:: jul/2009
SODOMA, GOMORRA E CAMORRA
O Congresso Nacional brasileiro a cada dia se parece mais com Sodoma e Gomorra, as célebres cidades bíblicas em que todas as perversões e todas as depravações eram permitidas.
Até que Deus se cansou e, num dia especialmente mau humorado, despejou sua santa ira sobre os pecadores inveterados, reduzindo a todos a pó e a sal.
Como uma versão moderna e ampliada de Sodoma e Gomorra, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados, são palcos dos mais diversos pecados, que vão do nepotismo ao desvio de recursos públicos, passando pela contratação de empresas fantasmas, farra com passagens aéreas, empréstimos camaradas, recebimento de verbas ilegais e uma ´fila de etcéteras´.
No momento, o presidente do Senado, José Sarney, se apresenta como uma espécie de compêndio de desvios de conduta, capazes de transformar os moradores de Sodoma e Gomorra não em pacotes ou saches de sal, mas em anjos querubins, puros e castos.
Sarney, é bom que se diga, não é uma ´avis rara´ na fauna política. Há muitos outros de sua estirpe, alguns expostos momentaneamente aos holofotes, outros agindo na penumbra.
E quase todos desfrutando da sacrossanta impunidade.
É nessa imensa Sodoma e Gomorra que surge a versão brasileira da Camorra, o que pode até ser uma rima, mas nem de longe é uma solução.
A Camorra e as demais máfias brotadas na Itália e espalhadas mundo afora, tem alguns códigos de honra que as tornam temidas e perigosas a quem ousa enfrentá-la.
O seu nada ortodoxo ´modus operandi´ inclui a chantagem e a intimidação, tanto para suas operações quando para a proteção de seus membros. Romper a Omertà equivale a assinar um estado de óbito.
E é justamente esse espírito digno da Máfia que impera no Senado, por conta da agonia de José Sarney na presidência da Casa (da Mãe Joana?), a cada dia a alvejado por uma nova denuncia. A execração de Sarney coincide com a entrada em cena da tropa de choque de seu partido, o PMDB, antigo bastião de resistência à Ditadura Militar, mas que com a redemocratização do Brasil tornou um ícone do fisiologismo e do apego aos cargos públicos e suas vantagens.
Com a maior desenvoltura, a tropa de choque comandada por esse baluarte que atende pelo nome de Renan Calheiros, vem distribuindo ameaças a todos os que ousam pedir a cabeça de José Sarney, no melhor estilo ´se ele cair, cai um monte de gente junto”, com a mensagem subliminar: “a gente sabe os podres de todo mundo”.
Salvo um ou outro imune os pecadilhos e ao espírito de corpo, a tática vem funcionando. Quase sempre funciona nesse, perdão, surubão da indecência em que se transformou a atividade política.
Fato é que, neste misto de Sodoma e Gomorra com pitadas de Camorra, caso Deus tivesse um novo acesso de divina fúria e despejasse castigo idêntico ao Congresso Nacional, a produção brasileira de sal seria quintuplicada.
O produto em questão, como a piada, seria de má qualidade, reconhecemos.
Em sendo assim, melhor que esperar pelo improvável castigo divino e por uma ainda mais improvável punição para os maus políticos, é usar uma arma menos letal, porém eficiente: o voto.
A não renovação do mandato, essa sim, é o verdadeiro inferno para quem se acostumou aos céus da mordomia e do vale tudo.
Alguns iriam preferir virar sal.
JOGO DE GOLFE
Moisés, Jesus e um velhinho estavam jogando golfe.
Moisés deu sua tacada e a bolinha caiu no lago. Ele foi lá, separou as águas e deu outra tacada. A bolinha caiu a 10 centímetros do buraco.
Jesus deu a tacada. A bolinha caiu no lago. Ele foi lá, andou sobre as águas e deu outra tacada. A bolinha caiu a 5 centímetros do buraco.
Foi a vez do velhinho dar a tacada. A bolinha caiu no lago. Um peixe soprou a bolinha que foi parar no bico de um passarinho que voava sobre o lago. Veio uma águia e bicou o passarinho que soltou a bolinha, que caiu na grama. Aí veio um coelho que rolou com a bolinha e ela foi cair justamente dentro do buraco.
Aí, Moisés não se conteve:
-Pô, Jesus, jogar golfe com o seu Pai é fogo!!!!!!
DOR NA ´PRÓSTA´
Se tem uma coisa de que político não consegue se livrar é pedinte. Com mandato ou sem mandato, sempre tem aquele grupinho manjado que pede quando precisa e também quando não precisa.
E haja criatividade na hora de descolar algum!
Certa feita, acompanhando o então prefeito de Itabuna e hoje deputado federal Geraldo Simões numa visita ao bairro Maria Pinheiro, pude presenciar uma cena inusitada.
Uma senhora, nos seus sofridos cinqüenta e poucos anos, encostou em Geraldo e pediu, na maior seriedade.
-Ô seu prefeito, me dê uma ajuda pra comprar um remédio, que eu não tô me agüentando de dor na ´prósta´…
Foi isso mesmo que você entendeu: dor na próstata!
Refeito do susto, Geraldo sacou 20 reais do bolso, entregou à mulher e ainda disse:
-Depois me diga se a senhora melhorou, para eu não ficar preocupado…
Da ´prósta´ ela deve ter melhorado, porque a nova abordagem, poucos dias depois, foi menos prosaica. Dessa vez, a ajuda era para comprar um botijão de gás, pagar a conta de luz ou algo assim.
OBINA É MELHOR QUE…OBINA!
Obina pode não ser melhor do que Eto´o, mas é está mostrando que é melhor do que…Obina!
Isso mesmo. No futebol paulista, jogando pelo Palmeiras, o atacante revelado pelo Vitória está deixando de ser uma piada carioca, uma caricatura de si mesmo, e se mostrando um atacante eficiente, com ganas de artilheiro.
No domingo, ´matou´ o Corinthians e ofuscou Ronaldo, que é bom dizer, é melhor que um caminhão lotado de Obinas e Eto´os.
Piada mesmo é o futebol jogado por alguns times do Rio…
ITABUNA
No princípio era um rio, às vezes caudaloso, às vezes sereno, em seu caminho inexorável rumo ao mar; rasgando a natureza exuberante e cortando a mata que já recebia um fruto que durante décadas muitos acreditaram ser de ouro.
E tinham motivos de sobra para isso.
Às margens desse rio, que em alguns de seus trechos mais parecia uma cachoeira, surgiu um amontoado de casas modestas.
Que se transformaram num povoado, depois numa vila, depois numa cidade, depois numa metrópole…
Itabuna!
99 anos de história a partir de sua emancipação de Ilhéus.
Uma historia que começou antes mesmo da emancipação, com os desbravadores, que com coragem, sacrifício e espírito empreendedor construíram as bases de uma cidade única em sua capacidade de superar crises, de se redescobrir.
Se Itabuna pudesse escolher a marca que a caracterizasse, essa marca seria indubitavelmente o empreendedorismo.
Geração após geração, Itabuna produz pessoas com dinamismo suficiente para mantê-la como uma das principais cidades da Bahia e do Nordeste, um pólo econômico em que gravita no seu entorno quase uma centena de municípios.
A Itabuna que um dia foi a Capital do Cacau, abateu-se com a decadência do fruto que perdeu o brilho, mas se reinventou como pólo comercial e prestador de serviços e se firmou como referencial na saúde, no ensino superior.
Itabuna que pulsa, que vibra.
Cidade aberta, que trata com o mesmo carinho seus filhos e os filhos que se deixaram adotar por ela.
Cidade de gente que celebra a vida, nos bares lotados, na conversa despretensiosa, nas madrugadas boêmias.
Cidade do shopping, que lhe deu ares cosmopolitas; dos prédios que avançam aos céus, como que mostrando a sua capacidade de romper limites, de sonhar sempre, de ousar.
Itabuna de tantos nomes, que misturaram suas histórias de vida com a História de uma cidade viva.
Itabuna, dos problemas que não podem ser ignorados, com sua periferia pobre e desassistida, dos milhares de excluídos sociais, dos governantes sem compromisso com a cidade.
Mas, uma Itabuna infinitamente maior do que seus equívocos e seus problemas.
Uma Itabuna que nos orgulha, cidade-menina entrando na contagem regressiva de seu primeiro centenário.
Feito o rio que lhe viu nascer, ainda frágil e insegura, uma cidade que segue seu rumo inexorável rumo ao futuro que construímos a cada dia.
A nossa cidade.
Itabuna!
ATÉ QUE LULA NÃO OS SEPARE
Há cerca de duas semanas, as relações entre o PT e o PMDB na Bahia haviam atingido um nível tal de pressão que o rompimento parecia inevitável.
Fustigado pelo PMDB desde o início de seu governo, com a insistência de Geddel Vieira Lima em se lançar candidato a governador, Jaques Wagner rompeu o silêncio com que recebia as provocações e num rompante atípico para seu estilo conciliador, disse entre outras coisas que alianças existem enquanto são benéficas para todos e não apenas para uma das partes. Disse também que era ele, e não o PMDB, quem decidiria até onde iria a convivência entre os dois principais partidos da base aliada.
Foi uma clara alusão aos cargos ocupados pelo PMDB no governo estadual, dos secretariados aos escalões menores.
A resposta de Wagner, aliada à convicção com que Geddel defendia a candidatura própria do PMDB ao Governo do Estado (no caso, a própria candidatura) fez com que muita gente imaginasse que a separação era uma questão de horas.
Passaram-se as horas, os dias, as semanas e a crise de relacionamento discutida abertamente e ameaçando descambar para a troca de insultos, arrefeceu.
Desavenças, e elas permanecem, estão sendo discutidas intramuros ou sob os lençóis, longe dos holofotes e do falatório.
Nesse interregno, houve um elogio explícito do presidente Lula a Geddel Vieira Lima, durante um encontro com prefeitos de todo o País. O presidente, do alto de sua estratosférica popularidade e com a costumeira grandiloqüência, citou Geddel como um dos melhores ministros que já ocuparam a pasta da Integração Regional.
O elogio, que poderia fazer Geddel inflar e sair alardeando sua candidatura e ao mesmo tempo fazer Wagner trilhar os dentes de raiva, teve efeito contrário.
Nem Geddel fez foguetório, nem Wagner estrilou.
O que se viu dali em diante foi uma calmaria, alimentada por um ou outro comentário, do “eles vão acabar se entendendo” ao “não tem jeito, Dilma terá dois palanques na Bahia”. Mas, nada sem muita bconvicção.
Fica patente, embora em política o que se escreve hoje pode ter o mesmo valor de uma nota de três reais amanhã, é que Lula conseguiu serenar os ânimos entre petistas e peemedebistas na Bahia, que estão se dando mais uma chance (talvez a verdadeira) de discutir a relação e manter um casamento que será bom – e conveniente- para ambos.
Com o PMDB na base aliada, a reeleição de Wagner se torna uma tarefa menos árdua.
Eleitos Wagner governador e Geddel senador, o sonho do peemedebista de ocupar o Palácio de Ondina não será sepultado, apenas adiado. E será ainda mais possível do que caso ocorra um eventual retorno do carlismo ao poder.
Os casamentos na política, que costumam unir o improvável e mesmo o impossível, dispensam veleidades como amor e afeto. Exigem um certo nível de respeito e companheirismo, sem os quais descambam para a troca de sopapos.
É mais ou menos na base do “foi bom pra você também?”
Tendo o velho “Lulinha paz e amor” (ou “Lulinha por Dilma eu chamo até Collor e Sarney de meu bem”) como alcoviteiro, não se duvide que, entre tapas e beijos, prevaleçam os beijos.
Pelo menos até que uma outra eleição os separe…