cercado pelo amor de Yolanda do dos familiares.

 

 

A entrevista foi um sucesso tão estrondoso que foi repetida entre as melhores do ano. Ferreirinha só não pode usar a camisa amadiana, porque como o voo atrasou, fomos levados diretamente para o estúdio. Durante a entrevista (sem imaginar que a gravação já estava valendo), Ferreirinha dizia a um Jô atônito que precisava vestir a camisa que Leal lhe deu.

 

 

Manoel Leal, Ferreirinha, Jô Soares. Deus deixam o céu mais habitável. E esse planetinha tão judiado pelo homo (sic) sapiens cada vez mais pobre de personagens dessa dimensão.           -.—-PS- Depois de me certificar de que Ferreirinha dormia o sono dos juntos, sai para tomar um chopp e comer um filé com fritas e agrião num boteco nas proximidades da esquina da Ipiranga com a avenida São João. E ali alguma coisas aconteceu em meu coração: me dei conta de que havia me tornado, definitivamente, um grapiuna das terras do cacau. E que São Paulo seria, como é, apenas um retrato amarelado na parede da memória.