SODOMA, GOMORRA E CAMORRA
O Congresso Nacional brasileiro a cada dia se parece mais com Sodoma e Gomorra, as célebres cidades bíblicas em que todas as perversões e todas as depravações eram permitidas.
Até que Deus se cansou e, num dia especialmente mau humorado, despejou sua santa ira sobre os pecadores inveterados, reduzindo a todos a pó e a sal.
Como uma versão moderna e ampliada de Sodoma e Gomorra, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados, são palcos dos mais diversos pecados, que vão do nepotismo ao desvio de recursos públicos, passando pela contratação de empresas fantasmas, farra com passagens aéreas, empréstimos camaradas, recebimento de verbas ilegais e uma ´fila de etcéteras´.
No momento, o presidente do Senado, José Sarney, se apresenta como uma espécie de compêndio de desvios de conduta, capazes de transformar os moradores de Sodoma e Gomorra não em pacotes ou saches de sal, mas em anjos querubins, puros e castos.
Sarney, é bom que se diga, não é uma ´avis rara´ na fauna política. Há muitos outros de sua estirpe, alguns expostos momentaneamente aos holofotes, outros agindo na penumbra.
E quase todos desfrutando da sacrossanta impunidade.
É nessa imensa Sodoma e Gomorra que surge a versão brasileira da Camorra, o que pode até ser uma rima, mas nem de longe é uma solução.
A Camorra e as demais máfias brotadas na Itália e espalhadas mundo afora, tem alguns códigos de honra que as tornam temidas e perigosas a quem ousa enfrentá-la.
O seu nada ortodoxo ´modus operandi´ inclui a chantagem e a intimidação, tanto para suas operações quando para a proteção de seus membros. Romper a Omertà equivale a assinar um estado de óbito.
E é justamente esse espírito digno da Máfia que impera no Senado, por conta da agonia de José Sarney na presidência da Casa (da Mãe Joana?), a cada dia a alvejado por uma nova denuncia. A execração de Sarney coincide com a entrada em cena da tropa de choque de seu partido, o PMDB, antigo bastião de resistência à Ditadura Militar, mas que com a redemocratização do Brasil tornou um ícone do fisiologismo e do apego aos cargos públicos e suas vantagens.
Com a maior desenvoltura, a tropa de choque comandada por esse baluarte que atende pelo nome de Renan Calheiros, vem distribuindo ameaças a todos os que ousam pedir a cabeça de José Sarney, no melhor estilo ´se ele cair, cai um monte de gente junto”, com a mensagem subliminar: “a gente sabe os podres de todo mundo”.
Salvo um ou outro imune os pecadilhos e ao espírito de corpo, a tática vem funcionando. Quase sempre funciona nesse, perdão, surubão da indecência em que se transformou a atividade política.
Fato é que, neste misto de Sodoma e Gomorra com pitadas de Camorra, caso Deus tivesse um novo acesso de divina fúria e despejasse castigo idêntico ao Congresso Nacional, a produção brasileira de sal seria quintuplicada.
O produto em questão, como a piada, seria de má qualidade, reconhecemos.
Em sendo assim, melhor que esperar pelo improvável castigo divino e por uma ainda mais improvável punição para os maus políticos, é usar uma arma menos letal, porém eficiente: o voto.
A não renovação do mandato, essa sim, é o verdadeiro inferno para quem se acostumou aos céus da mordomia e do vale tudo.
Alguns iriam preferir virar sal.