:: 11/mar/2023 . 9:13
Dedé do Amendoim, vascaíno, petista. E eterno!
Após 46 anos percorrendo os bares de Itabuna com sua inseparável bicicleta, vendendo amendoim e ovo de codorna, Dorival Higino da Silva, também conhecido como Dedé do Amendoim ou, por motivos óbvios, Tesão, pendurou as chuteiras e os pedais em 2016.
Com oito filhos criados graças à sua labuta incansável, foi curtir a família e torcer/sofrer com o Vasco da Gama, seu time de coração, até ser acometido de uma enfermidade que o manteve recluso em casa.
Como Pelé, deixou sucessores na labuta para ganhar honestamente o suado pão de cada dia, mas não substitutos, porque Dedé era dessas figuras que mereceram o adjetivo “insubstituível”.
Dedé do Amendoim é, ao lado do Caboco Alencar, que teve que fechar o ABC da Noite por conta da pandemia e só agora promove uma reabertura gradual funcionando apenas aos sábados, é seguramente um dos personagens mais fascinantes da boemia itabunense, com histórias que dariam um livro.
Uma delas, ocorrida em meados dos anos 90, dá bem a dimensão do estilo Dedé. Vendia ele seus amendoins e seus ovos de codorna no Katiquero, vestindo com orgulho uma camisa do PT, quando um desses babacas que infelizmente poluem os bares perpetrou:
-Tira a essa camisa horrível que eu compro tudo…
Ao que Dedé respondeu na lata:
-Pois pra gente como você eu prefiro não vender nada…
E seguiu em frente, com sua bicicleta e sua dignidade.
Em 2022 Dedé foi vender seus ovos de codorna e seus amendonis lá no céu (fico aqui imaginando uma orgia angelical dados os efeitos propagados do amendoim).
Em tempo 2: O Katiquero reabriu com outro nome e outro proprietário . Ou seja, não reabriu…
A Morte do Marechal Francisco Solano López
André Maynart
Francisco acordou sabendo que estava morto. Há 20 dias era homem morto.
Cerro Corá era praticamente uma ilha. Cercada por mata fechada, serras, o arroio Tacuara e arroio Aquidaban, o acampamento surgiu após uma viagem heróica – ou um via crucis – de Assunção, passando pela cordilheira, por fome e pela peste, até chegar perto da fronteira com o Brasil. Foi lá que Francisco, mesmo avisado pelos indígenas da região que os cambá – negros, em guarani, ou seja, brasileiros – estavam próximos, decidiu ficar.
Francisco, o único homem gordo entre crianças soldadas, mulheres condenadas a recuar por serras e montes, velhos servindo ao Marechal sob mira de fuzil, poucos homens em idade de serviço com ossos finos à mostra, a carne de outrora comida pela fome. Pelo reino de López em Cerro Corá se dispersavam corpos nus, chamados por desespero de soldados, esquálidos a ponto de comer a terra do chão para ter algo para encher o estômago, tendo à disposição um rifle para cada cinco homens; oficiais que deviam sua presença a um misto de lealdade militar e medo dos pelotões de fuzilamento; corridas de desertores, que reencontravam a esperança da vida; canhões sacrílegos feitos de sinos de igrejas; cadáveres assassinados pela doença da cólera, outros assassinados pela psicose paranóica do Marechal.
Francisco acordou sabendo que estava morto. Francisco foi acordado pela notícia de que havia sido achado pelo exército brasileiro. Um rumor de que suas defesas no arroio Tacuara estavam sob ataque não pode ser confirmado, até que os canhões no arroio Aquidabã soassem.
Os canhões de sino disparavam desespero: ossos humanos, pedras, areia, terra eram disparados contra o exército imperial às margens do rio Aquidabã. Os postados contra o arroio Tacuara nem se deram ao trabalho de disparar, devido à falta de munição. Os soldados imperiais, frente aqueles moribundos que se chamavam de tropas e brincavam de atirar pó, não travaram combate. Já estavam mortos.
Cintos de segurança, projeto de inutilidade
11Ônibus lotado1
Walmir Rosário
O que deveria ser um tema sério é tratado como vulgaridade, futilidade, desrespeito à segurança e a dignidade humana. E o palco é a Câmara Federal, em Brasília. Pasmem, o projeto mistura alhos com bugalhos e tentaria dar segurança a uma parte dos milhares de passageiros de ônibus urbanos, relegando outra parte ao Deus dará, ao infortúnio que lhes cabe no latifúndio do injusto transporte público brasileiro.
Se por um lado, a lei diz que é obrigatório o uso de cintos de segurança em veículos, mas, porém, todavia, contudo, entretanto, uma exceção foi colocada para salvar a legislação diz: onde se é permitido viajar em pé, ou seja, nos malfadados ônibus urbanos, pode, está tudo liberado. E a questão segurança desce esgoto abaixo, num confronto à normal constitucional que declara igualdade entre os seres humanos em toda a nossa pátria.
E a justificativa é a mais estapafúrdia, explicando que se não for permitido passageiros em pé, o serviço seria caríssimo e impraticável, pois o número de veículos passaria para mais que o dobro. Pior, ainda, é que o motorista não poderia dar partida no veículo antes que o passageiro estivesse devidamente sentado. Também, o passageiro ao pedir para descer no ponto, somente poderia sair do assento, após a parada e a consequente retirada do cinto de segurança. Uma pérola, beira ao caos organizado.
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