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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: 29/jun/2024 . 12:13

Potiraguá, ´seu´Gentil e as Diretas Já

 

Daniel Thame

 Conheci “seu” Gentil lá pelos idos do começo dos anos 80 do século passado. Era o período da mobilização pelas Diretas Já e eu passava férias em Potiraguá, cidade nos limites da Região Cacaueira da Bahia. Na época “seu” Gentil era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, o que não era pouca coisa em tempos semi-coronelistas. É não é que cismamos de fazer ali em Potiraguá um comício pelas Diretas Já. Cismamos e fomos à luta.

Arrumamos um carro de som e saímos convocando o povo de Potiraguá e da vizinha Itarantim. A idéia ganhou corpo, atraiu outras pessoas e fizemos um grande comício, que contou com as presenças de lideranças da época, como Raul Ferraz e Pedral Sampaio, então um ícone de esquerda, que depois se bandeou para os braços de ACM e sumiu melancolicamente da vida pública.

Durante o comício, aconteceu algo inusitado: o prefeito mandou cortar a energia da praça, que estava lotada. Não tive dúvidas: pedi que o pessoal acendesse os isqueiros e dessa maneira levamos o comício até o fim, num clima emocionante. O espírito da democracia que a gente ia respirando após tantos anos de ditadura contagiou a praça.

Logo depois, “Seu” Gentil fundou o PT de Potiraguá e   continuou na luta,  com aquela gana dos que acham que é possível fazer um mundo melhor, que o sonho é, sim, possível.

Em 2010, durante uma visita de Jaques Wagner a Potiraguá, reencontrei e abracei “seu” Gentil, então agora presidente de honra do PT local, mas acima de tudo um militante do partido que se confunde com sua própria vida.

Foi como um passeio no tempo, pra reforçar a convicção de que é compensador seguir o caminho que as vezes é mais longo e mais cheio de obstáculos, mas é o caminho que faz a gente acreditar que vale, valeu e valerá a pena caminhar.

Eu não sabia, mas era uma despedida.

Adoentado, seu Gentil foi morar com familiares em outro Estado e em 2016,  partiu para um lugar chamado eternidade.

Como bom petista, foi ser estrela lá no céu.

A saga do acarajé

Vânia Fagundes 
Sexta-feira, começo da noite. Saio do trabalho com uma vontade retada de comer um acarajé. Quando ela bate, não combato, pois é desejo de orixá. Meu motorista, João, me espera na rua. Detalhe: o carro é dele. Damos carona a um colega que teve o carro arrombado e ainda está às voltas com o seguro e as suas chatices. No caminho o deixamos no Campo Grande, pertinho do seu ap. Chego em casa, falo pro meu marido do meu desejo e peço o carro dele emprestado (vendi o meu) para ir comprar a iguaria baiana. Preciso dar de comer ao meu corpo desejoso de dendê.
Lembro que só tenho uma nota de 2 reais na carteira e outra de 1 dólar que guardo desde sempre.
Dizem que atrai dindin. Não faço desfeita à crença nenhuma. Peço 10 reais emprestado pra ele que me dá um cheupe (bronca) por eu estar sem dinheiro mais uma vez. Rebelde que sou (sempre fui), digo-lhe que não quero mais e que vou me virar. Me pico pra Rua Barão de Loreto. No final da ladeira vendem deliciosos acarajés. Estaciono, desço do carro e, decepção, só aceitam em cash.
Volto pro carro. Preciso sacar dinheiro em algum caixa eletrônico. Parto novamente pro Largo da Graça. Estaciono na porta da garagem do banco que está trancada com corrente e cadeado. Ao lado, encostados em um carro, duas senhorinhas e um rapaz conversam. Pergunto se posso parar ali, ou se a Transalvador vai rebocar ou multar o carro. Eles me respondem que posso parar sem problemas, mas que acham que a porta do banco está fechada por conta do horário e dos assaltos.
Me aconselham a ir para o shopping mais próximo. Educadamente digo que vou tentar, e subo a escadaria do prédio. Dou com os burros n’água. Volto e conto pra eles a minha agonia para comer um acarajé. Êita orixá danado! O rapaz me oferece dinheiro. A princípio não aceito. Mas ele insiste, disse que é de boa, e eu acabo aceitando. Me dá duas notas de 2 reais e me pergunta se tá bom. Eu digo que sim, pois tenho 2 na carteira e vou catar umas moedas que o marido sempre deixa no console do carro. Aviso que preciso comprar dois, pois vou levar um para ele. O pequeno grupo é muito simpático e acabo conversando um pouco. Gente bacana, do bem e de esquerda.
O rapaz aponta para uma barraca iluminada do outro lado da praça, e diz que lá vende acarajé, que assim não terei que dar outra volta de carro novamente. As senhorinhas me dizem que o acarajé da Barão de Loreto é mais gostoso. Resolvo arriscar e experimentar o da baiana do outro lago do largo.
Vou andando. Ao chegar na barraca, pergunto o preço, mas descubro que o dinheiro que consegui só dá para comprar um. Pergunto se aceita cartão. Inês, a simpática baiana, responde que sim. Peço um com camarão e vatapá e outro só com pimenta. Volto para o carro, torcendo para ainda encontrar o grupo. Devolvo o dinheiro do professor (ele dá aula na faculdade que funciona na antiga igreja da Graça, que se encontra em reforma). Ah, esses professores, criaturas lindas. Me despeço de todos e volto feliz para casa. Sacio meu orixá, a mim e ao meu marido. Só me arrependi de uma coisa: não ter comprado acarajé para todos eles. Achei que não os encontraria mais lá.
Fiquei devendo. Um dia eu pago.

 





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