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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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A gente corre, a gente morre na BR-324; e a Via Bahia segue cobrando pedágio

José Carlos Teixeira

Há um crime

No longo asfalto dessa estrada

E uma notícia fabricada

Pro novo herói de cada mês”

(BR-3, de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar)

José Carlos Teixeira

O palco parecia pequeno para aquele negro enorme que cantava e dançava, magnetizando a plateia que lotava o ginásio do Maracanãzinho onde se realizava a final da etapa nacional do 5º Festival Internacional da Canção Popular, promovido pela Rede Globo de Televisão no Rio de Janeiro e transmitido para todo o Brasil.

Tony Tornado, o negro cantor dançarino tinha 1,90 metro de altura, mas aparentava ser ainda mais alto por conta das botas que usava e lhe vinham até o joelho e da enorme e vistosa cabeleira black power que ostentava. Cabeleira tão grande não era muito comum no país naquele duro período do regime militar – a ditadura não se limitava a perseguir seus opositores, também reprimia modos e costumes que sugerissem desvio do que a ela seria a normalidade desejada.

Após o estranhamento inicial, o Maracanãzinho veio abaixo com a plateia acompanhando a performance de Tony Tornado e cantando junto com o Trio Ternura, que o acompanhava, o poderoso e grudento refrão da música: “A gente corre na BR-3 / A gente morre na BR-3”.

Turbinada pela apresentação de Tornado no festival, BR-3, uma soul music da dupla Antonio Adolfo e Tibério Gaspar, ganhou o Brasil, tornando-se uma das músicas mais executadas pelas emissoras de rádio naquele ano de 1970.

A letra fala de uma estrada imaginária, a BR-3, onde se corre e se morre – uma metáfora para a intensidade e as adversidades da vida nos tempos modernos.

Na Bahia daquele período tornou-se a trilha sonora perfeita para os motoristas que percorriam os 110 quilômetros do trecho da Rodovia BR-324 que liga Salvador a Feira de Santana, então conhecida como a “Estrada da Morte”, por conta do crescente número de acidentes, muitos deles fatais. A estrada só perdeu o funesto epíteto após a duplicação da pista, resultado de uma intensa campanha da chamada sociedade civil organizada.

Passadas cinco décadas, é hora de se voltar a cantar o refrão de BR-3 e convocar novamente a sociedade para cobrar melhorias nas pistas e na segurança da rodovia, hoje administrada pela concessionária Via Bahia, que nela mantém dois pontos de pedágio.

Percorrer a rodovia atualmente é um inferno, sobretudo no trecho que vai de Simões Filho a Salvador, no início da manhã e no final da tarde. Nesses horários forma-se um longo engarrafamento, ensejando a motoristas mais apressados e menos responsáveis o avanço proibido pelo acostamento e a forçação da passagem entre as faixas, disputando um ou dois metros de pista.

No ano passado, foram registrados 686 acidentes com vítimas (mortos ou feridos) na rodovia BR-324 – 18,7% mais que no ano anterior, quando foram registrados 578. Foram 46 mortes no período – menos que em 2022, quando morreram 53 pessoas, segundo o Painel CNT Acidentes Rodoviários, elaborado pela Confederação Nacional dos Transportes.

O momento agora é de mobilização da sociedade, já que as demandas junto aos poderes públicos em nada resultaram, a não ser declarações nos jornais e notícias fabricadas para enaltecer o herói de cada mês, como canta Tony Tornado.  O governo acusa a concessionária de não cumprir o contrato. A concessionária replica e acusa o governo de descumprir suas obrigações. A Justiça dá razão ora a um, ora a outro.

Enquanto se desentendem e não se chega a uma solução, a gente corre e morre na BR-324.

 

José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

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