DOIS FILMES PARA SEREM LIDOS
Sou daqueles para quem um bom livro dá de goleada num filme, por melhor que ele seja.
Mas existem filmes que dão gosto de ver, ainda mais quando têm livros como temas que interligam o roteiro.
Em assim sendo, dois filmes que assisti recentemente merecem recomendação deste leitor compulsivo e cinéfilo eventual.
Um é “O pequeno traidor”, ambientado na Palestina dos momentos que antecederam a criação do Estado de Israel. O holocausto nazista atrai judeus de toda a Europa à terra que eles julgam prometida por Deus (num acreditável lapso divino, Deus parece ter prometido a mesma terra aos palestinos, mas isso é outra história).
Ainda sob domínio inglês, o território é um autêntico barril de pólvora, com toque de recolher e prisões arbitrárias.
É nesse terreno em combustão que nasce a amizade improvável entre um menino judeu e um oficial inglês. Uma relação de conflito que reproduz no microcosmo a relação macro entre dominador e dominado, tão presente na história da humanidade.
É, também, uma celebração da amizade que começa e se solidifica através da leitura. As atuações de Ido Port, que interpreta o menino, e de Alfred Molina, que faz o oficial inglês são magistrais.
O outro filme é “O Leitor”, que abre e não consegue fechar as cicatrizes provocadas pela carnificina nazista. Tenta e propositadamente deixa sem explicar como um dos povos mais cultos do mundo se curvou à loucura sanguinária de um ditador de opereta.
O pano de fundo é uma história de paixão e sexo entre uma bilheteira de bonde, Hanna Schmidth, em atuação esplendorosa que valeu um Oscar a Kate Winslet, e Michael Berg, um adolescente de família conservadora.
Em meio à iniciação do garoto e a volúpia sexual de ambos, a bilheteira pede que o estudante leia livros para ela. E ele lê muito (e também trepa muito, mas as cenas de sexo passam longe da apelação), de Homero a Kant, passando pela literatura popular.
O tempo passa, a bilheteira some sem dar notícias, o estudante vira um jovem advogado e participa, como estagiário, de um julgamento por crimes de guerra. Entre as cinco mulheres acusadas de levar centenas de judeus à morte, está Hanna. Em meio à revelação dos horrores dos campos de concentração, surge a oportunidade de livrar Hanna de uma pena maior, justamente por conta da leitura, que se transforma no fio que une -também separa- Hanna e Michael.
Não vou contar o enredo todo, que tem duas horas e meia de duração e a gente nem percebe, porque perde a graça. Mas o filme, com uma fotografia de sonho na Alemanha do pós-guerra, é simplesmente imperdível.
“O pequeno traidor” e “O leitor” estão disponíveis nas melhores locadoras.
Algum maldoso ai achou que eu iria sugerir versão pirata?
Achou errado, camaradas, visto que sou um zeloso defensor da lei e da ordem. Mas, como Zé Sarney, às vezes eu minto um pouquinho…