:: 7/jan/2023 . 16:07
Governador Jerônimo Rodrigues se reúne com ministro Rui Costa para conversar sobre projetos e investimentos na Bahia
O governador Jerônimo Rodrigues realizou na manhã deste sábado (7) uma reunião com o ministro da Casa Civil da Presidência da República, Rui Costa, para dialogar sobre obras e investimentos na Bahia. O encontro é parte do trabalho de transição do governo e alinhamento de projetos do governo da Bahia com a esfera federal.
Jerônimo explicou que o diálogo com o ministro e ex-governador do estado, Rui Costa, tem sido constante. “Nós estamos tratando de projetos que estão prontos para serem entregues, ou aqueles em transição ou elaboração para entrar em licitação. Além daqueles que queremos pensar para o período de quatro anos”, relatou.
O ministro Rui Costa também levantou alguns dos projetos da sua gestão ainda como governador que estão em finalização e com datas próximas de entrega e deu uma prévia do diálogo com o governador e outros representantes do estado.
“Esses (projetos) foram apresentados para a Casa Civil do Governo Federal. Também falamos das prioridades do presidente Lula na área do saneamento; do (programa) Minha Casa, Minha Vida; de projetos estruturantes na área da educação, como a escola em tempo integral, e de investimentos na área da saúde. Ou seja, vendo o que ele já está elaborando e buscando esse alinhamento com os projetos federais”, frisou Rui.
Os gestores também conversaram sobre uma futura visita do presidente Lula à Bahia em entregas de obras no estado, como construções do programa Minha Casa, Minha Vida ou de escolas de ensino integral na Bahia.
Também estavam presentes no encontro, o vice-governador Geraldo Júnior; o presidente da Conder, José Trindade; e os secretários a serem nomeados, após desincompatibilização de cargos na Câmara Federal, Afonso Florence (Casa Civil) e Jusmari Oliveira (Sedur).
(Fotos: Antônio Queiros/GOVBA)
Encontro Literário com Natan Barreto e “Aqueles que não nos são estranhos”
O poeta Natan Barreto é o convidado da autora Mazé Torquato Chotil para falar sobre seu novo livro, um romance, “Aqueles que não nos são estranhos”, uma história de vida, de amor, de afetos e desafetos, de paixões, de procuras, de imigração…
Natan Barreto nasceu em Salvador, em 1966. É formado em Interpretação Teatral pela UniRio, Tradutor pelo Institute of Linguists e pedagogo pela London South Bank University. Vive em Londres desde 1992, onde trabalha como professor primário.
É autor de sete livros de poesia: Sob os telhados da noite (1999); Esconderijos em papéis (2007); Movimento imóvel (2016, Menção Honrosa da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro); Bichos: poesias desenhadas (2017); Um quintal e outros cantos (2018, Prêmio Sosígenes Costa de Poesia da Academia de Letras de Ilhéus); O ritmo da roda: poemas fotográficos (2019); e Alma, madeira oca (2021).
Publicou também Quase-sonhos & Traduzido da noite (2009), edição bilíngue (francês/português) – de poemas de Jean-Joseph Rabearivelo, escritor de Madagascar, tradutor, portanto; e a biografia Entre mangueiras: a vida de Eunice Palma (2011).
“Aqueles que não nos são estranhos” é seu primeiro romance
Pelé foi mais
André Maynart Cunha Alves
Pelé foi mais. Pelé foi mais do que foi nos campos; mais do que os 1200 gols que fez; mais do que suas 3 copas do mundo; mais do que suas 2 libertadores e seus 2 mundiais; Pelé foi mais do que seu 6 brasileiros; mais do que seus 144 gols contra europeus.
Pelé foi mais. Pelé foi mais do que inventar uma posição nova no futebol – a do 10 clássico, que passa e orquestra o ataque, dribla e humilha a defesa e chuta de longe ou de perto. Pelé foi mais que completíssimo: não se sabe até hoje qual é a perna forte dele, pois as duas levavam a bola ao gol certo; não se sabe se ele rendia mais como 9 – pois finalizava como os melhores centroavantes – ou como um 8 – pois passava como os melhores meias. Não se sabe qual é a caraterística principal dele: o cabeceio mortal; o chute certeiro ao ângulo; a agilidade e flexibilidade que o permitia driblar toda a zaga; os passes calculados em milímetros; a ousadia que o permitia fazer um chapéu dentro da área e chutar para o gol numa final de Copa do Mundo (numa final de Copa do Mundo!); a inteligência que o fazia tentar sempre a melhor jogada possível; a velocidade comparável a um atleta olímpico – 100 metros em 11 segundos! – e a força para peitar os zagueiros com toda sua altura e sua fisicalidade.
Mas Pelé foi mais que isso. Foi mais que a execução perfeita em qualquer área – se ele tentava, ele acertava mais cedo ou mais tarde. Se ele fosse goleiro, seria um paredão – como foi nas 3 vezes que jogou como goleiro, sem levar um único gol; se fosse zagueiro, pararia qualquer craque; se fosse lateral, seus cruzamentos seriam tão milimétricos quanto os passes que deu como 10; se fosse volante, não deixaria nenhuma bola chegar à área pelo meio; se fosse 9, seria mais letal do que já foi.
Mas Pelé foi mais do que a execução perfeita. Pelé, junto a Garrincha, criou a escola brasileira de futebol: o drible humilhante, o passe elegante, o chute no ângulo, o gol de placa, a ousadia na área, a alegria ao jogar. Zico, Sócrates, Ronaldo, Romário, Ronaldinho, Neymar – todos eles bebem da mesma fonte do jogo bonito. Pelé foi mais do que criar um país do futebol do zero para que este se torne o único pentacampeão, o único país que sempre foi representado por pelo menos um jogador em todo elenco campeão europeu nos últimos 20 anos.
Mas Pelé foi mais do que a tradição brasileira. Antes mesmo de jogar uma Copa do Mundo, aos 17 anos (!) já era chamado de rei. Sua presença gerava feriados e parava a multidão nos centros das cidades. Todo time – europeu, americano, africano, asiático – queria jogar contra o Santos do Rei (mesmo que o resultado fosse medido em dezenas de gols). Todo atleta que teve o desafio de jogar contra Sua Majestade não pode deixá-lo de colocar no topo do pódio. Quem o viu nunca mais viu nada igual – talvez parecido, mas nada igual. Quando foi à uma Nigéria em guerra civil, não houve guerra civil até que ele jogasse uma partida e deixasse o país.
Mas Pelé foi mais que a fama.
Pelé mostrou que um jogador negro podia ser muito mais que força e velocidade – como acreditavam, e ainda acreditam os europeus, mas também técnica e inteligência; logo, que um negro era mais do que seu físico. Mostrou que esses mesmos europeus podiam se render no campo e fora dele ao terceiro mundo; logo, que nós não devemos nada a eles. Mostrou que um negro podia usar a mesma coroa que os reis brancos usam, e ser mais reverenciado que eles; logo, que um negro podia não só ser igual, mas superior a um branco na sua área de atuação.
Pelé foi um símbolo. Pelé foi o brasileiro, o sul americano, o menino do terceiro mundo que dominou o primeiro mundo; o primeiro negro a deixar o anonimato dos suburbios e guetos, das colônias e dos países recém independentes para se tornar o primeiro ídolo negro mundial.
Pelé foi inspiração. Mostrou que um negro, um sul americano poderia estampar a capa de todos os jornais de todo o mundo. Que os negros não precisam competir apenas para jogar de igual pra igual, dignamente com os brancos. Não, um negro pode superá-los. Ganhar de goleada, não só empatar. Podia ser mais que respeitado, mais que admirado, podia ser venerado. Podia ser hors concour: tão superior que não se compara com outros.
Pelé foi mais que futebol. Muito mais.
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André Maynart Cunha Alves, tem 18 anos e é apaixonado por futebol
Rampa dos Invisíveis
Por Cláudio Renato Passavante
Uma catadora de papel, um jovem com paralisia cerebral, um metalúrgico, um estudante preto de dez anos, um professor, uma cadela e o Cacique Raoni subiram a rampa do Planalto com o presidente Lula e a Janja
Aline, a catadora, vestiu-se com a roupa de domingo, a que ela tem de melhor,, para colocar a faixa presidencial no torso do maior líder popular do século
No fim da cerimônia, com pérolas de lágrimas no olhar, Aline disse que ali estavam representados os invisíveis
Quase ninguém viu quando o Aleijadinho chegou, braços entrelaçados com os de Oscar Niemeyer e Carlos Drummond de Andrade, admirados do mar vermelho, o oceano pacífico das gentes.
O almirante João Cândido e o marechal Rondon perfilaram diante dos Dragões da Independência. Continências devidas.
Abraçados a Raoni estavam Sepé Tiaraju, Chico Mendes, Bruno Pereira e Darcy Ribeiro, que, embriagado de felicidade e êxtase, gritava; “Assim, eu morro!”
Grande Otelo e Joãosinho Trinta caíam numa gostosa gargalhada!
Noel Rosa, Pixinguinha, Ismael Silva, Cartola, Ary Barroso e Dorival Caymmi, em uníssono, proclamavam o que a baiana tem…
Carmen Miranda, por sororidade, preferiu seguir a Janja, ao lado de Chiquinha Gonzaga, Clementina de Jesus, Gal Costa. Ruth de Souza e Leila Diniz. Cantavam Coqueiro Verde, do Erasmo Carlos, na maior animação
Pelé, Garrincha, Vinicius e Aldir Blanc, com a fantasia do Cacique tentavam romper o mau-humor do Graciliano Ramos, que só riu quando Jorge Amado lhe fez cócegas na barriga.
Brizola, Jango e Getúlio preferiram cavaquear perto do Lula, que percebeu a presença dos profetas Gilberto Freyre e do Nelson Rodrigues e lhes soprou nos ouvidos: “Vocês são foda!”
Quando Aline passou a faixa no pescoço do Lula, foi ajudada pela mão invisível de dona Lindu e percebeu que a Marisa lhe ajeitava, carinhosamente, o colarinho.
Olhou para baixo, viu um menino lourinho de sete anos, sorridente e orgulhoso, dizer:
– Parabéns, meu avô!
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