GORILAS, BANANAS, JAULA ABERTA
Durante pelo menos sete décadas do século passado, países da América Central como Honduras, Nicarágua, El Salvador, Panamá e Guatemala eram uma espécie de fazenda multinacional da célebre United Fruit Company.
Foi daí que surgiu a expressão “República de Bananas”. Pejorativa ela classificava os países que tinham governantes fantoches, patrocinados e defensores dos interesses da companhia ianque produtora de frutas. Quando se elegia um presidente com visão socialista e disposto a combater a exploração dos trabalhadores, eram perpetrados golpes de estado, com dinheiro dos americanos e o proverbial apoio logístico da CIA.
Foi assim em praticamente todos os países na América Central, em que governos democraticamente eleitos eram derrubados por golpes militares e passavam a ser controlados com mão de ferro pelos chamados gorilas, expressão igualmente pejorativa para designar o estilo truculento dos fardados.
Os gorilas cuidavam das repúblicas bananeiras, com as bênçãos dos EUA, especialmente no auge da Guerra Fria, quando a ameaça do comunismo foi convenientemente superdimensionada. A instalação de um governo socialista em Cuba, com sucessivas (e fracassadas) tentativas de golpes engendrados pela CIA com o objetivo de eliminar Fidel Castro; fortaleceu a presença dos gorilas na América Central.
Diga-se de passagem, que o “gorilismo” não se restringiu às repúblicas bananeiras da América Central. O golpismo bancado e financiado pelos EUA se espalhou feito praga pela América do Sul: Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Paraguai…
O regime dos gorilas, especialmente no Brasil, Argentina e Chile produziu milhares de assassinatos nos porões da ditadura e a tortura foi institucionalizada. Foram anos de chumbo, terror e a supressão das liberdades democráticas, transformando “nuestra América” numa imensa republiqueta bananeira.
O muro de Berlim desabou, a ameaça do comunismo desapareceu, a Guerra Fria perdeu o sentido e, à custa de lutas e sacrifícios, os ventos da redemocratização varreram o continente, unindo os extremos, do Rio Grande no México ao Rio Prata na Argentina. A maior parte dos gorilas foi mandada de volta aos quartéis e, desse frescor democrático, foram eleitos presidentes forjados na luta incansável contra a ditadura.
Exemplo maior dessa tendência foi a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-retirante nordestino e ex-operário metalúrgico, que apesar de mal ter concluído o ensino médio, está promovendo uma revolução social (não necessariamente socialista) no Brasil, permitindo que milhões de pessoas rompam a barreira da exclusão social.
Mas, quando se pensa que os gorilas caíram em desuso ou viraram peça de museu, nos deparamos com esse absurdo e inaceitável golpe militar que derrubou o presidente de Honduras, Manuel Zelaya.
Um verdadeiro atentado à democracia, tirando pela força das armas um presidente eleito pelo voto popular.
Em nível mundial, a importância de Honduras é praticamente nula, um país pobre, perdido em meio a uma América Central exaurida após séculos de exploração de suas riquezas naturais.
É preciso, entretanto, que o mundo não feche os olhos para o que está acontecendo por lá e faça valer todos os meios disponíveis para garantir a volta de Manuel Zelaya e a restauração da democracia.
Não é nada, não é nada, mas de jaula que sai um gorila, sai a macacada toda.
E esse filme não vale a pena ver (nem viver) de novo.
Muito bom este artigo. É importante que todos os brasileiros tenham presente que isto que hoje vive Honduras também já foi vivido pelos brasileiros e que não tenham ilusão com canto de sereias golpistas que começam a aparecer na arena internacional.
A democracia sempre é melhor que qualquer ditadura…
Luiz Fenelon