Gilza Pacheco

Ainda sobre as comemorações do mês dedicado às mulheres reporto-me hoje sobre a postura quando o mito começa a desmoronar.

Acredito que nós, mesmo estando no século XXI, ainda trazemos os grandes mitos sobre o amor, construindo castelos por cima de nuvens fugidias, com o amor que nasce como consequência do exagero do modelo de casal e da ocultação dos defeitos devido a idealização.

O amor não pode vencer tudo. Na verdade, não deixa de ser uma construção social que podemos rejeitar se não ficar adequada a nossa vida individual, familiar e profissional.
Esse desencanto tem encontrado muitas pessoas, mulheres, principalmente, ainda sem estrutura para lidar com questões assim.

Não é tão simples lidar com o apaixonamento entre os casais, pois se trata de um assunto extremamente delicado, uma vez que você deixa de ver o outro como via antes, recolhendo as projeções que antes lançara sobre o outro, ou pelo menos uma parte delas. Logo, você consegue notar aí na sua história de vida, quando esse movimento de afastamento começou.

Imagino que esse momento acontece quando, pela primeira vez, o outro não atendeu a sua expectativa, quando você esperou que seu parceiro fizesse uma coisa e ele fez outra diferente do que você imaginava.

Desde que somos criança nos incentivam a superar qualquer adversidade e um dos prêmios mais comuns aos que conseguem é um amor sem defeitos, que afetam os relacionamentos criando expectativas irreais e prejudiciais. Uma vez que sempre haverá expectativas quebradas e eu lhes digo que as expectativas sempre existirão, que as decepções também, porém, que a diferença estará no significado que daremos a essas experiências com o outro, dentro de nossas relações, pois é justamente o valor que damos a estes fatos, ausências, palavras ou silêncios, que nos posicionará como figuras ativas, donas do nosso destino e das nossas atitudes ou meros fantoches das nossas crenças e das ações alheias.

 

Quero lhes dizer que não é o outro quem determina o que somos nem o que fazemos. Responsabiliza-lo por isso é desistir da nossa autonomia como seres que sentem e pensam. É fugir de algo que pertence a nós e culpar o outro por nossa felicidade ou infelicidade. Assim, podemos ter a decepção como uma ferramenta para tirar nossa expectativa do lugar errado, evitando o desmoronamento do mito e, em consequência, o fortalecimento do amor!