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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

janeiro 2025
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Naquela mesa está faltando ela…

 

Daniel Thame

A sala era pequena e a iluminação dava um certo ar de penumbra. Mas ela tornava aquele espaço um infinito e iluminado com sua Luz.

 

Ela tinha uma saúde frágil, mas um coração que transbordava generosidade e uma vontade de viver que a fazia suportar dores que escondia, porque se preocupava com tudo mundo e não permitia que ninguém se preocupasse com ela.

 

Era  uma leoa para trabalhar, ignorando dias, horários, finais de semana, feriados.

 

“Precisando, conte comigo”, dizia.

 

E com ela eu sabia que sempre poderia contar.

 

Convivemos juntos por cerca de sete anos.

 

Separados por uma parede de vidro. Ela na sua sala pequena-imensa, eu na minha sala imensa-pequena, cercada por quadros, garrafas de cachaça caixas de charutos e uma mesa cheia de papéis, livros e bugigangas espalhados, que eu  implorava para ela não arrumar mas que ela às vezes não resistia e arrumava.

 

Mas eu sempre bagunçava de novo, nessa bagunça que é minha vida. No sentido literal e no sentido figurado.

 

Éramos pai e filha, mãe e filho, irmãos. Unidos pelas linhas invisíveis do destino que às vezes costura vidas que  (não) se cruzam por acaso.

 

Juntos, compartilhamos alegrias, tristezas, expectativas, frustrações.

 

Ambos com um temperamento  de falar pouco e ouvir muito, conversamos pelos silêncios. E como conversamos nesses longos-breves anos de convivência.

 

Reclamão e chorão incorrigível, comportamento mercurial,  raríssimas vezes  ouvi dela uma queixa que fosse. As suas lágrimas ela escondia atrás de um sorriso.

 

Nossos últimos oito meses foram marcados por uma paixão comum: eu pelo meu neto, ela pela sua sobrinha, nascidos com uma diferença de menos de um mês.

 

Cada qual a sua maneira, Juangui e Helena  foram dádivas que  trouxeram um novo sentido a nossas vidas.

 

Dezembro chegou. Últimas flores de primavera.

 

Pela primeira vez, durante uma formatura  com mais de cem alunos, eu, naquela tensão maluca de fazer em pé um cerimonial de quase três horas,  com a coluna cervical estropiada  me chamando de hijo de puta,  a vi reclamar  por várias vezes  de cansaço e de dores. Mas nem por um minuto deixou de ser a faz-tudo, que fazia além do que lhe cabia.

 

(E que nem sempre era reconhecida como merecia…)

 

Era um sinal.

 

Mas eu que sou tão intuitivo  que me atribuo dotes de bruxo, não percebi sinal algum.

 

Ou percebi, porque no último dia antes do recesso de Natal e Ano Novo, 21 de dezembro, fiz questão de lhe dar um abraço carinhoso, algo raro, porque não éramos dados a esses gestos de afeto. Não fisicamente.

 

Mas a abracei e ela retribuiu.

 

Me lembro muito bem que não nos desejamos Feliz  Natal ou Feliz Ano Novo.

 

Sim,  eu senti uma coisa estranha, mas que na hora atribui à minha notória melancolia com essas baboseiras de festas idiotas em que você se vê obrigado a responder mensagens igualmente idiotas.

 

Foi nosso último abraço.

 

Sumara Serra. Amiga, Irmã, Companheira, Confidente, Anjo.

 

Corpo cansado, começou a sentir dores terríveis no sábado. Levada ao hospital, foi medicada, mandada de volta para casa. As dores aumentaram, voltou ao hospital no domingo, de novo medicada, as dores aumentaram ainda mais e na manhã de Natal, Menino Jesus ao Contrário, sentiu as últimas e terríveis dores, gritou que não estava suportando mais e  fechou os olhos.

 

E então não sentiu mais nada.

 

Quando acordou em outra dimensão, já era Luz.

 

(Numa sala vazia e escura, há um silêncio que agora não fala)

 

Porque a exemplo desse texto arrancado a fórceps de alguém que faz das palavras a sua razão de viver, existem momentos em  que até o silêncio emudece.

 

Até breve, até sempre…

 

Sumara!

1 resposta para “Naquela mesa está faltando ela…”

  • Maria do Rosário Ferreira Porto says:

    Um dia, essa dor se amaina e vira uma saudade que nunca se acaba, trazida toda vez que o tempo lhe trouxer as belas lembranças dessa convivência! Fique em paz!

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