Eu, Negro Sarraceno
Adroaldo Almeida
Quando fiquei muito rico
Virei um milionário das nuvens
Com os bolsos cheios de monstros
Tudo preso no zíper da calça
Uivando para as vagas do mar.
No colete do paletó
Levava o sol e a lua
As constelações estelares
Oprimidas na carteira de couro
Ao lados dos cartões, Cassiopeia
Ateia humanista da rua.
No porto azul do Mediterrâneo
Embaixo das falésias de Montecarlo
A princesa me esperava nua
Mas eu me lembrava de ti
No pátio do ginásio, recreio
Pirulito na boca, riso.
As lembranças atravessaram a praia
Peguei meu guarda-chuva de ouro
E voei para a África
Pendurado em seus lábios
E ancorado nos ancestrais
Berberes, marroquinos, mouros.