Walmir Rosário

O itajuipense Arnaldo Santos de Carvalho detestava futebol. Ele gostava mesmo era de basquetebol e voleibol. O problema era que todos os seus amigos ilheenses viviam o futebol e Arnaldo teve que tomar uma decisão: Ou se isolaria dos amigos ou aderiria ao famoso esporte bretão, que encantou e encanta os brasileiros. Resultado, optou pelo futebol, ao qual se dedicou por longos 30 anos, como jogador e treinador.

Você não se lembra do Arnaldo? Claro que conhece! Arnaldo era quando detestava o esporte querido dos brasileiros. Mas, com certeza, quando falamos de futebol em Ilhéus, Itabuna e até Salvador, todos lembrarão de Americano, zagueiro e meio-campista. Fora das quatro linhas foi treinador do Ilhéus Esporte Clube, já num período conturbado do futebol profissional do Sul da Bahia.

Um craque que reunia todas as boas qualidades técnicas e físicas. Esse era o Americano, que realizava seu trabalho com bastante seriedade, daí ser considerado um líder nato nos clubes pelos quais passou. Desde cedo não gostava muito de treinar, o que passou a fazer com afinco para melhorar seu rendimento dentro de campo e demostrar aos colegas a necessidade de se tornar um profissional exemplar.

Americano começou a jogar pelo Flamengo de Ilhéus em 1961, considerado o período mais florescente do futebol, época em que o Brasil se tornou bicampeão mundial, o que não era diferente na região, principalmente em Itabuna e Ilhéus. Também passou pelo Colo-Colo de Ilhéus, Itabuna Esporte Clube e Vitória de Salvador. Como jogador profissional, Americano foi pretendido por clubes do Rio de Janeiro e São Paulo, porém nunca se interessou em ter o futebol profissional como primeira atividade.

Em suas frequentes análises, Americano comentava que com a recessão no futebol nacional, houve um desgaste muito grande dos dirigentes, agravada, ainda mais, com a crise financeira, impedindo a descoberta de novos valores. Ele citava como exemplo o futebol de Ilhéus, que apesar de possuir times era um mercado pequeno para a garantir a sobrevivência de três equipes profissionais.

Em suas críticas, creditava essa derrocada à insistência do presidente da Federação Bahiana de Futebol, Carlos Alberto Andrade, que encantava com sua poderosa lábia os dirigentes do Sul da Bahia. E assim os cartolas de Ilhéus e Itabuna resolveram remar contra a maré. Ele mesmo era contra, porém foi voto vencido, pois defendia um único clube, e que poderia se estabelecer como uma força da cidade praiana.

Americano sempre defendeu a profissionalização do futebol do interior, mas era contra a realizada sem critérios ou infraestrutura e que provocou uma verdadeira “chacina de valores”, impedindo o aparecimento de novos craques. Ele dizia que a partir do profissionalismo, ninguém mais se interessava pelo futebol amador. E era justamente o futebol amador quem formava e alimentava as equipes profissionais.

E Americano lembra que ainda garoto todos de sua idade se espelhavam em craques como Pelé, Garrincha ou Didi, em nível nacional, ao mesmo tempo em que tinham como ídolos os jogadores de sua cidade. Ele mesmo citava os seus, a exemplo de ‘Pelé Cotó’, Esquerdinha (Eduardo) ou Bebeto, que foi seu grande professor. E hoje os garotos vão se espelhar em quem?”, perguntava.

No Itabuna Esporte Clube, Americano foi um jogador preponderante dentro e fora de campo, tanto nas boas fases financeiras do clube, como nas piores. Sempre exercia sua liderança e encontravam o caminho para seguir em frente. Nos tempos das “vacas magras” de 1970, era um verdadeiro paredão do Itabuna Esporte Clube, que apesar das situações adversas se tornou vice-campeão baiano.

Como treinador, Americano defendeu o Ilhéus Atlético Clube, nos anos de 1990 e 91, época em que revelou uma série de craques que ele considera uma nova geração de valores, como Cenildo, Nazaré, Cocada, Bico de Pato, Solteiro, José Alberto, dentre outros. E esses jogadores vieram da escolinha do professor Manoel Renato, um obstinado profissional que mudou a realidade social e esportiva em Ilhéus.

E Americano nunca deixou de comentar que sua passagem como treinador do Ilhéus Atlético Clube trouxe recordações boas e amargas. As boas ele destaca a geração de novos valores e, as amargas a atitude dos dirigentes da Federação Bahiana de Futebol, que ludibriou os ilheenses, acabando com todos os estímulos aos amantes dos jogadores e do bom futebol.

E Americano ressalta o nível de dirigentes daquela época, a exemplo de Francisco Rebouças, do Itabuna; e Gutemberg Cruz, do Ilhéus. E ele ainda sonhava que poderiam ser revelados craques como Ivo Babá, Vilson Longo, Manequinha, Deco ou Bebeto.   Arnaldo Santos de Carvalho, Americano, craque de bola, violonista clássico, funcionário do Detran e advogado, nasceu em 18 de julho de 1934, em Itajuípe e morreu em 03 de outubro de 2010, em Itabuna.

Deixou muitas saudades!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado