:: maio/2009
INCITATUS E O ERRO ADMINISTRATIVO
Quando se acha que nada mais surpreende naquilo que a política tem de pior, dada a sucessão de escândalos e os incontáveis exemplos de má utilização dos recursos públicos, ainda é possível se indignar, mesmo que diante de um ato, digamos, menor diante da dimensão monstruosa das estripulias cometidas pelos nossos bravos representantes (isso mesmo: eles nãos representam, foram eleitos pelo sufrágio universal!).
Na última quinta-feira, dia 28, o presidente do Senado, José Sarney, conseguiu provocar aquela sensação que mistura nojo e incredulidade.
Flagrado recebendo auxílio-moradia, uma das incontáveis mordomias concedidas a senadores e deputados, mesmo tendo uma mansão luxuosa em Brasília, Sarney apareceu diante das câmeras de televisão para dizer que não pediu para receber o “mimo” e que -acreditem- não percebeu que esses recursos estavam sendo depositados em sua conta. Isso depois de ter negado receber tal auxílio e ser desmentido pelos fatos.
Recebeu sim e agora anuncia que vai devolver o dinheiro ganho ilegalmente, cerca de 3 mil e 800 reais por mês. Pediu desculpas com uma cara de pau merecedora de hectolitros de óleo de peroba e ficou por isso mesmo.
Sempre fica por isso mesmo.
Inacreditável Sarney, esse primor de desprendimento, que não percebe nem o dinheiro que cai na sua conta. Ou, por outra leitura, 3 mil e 800 reais é pouca coisa para ele.
José Sarney representa o secular coronelismo político que é uma marca da política brasileira. Controla o Maranhão com mão de ferro e paralelamente ao domínio da máquina estatal, construiu um patrimônio invejável.
Ícone da ditadura militar, o acaso deu-lhe a presidência da República após a redemocratização do Brasil. Foi um presidente de triste memória, virou senador pelo insignificante Amapá e, no melhor estilo PT de escolher aliados, quando parecia viver o ocaso político, ganhou a presidência do Senado no início do ano.
Sua posse foi como a abertura de uma porteira, ou da tampa de uma privada. Não passa uma semana sem que algo de errado brote das entranhas do Senado. Embora, é sempre bom repetir, sempre fica por isso mesmo.
Acabou o espetáculo de caradurismo?
Ainda não. Nunca acaba.
Flagrado Sarney e, justiça seja feita ele não está sozinho nisso, flagrados outros senadores recebendo auxílio-moradia sem precisar, veio a explicação do próprio Senado: tudo não passou de um erro administrativo.
Isso mesmo: um reles erro administrativo.
Seria o caso de rolar de rir. Mas, decididamente, não é esse o caso.
Não é mesmo.
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Reza a história que no ano 40 d.C., o imperador romano Caio César, o Calígula, nomeou seu cavalo, Incitatus, para o Senado Romano. Um Incitatus no Senado Brasileiro de hoje causaria menos estupor.
E sairia bem mais barato.
NEM TUDO NA VIDA (E NO ÔNIBUS) É PASSAGEIRO…
Há muito tempo que Itabuna e Ilhéus superaram barreiras geográficas e disputas paroquiais, quase provincianas.
As duas principais cidades do Sul da Bahia, que abrigam cerca de 600 mil habitantes, praticamente se completam.
Itabuna como pólo comercial, educacional, médico e prestador de serviços.
Ilhéus como pólo turístico e tecnológico, além de abrigar em seu território a Uesc e a Ceplac, que ficam no meio do caminho mas estão em território ilheense.
Portanto, nada mais natural que uma integração permanente e um fluxo constante de pessoas entre as duas cidades.
Pode até ser natural, mas de uns tempos para cá deixou de ser seguro.
Um trajeto de menos de trinta quilômetros, que se percorre em menos de meia hora, tornou-se arriscado por conta dos freqüentes assaltos a ônibus.
Isso mesmo: uma prosaica e rotineira viagem de ônibus tornou-se um risco.
As pessoas já viajam com medo, falando sobre assaltos que presenciaram.
O mais incrível é que nesse trecho existe um posto da polícia rodoviária, e uma base do TOR (Tático Ostensivo Rodoiviário), nem isso consegue inibir os bandidos.
Vez por outra a polícia realiza blitz, mas elas não esporádicas, não resolvem.
A insegurança que torna arriscada até uma simples ida a Ilhéus ou vice-versa é a mesma insegurança que torna rotineiros os assaltos, arrombamentos e assassinatos que nos colocam em meio ao fogo cruzado de uma terra sem lei e sem ordem.
Que faz o número de homicídios disparar, especialmente nos finais de semana em Itabuna, Ilhéus e em praticamente todas as cidades sulbaianas.
Se acrescentarmos aqui os assaltos aos coletivos que fazem as linhas urbanas de Ilhéus e Itabuna, cada vez mais freqüentes, temos a situação absurda em que o cidadão está perdendo até o sagrado direito e ir e vir.
Enquanto isso, por omissão das nossas autoridades, a bandidagem está aí, livre, leve e solta.
Como se vê, tudo na vida (e no ônibus) é passageiro.
Menos o motorista e o bandido.
Porque até o pobre do cobrador já se tornou uma espécie em extinção, dentro dessa selvageria que atende pelo nome de capitalismo.
(IN)FELIZ ANIVERSÁRIO
Se vivo estivesse, Manuel Leal, meu velho capo, estaria fazendo 79 anos nesta sexta-feira, dia 29 de maio.
Mas, vivo Manuel não está, visto que foi brutalmente assassinado em janeiro de 1998, num crime covarde e brutal.
Enquanto assassinos e mandantes comemoram a impunidade, a gente só tem a lamentar a falta que Leal faz.
VISTA NOTURNA, VIDA NOTURNA
A iluminação cênica a na Ponte Lomanto Junior, que liga o centro de Ilhéus ao Pontal e às praias do litoral sul, é um exemplo de que até uma simples intervenção urbana pode deixar a cidade mais bonita.
A vista noturna da Baia do Pontal, verdadeira maravilha da natureza, ganhou tons de cartão postal.
Pena, para os boêmios de plantão, que se ganha em vista noturna, a vida noturna de Ilhéus é tão animada quanto um convento de freirinhas enclausuradas.
Mas, que a ponte ficou lindona, ficou!!!
SHOW DO MILHÃO (DE MUDAS)
O governador Jaques Wagner acaba de incluir mais uma atividade em sua agenda em Ilhéus, que inclui o vôo inaugural da TRIP, entrega da reforme e iluminação da ponte Lomanto Junior e a assinatura das ordens de serviço para a construção do Aterro Sanitário e da sede do Departamento de Polícia Técnica (DPT).
Wagner fará também a entrega de um milhão de mudas de seringueira. A entrega beneficia três mil agricultores de 40 cidades do Baixo Sul, Sul e Extremo Sul da Bahia e faz parte do PAC do Cacau.
Dois agricultores receberão mudas das mãos do governador. A distribuição propriamente dita será coordenada pela Seagri.
ENFIM, O ATERRO SANITÁRIO DE ILHÉUS
A visita do governador Jaques Wagner a Ilhéus não se limitará ao vôo inaugural da TRIP e a entrega da ponte Lomanto Junior, reformada e iluminada.
O governador assina também a ordem de serviço para construção de um aterro sanitário em Ilhéus, pondo fim àquele horror que é o lixão do Cururupe, verdadeiro atentado à dignidade humana e ao meio-ambiente.
Meno male, como diriam os italianos.
VIVA O GORDO!
Se o Corinthians arriscou com Ronaldo e deu certo.
Se o Palmeiras resolveu ir na mesma linha e contratou Obina.
Entonces, se é para resolver a crônica falta de gols, o São Paulo bem que poderia contratar Jô Soares para atuar como atacante.
Os clubes paulistas, enfim, resolveram investir em contratações de peso. E bota peso nisso…
PROGRAMA DE INDIO
Em abril de 1997, o índio Galdino de Jesus, foi queimado vivo por adolescentes de classe média em Brasília. Na aldeia Paraguassu-Caramurú pataxó hã hã hãe em Pau Brasil, a morte de Galdino gerou um clima de revolta e indignação. O choro da mãe de Galdino, que não entendia como alguém poderia ter sido assassinado de maneira tão brutal, era o choro de um povo acostumado a ser massacrado e espoliado ao logo de séculos.
Galdino estava em Brasília lutando justamente pela demarcação de áreas reivindicadas pelos pataxós hã hã hãe em Pau Brasil. Até hoje, a Justiça ainda não resolveu a questão, que se arrasta há duas décadas.
No ano 2000, em Porto Seguro, bombas de gás lacrimogêneo, tiros com balas de borracha e cassetetes atingiram pessoas indefesas, numa bestialidade da Polícia Militar contra os índios pataxós de Coroa Vermelha, impedidos por barricadas de se deslocar até Porto Seguro, onde o presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Antonio Carlos Magalhães (que a época comandava o estado como se fosse uma Capitania) e uma comitiva de políticos e empresários comemoravam os 500 anos do Descobrimento.
Era uma festa, sem direito à contestação dos indígenas, que não aceitaram o papel de figurantes e, apoiados pelo movimento negro e pelos estudantes, decidiram mostrar ao mundo que o que as autoridades chamavam de descobrimento poderia ser entendido também como ocupação ou usurpação.
Naquela Coroa Vermelha em chamas, contrastando com a Porto Seguro em festa, retratava-se o fosse e o muro que separam o Brasil rico do Brasil dos milhões de excluídos. Os índios submetidos a pancadaria, eram o exemplo pronto e acabado da Casa Grande e Senzala.
A exemplo de Pau Brasil, embora as imagens da violência tivessem ganhado o mundo, pouca coisa mudou de lá para cá. Os índios de Coroa Vermelha continuam vivendo em condições subhumanas, “vendidos” aos turistas do Brasil e do Exterior como algo exótico. Nada diferente da sensação de quem visita um zoológico, com a considerável diferença de que ali se encontram seres humanos, legítimos donos de uma terra que era de seus ancestrais até a chegada dos portugueses e o início de uma história por demais conhecida.
A lembrança de Galdino e da pancadaria de Coroa Vermelha, vem a propósito por conta da pendenga judicial que está por se iniciar em Ilhéus com a decisão da Funai de reconhecer como sendo propriedade dos índios tupinambás uma área de 48 mil hectares, que envolve parte dos municípios de Ilhéus, Uma e Buerarema.
A se confirmar a demarcação, Olivença, com todo o seu complexo hoteleiro, além de pequenas propriedades rurais. O tema, como era de se esperar, está gerando controvérsias e debates acalorados.
Séculos atrás, os tupinambás foram vitimas de um massacre que, diz a lenda, cobriu de sangue o trecho de praia entre o Cururupe e Olivença. Quase foram extintos e hoje lutam para recuperar não apenas a terra que julgam lhes pertencer, mas a própria identidade.
Por envolver áreas urbanas e uma estrutura turística que é um dos esteios da frágil economia ilheense e também por envolver injustiças históricas, trata-se de uma situação em que interessa menos o conflito e mais o bom senso.
Há que se encontrar uma saída que evite prejuízos a milhares de pessoas e que ao mesmo permita aos tupinambás uma vida menos dura.
A melhor arma, nesse caso, é o diálogo.
De vítimas, essa história já está cheia demais.
ESCALA EM ILHÉUS
O governador Jaques Wagner aterrissa em Ilhéus na próxima quarta-feira, dia 27.
Literalmente.
Ele participa do vôo inaugural da linha Salvador-Ilhéus da companhia aérea TRIP, que passa a operar na cidade e em seguida acompanha a entrega da reforma da estrutura e do sistema de iluminação da ponte Lomanto Junior, que liga o centro ao Pontal e às praias do litoral sul.
A vinda a Ilhéus é mais uma escala do novo estilo de Wagner, que decidiu botar o pé na estrada (ou nos ares, quando for o caso), inaugurando obras e anunciando projetos em todos os cantos da Bahia.
Tudo a ver com 2010, já que apesar dos olhares gulosos de adversários e também de alguns aliados, Wagner se acha com todo o direito de ´sentar na janelinha´, como diria o famoso filósofo-futebolista, Romário.
A MULHER DA CAIXA DE CHICLETES
Vez por outra somos surpreendidos por notícias dando conta de que pessoas que cometeram pequenos delitos, cuja punição poderia ser transformada em prestação de serviços comunitários, permanecem encarceradas, como se fossem marginais de altíssima periculosidade.
A mais recente, e não necessariamente a última, demonstração de que a justiça nem sempre é justa envolve uma mulher de Sete Lagoas (Minas Gerais) que está presa desde 2007 por ter furtado caixas de chicletes de um supermercado. As caixas somavam juntas o “estratosférico” valor de R$ 98,80.
A mulher vai completar três anos na cadeia e um pedido de habeas corpus acaba de ser negado por Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) .
O fato de que a mais alta corte da justiça brasileira tenha que julgar um delito menor já é por si só um absurdo.
Absurdo maior é o ministro negar a soltura de uma pessoa presa por ter roubado caixas de chicletes, ainda que o magistrado tenha agido estritamente dentro da lei.
A lei, ora a lei!
Ela, que deveria ser igual para todos, é extremamente rigorosa com os ladrões de galinha (e de chicletes) e inacreditavelmente flexível com os que cometem grandes golpes, sejam eles mega-empresários, banqueiros ou políticos.
Casos dessa flexibilidade existem aos montes. Os chamados “tubarões” quando são presos, passam pouco tempo na cadeia, porque sempre aparece um proverbial habeas corpus que garante a liberdade e a impunidade.
Tudo dentro da lei, porque sempre existe uma filigrana, uma brechinha que permite aos grandes ladrões (porque na prática eles são isso mesmo, ladrões) evitarem o dissabor de uma temporada atrás das grades.
A lei, ora a lei!
Ágil para quem dispõe de bons advogados e de prestígio (ou das duas coisas juntas) ela é lenta para os pobres coitados que dependem da assistência judiciária gratuita e tem seus processos caminhando, quando caminham, a passos de tartaruga em meio à burocracia da justiça.
O que para os afortunados leva dias, ou às vezes poucas horas, para os desvalidos pode demorar anos.
No caso da mulher da caixa de chicletes, Marco Aurélio Melo baseou sua decisão de negar o pedido de hábeas corpus baseado no entendimento de que não se tratou de um furto famélico, ou seja, ela não roubou para saciar a fome.
Deveria valer também para aqueles que, ao saquear cofres públicos e aplicar grandes golpes no sistema financeiro (sempre absorvidos pelo governo), saciam a própria gula e condenam à fome milhares, milhões de pessoas que poderiam ser beneficiadas com os recursos desviados.
Mas, ai já entramos no campo da subjetividade.
Na frieza da lei, a mulher da caixa de chicletes e outros tantos ladrões de galinha vão continuar mofando atrás das grades, pelo fato de terem sido presos em flagrante delito.
Como é difícil pegar um larápio VIP com a mão na grana e a boca no cofre, eles continuarão respondendo os processos em liberdade, de recurso em recurso, até o julgamento final, que pode acontecer no Dia de São Nunca.
Nossa Justiça não é apenas cega, como também pode ser surda e muda.