:: 15/jun/2009 . 17:13
DOIS FILMES PARA SEREM LIDOS
Sou daqueles para quem um bom livro dá de goleada num filme, por melhor que ele seja.
Mas existem filmes que dão gosto de ver, ainda mais quando têm livros como temas que interligam o roteiro.
Em assim sendo, dois filmes que assisti recentemente merecem recomendação deste leitor compulsivo e cinéfilo eventual.
Um é “O pequeno traidor”, ambientado na Palestina dos momentos que antecederam a criação do Estado de Israel. O holocausto nazista atrai judeus de toda a Europa à terra que eles julgam prometida por Deus (num acreditável lapso divino, Deus parece ter prometido a mesma terra aos palestinos, mas isso é outra história).
Ainda sob domínio inglês, o território é um autêntico barril de pólvora, com toque de recolher e prisões arbitrárias.
É nesse terreno em combustão que nasce a amizade improvável entre um menino judeu e um oficial inglês. Uma relação de conflito que reproduz no microcosmo a relação macro entre dominador e dominado, tão presente na história da humanidade.
É, também, uma celebração da amizade que começa e se solidifica através da leitura. As atuações de Ido Port, que interpreta o menino, e de Alfred Molina, que faz o oficial inglês são magistrais.
O outro filme é “O Leitor”, que abre e não consegue fechar as cicatrizes provocadas pela carnificina nazista. Tenta e propositadamente deixa sem explicar como um dos povos mais cultos do mundo se curvou à loucura sanguinária de um ditador de opereta.
O pano de fundo é uma história de paixão e sexo entre uma bilheteira de bonde, Hanna Schmidth, em atuação esplendorosa que valeu um Oscar a Kate Winslet, e Michael Berg, um adolescente de família conservadora.
Em meio à iniciação do garoto e a volúpia sexual de ambos, a bilheteira pede que o estudante leia livros para ela. E ele lê muito (e também trepa muito, mas as cenas de sexo passam longe da apelação), de Homero a Kant, passando pela literatura popular.
O tempo passa, a bilheteira some sem dar notícias, o estudante vira um jovem advogado e participa, como estagiário, de um julgamento por crimes de guerra. Entre as cinco mulheres acusadas de levar centenas de judeus à morte, está Hanna. Em meio à revelação dos horrores dos campos de concentração, surge a oportunidade de livrar Hanna de uma pena maior, justamente por conta da leitura, que se transforma no fio que une -também separa- Hanna e Michael.
Não vou contar o enredo todo, que tem duas horas e meia de duração e a gente nem percebe, porque perde a graça. Mas o filme, com uma fotografia de sonho na Alemanha do pós-guerra, é simplesmente imperdível.
“O pequeno traidor” e “O leitor” estão disponíveis nas melhores locadoras.
Algum maldoso ai achou que eu iria sugerir versão pirata?
Achou errado, camaradas, visto que sou um zeloso defensor da lei e da ordem. Mas, como Zé Sarney, às vezes eu minto um pouquinho…
JORNALISMO: COM OU SEM DIPLOMA?
“Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) devem decidir nesta semana sobre a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista. O julgamento que deveria ter acontecido na semana passada foi adiado. Eles vão julgar recurso interposto pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal contra a obrigatoriedade do diploma. O relator do caso é o ministro Gilmar Mendes. Em novembro de 2006, o STF decidiu liminarmente pela garantia do exercício da atividade jornalística aos que já atuavam na profissão independentemente de registro no Ministério do Trabalho ou de diploma de curso superior na área”. (Folha de São Paulo)
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Bebi desta cachaça chamada jornalismo lá pelos idos de 1997 e nunca mais larguei. Não sou formado em Jornalismo, embora seja mais do que escolado em Jornalismo, se é que me entendem.
Nesse período, convivi e trabalhei com pessoas com e sem diploma.
Deu pra concluir com segurança que diploma não transforma ninguém em jornalista. Escrever é essencialmente talento, vocação.
Por outro lado, o curso superior fornece um embasamento teórico que, aliado à prática, contribui para o exercício da profissão.
Mas, descendo do muro: sou contra a exigência do diploma.
Não serão quatro anos de faculdade que farão alguém aprender a escrever com a clareza e a objetividade que o jornalismo exige.
No mais, como tudo na vida, essa é uma profissão que necessita acima de tudo de compromisso com a ética, visto qua a tal da imparcialidade é aleivosia.
E ética, infelizmente, não tem faculdade que ensine. Ou se tem, ou não tem.
Quando aos sindicatos (e escrevo aqui como quem foi durante anos membro da diretoria do Sindicato dos Jornalistas da Bahia), até entendo que eles defendam a exigência do diploma, mas fariam igualmente bem -ou melhor- caso se mobilizassem para que os cursos de graduação ofereçam condições concretas para uma formação adequada.
E essas condições inexistem na maioria das faculdades, inclusive as públicas.
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