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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

abril 2020
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Ruy Póvoas, um pai, um acadêmico, uma instituição sulbaiana

Efson Lima

 

efson limaTive a oportunidade, em 2013, de ser destacado para oferecer suporte jurídico a uma equipe da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, que estava cuidando de um edital, que mais tarde seria conhecido por Edital de Matriz Africana no contexto da economia solidária.  Foi uma oportunidade ímpar para voltar ao Sul da Bahia, agora, como profissional formado, melhor ainda encontrar os povos de terreiros com suas diversas lideranças entre elas, um pai, um acadêmico – Ruy Póvoas, constituindo-se em uma autoridade e responsável por colaborar com parte da identidade sul baiana.

 

Ruy Póvoas, generosamente e de forma acolhedora, abriu a porta do Terreiro Ilê Axé Ijexá Orixá Olufon, para nos receber, cuja sugestão de local para reunião partiu do professor Wenceslau Júnior. Abençoada sugestão. Foi uma rica escuta com várias pessoas presentes. Para além de nos receber, Pai Ruy exalava seu sorriso e a simplicidade, mesmo com sua vasta formação e tradição, ouvia atentamente aquelas pessoas que mal balbuciavam. Eu era uma delas.

 

rpovoasCertamente discorrer sobre a identidade sul baiana vem à nossa memória a figura humana Ruy Póvoas, que há mais de cinquenta anos, tem fincado contribuições para o pensamento sul baiano no fazer educacional. Não obstante, de forma significativa tem contribuído para a consolidação da religião de matriz africana, assim como buscado a proteção do direito de cada um professar a sua fé, cuja recompensa não podemos oferecer. Estes aportes possibilitaram que grupos se organizassem e defendessem seus valores, permitiu o culto ao sagrado e que as pessoas pudessem apresentar a sua identidade.

 

É perceptível que o professor Ruy Póvoas se municiou de uma das maiores arma – a sabedoria, aquilo que a academia, por vezes, prefere chamar de educação/escolarização, guardadas suas devidas particularidades. Sendo assim, ainda na década de setenta (1972) pela Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna concluiu a Graduação em Letras, posteriormente, cursou mestrado em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, titulando-se em 1983. No mestrado com sua dissertação fincava ainda mais seus estudos sobre o candomblé cuja dissertação teve o seguinte título: “A Linguagem do Candomblé: níveis sócio-lingúísticos de integração afro-portuguesa.”

r p 2Há um ditado que “o bom filho a casa torna”, assim sendo, Ruy Póvoas ingressou na Federação de Escolas Superiores de Ilhéus -Itabuna (FESPI) em 1975 como professor, posteriormente, alcançando a fase da estadualização e a formação do núcleo mais pujante de intelectuais sul baianos – a UESC. A presença do professor Ruy Póvoas não é simplesmente mais uma, não poderia ser. Oferece brilho e perspectivas ao ensino superior baiano. Ele permite repensar o lugar da matriz africana na universidade, o escopo do candomblé e do sagrado sob a ótica do afro-brasileiro. Reveste-se da pesquisa e inova ao criar com outros pesquisadores o Kàwé – Núcleo de Estudos Afro-Baianos Regionais.  Não é para ser um locus fechado, abre-se com revistas, cadernos, encontros, seminários, cursos entre outros.  O Núcleo colabora para o debate das ações afirmativas. É espaço vivo! Como são os terreiros e os povos de matriz africana. O professor Ruy Póvoas vivencia e constrói a Universidade, ocupando  diversas funções administrativas. Com toda essa trajetória, a UESC lhe conferiu o título de doutor honoris causa.

 

A produção intelectual é considerável, são diversas obras de sua autoria, entre elas:  “A memória do feminino no candomblé: tecelagem e padronização do tecido social do povo de terreiro”, Editus, 2010; “Da porteira para fora: mundo de preto em terra de branco”, Editus, 2007; “Itan de boca a ouvido, Editus”, 2004; “VersoREverso”, Editus, 2003; “A fala do santo”, Editus, 2002; “Itan dos mais velhos”, Salvador: BDA, 1996; “A linguagem do candomblé: níveis sociolinguísticos da integração afro-portugues”, Rio de Janeiro: José Olympio, 1989; “Vocabulário da Paixão”, Editus, 1988. O professor Ruy pode até ter parado de atualizar o blog do pesquisador, o Currículo Lattes, mas não deixou de escrever, como bem atesta o site da Editus e a professora  Maria Luísa Nora, que escreveu “A OBRA DE RUY PÓVOAS: PERCURSO EDITORIAL” oferecendo um vasto panorama das obas do professor Ruy Póvoas.

 

O professor Ruy também lecionou na educação básica baiana. Certamente é encantador e prazeroso estudar com a fonte ainda no ensino médio. São exemplos que devem ser arrastados.  O pensar, o fazer, o praticar  e o dialogar são privilégios para poucos ainda mais com uma fonte sábia. Talvez, aqui, esteja uma prática de uma educação pública transformada.

 

Toda essa construção o levaria à Academia de Letras de Ilhéus (ALI), possibilitando a circular na sua cidade natal, cuja cidade mãe não abandona seus filhos,  mesmo quando se tornam pais. Muito menos os adotivos. Ela não cobra tributos afetivos mesmo depois de ter convivido 28 anos na Princesa do Sul.  Na  ALI, em 1990, passou a ocupar a cadeira 18, sucedendo o  acadêmico Antônio Francisco Lavigne de Lemos. Com as vênias ao seleto grupo de imortais da ALI,  salvo outro juízo, a imortalidade de Ruy Póvoas já decorria da sua vasta contribuição intelectual. O espirito ativo de construtor o levou a fazer parte da Academia de Letras de Itabuna, ocupando a cadeira 13, na condição de membro fundador.

Pai Ruy Póvoas fundou o Ilê Axé Ijexá, terreiro de origem nagô, em Itabuna, desde 1975, liderando-o. O terreiro de Ijexá é uma área que possibilita o culto das entidades espirituais, mas não só isto, é referência que ultrapassa os horizontes da Bahia.

Portanto, estamos diante de um pai, de um acadêmico, mas cujas qualidades reunidas permitem assegurar que é uma instituição sul baiana. A legitimidade para assim considerarmos advém da sua pluralidade e versatilidade nos diferentes saberes: acadêmico, artístico, científico, literário, filosófico e da cultura tradicional. Todo este saber está a serviço da humanidade, da inclusão e da convivência pacífica entre os povos. A sua voz foi melodia naquele ano de 2013, que ainda ouço.

 

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 Efson Lima  é Doutor, mestre e Bacharel em Direito/UFBA. Professor e Coordenador -geral da Pós-graduação. Pesquisa e Extensão da Faculdade 2 de Julho. Das terras de Itapé/Ilhéus.

1 resposta para “Ruy Póvoas, um pai, um acadêmico, uma instituição sulbaiana”

  • Alderacy Pereira da Silva Junior says:

    Parabéns, nobre ensaísta e acadêmico Efson Lima: Li seu escrito com interesse e volúpia. Você tem vocação para escrever biografias. Reconheço, então, esse perfil com traços biograficos e comentários elegantes próprios do biografado e biógrafo. Afetuosamente,
    Alderacy Pereira
    Jornalista MTB 5341-BA
    Consultor Literário
    Coordenador da Sala de Leitura Ruy do Carmo Póvoas

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