:: 30/jun/2009 . 17:57
Bandido bom é bandido morto?
Para quem já teve o carro roubado, a casa arrombada, o celular levado de assalto, um filho ameaçado por traficantes ou, pior, um parente ou amigo brutalmente assassinado a resposta para a pergunta acima, que deve causar ojeriza aos defensores dos direitos humanos, é: sim!
Não é de se estranhar, portanto, que em meio ao foguetório junino e às comemorações da suada vitória do Brasil sobre os EUA pela Copa das Confederações, em alguns bairros da periferia de Itabuna a pirotecnia somou-se a euforia pela eliminação de alguns bandidos que aterrorizavam moradores, mortos em confronto com a polícia.
Deve ser mesmo um alívio para quem convive com a violência, respeitando a “lei do silêncio”, submetidos a um mal disfarçado toque de recolher e reclusos em suas residências enquanto os bandidos transitam e barbarizam livremente; saber que marginais foram eliminados pela polícia ou mesmo tombaram na guerra sangrenta entre eles próprios.
A periferia de Itabuna vive uma guerra sangrenta, potencializada pelo tráfico e consumo de drogas (uma coisa está atrelada a outra) e ampliada pela ausência dos serviços públicos, que faz da criminalidade o único caminho para dezenas, centenas de jovens.
Uma violência que, até pela necessidade de expansão, rompe os limites periféricos e chega ao centro da cidade, na forma de assaltos, arrombamentos e roubos de veículos. A cadeia produtiva do crime, que é se que pode chamar assim, não obedece a limites sociais ou geográficos.
Está em todas as partes. Aterroriza a todos, sem distinção.
A morte em série de marginais, como ocorreu neste final de semana em Itabuna, com cinco homicídios ligados aparentemente ao mundo do crime, passa a sensação de que a polícia está agindo com o necessário rigor e que tem que ser assim mesmo. Reforça-se aqui a tese do “bandido bom é bandido morto”.
Quando a violência excede todos os níveis do suportável, não se pode esperar mesmo que a policia trate com afagos e salamaleques bandidos que não hesitam em matar.
Mas, a questão não é tão simplória assim, como se matando em larga escala resolvesse o problema da violência. Está mais do que provado que não resolve. Violência gera violência, que gera mais violência, que gera ainda mais violência, num moto continuo banhando em sangue e dor.
Melhor seria se tivéssemos um sistema de segurança pública que efetivamente garantisse a segurança da população, com prevenção no lugar de repressão.
Melhor ainda seria se crianças, adolescentes e jovens tivessem acesso à educação, esporte e trabalho, oferecendo outra oportunidade de vida.
Em suma, matar a violência no gene, para depois não ter que matar gente.
Ninguém nasce bandido. E, é forçoso dizer, que muitos descambam para a criminalidade por conta de bandidos de alto calibre, que saqueiam os cofres públicos e desviam recursos que seriam destinados a quem precisa.
A resposta (ou a ausência dela) para a pergunta que abre esse texto talvez esteja na foto abaixo, de autoria de Oziel Aragão, publicada no Diário da Bahia.
A dor de um pai que chora diante da morte inevitável do filho, algoz e vitima dessa violência insana, fala mais do que mil palavras.
É a dor de todos aqueles que ainda acreditam (ou sonham?) com uma cidade menos violenta e onde não seja necessário chorar tantas e tantas mortes, sejam as vítimas anjos ou demônios.
Gol de placa de Ronaldinho Gaucho
Mesmo sem entrar em campo para disputar uma partida de futebol, Ronaldinho Gaucho marcou um gol de placa no último final de semana no Estádio Pituaçu em Salvador.
O instituto mantido pelo jogador para desenvolver programas de inclusão social através do esporte e da capacitação profissional, assinou um convênio com o Governo da Bahia, que vai atender cerca de duas mil crianças e adolescentes com idade entre 10 e 17 anos.
Trata-se de uma ação importante, que benefcia pessoas em situação de risco social, baixa escolaridade e dificuldades de acesso ao mercado de trabalho.
Ronaldinho Gaucho é o típico brasileiro que conseguiu romper a barreira da exclusão social e fez fama e fortuna graças ao seu talento com a bola.Titular absoluto da Seleção Brasileira durante vários anos, campeão Mundial em 2002, encantou os espanhóis do Barcelona e foi eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA.
O diferencial em relação a outros craques é que Ronaldinho jamais renegou ou esqueceu seu passado de dificuldades na periferia pobre de Porto Alegre.
E, tornando rico graças ao futebol, voltou suas atenções para crianças e adolescentes carentes, a espera de uma oportunidade para levar uma vida digna, longe das drogas e da marginalidade. Essa é a missão do Instituto Ronaldinho Gaucho, que tem na Bahia sua primeira experiência fora do Rio Grande do Sul.
Mais do que revelar talentos para o futebol, até porque esse não é o objetivo primordial, o convênio vai proporcionar a quase duas centenas de jovens o acesso à educação, prática esportiva e oportunidades de acesso a um mercado de trabalho cada vez mais disputado e exigente.
Os participantes do projeto, que já tinham Ronaldinho Gaucho como um ídolo no futebol, passam agora a apreciar um verdadeiro craque na solidariedade, que os ajudará a dar um drible no destino ingrato e descortinar uma nova vida.
Golaço!
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