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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: ‘professor Soane Nazaré’

Ilhéus, o meio ambiente e o professor Soane Nazaré

Efson Lima

efson limaAs notícias que partem de Ilhéus em relação ao meio ambiente não são animadoras. A prefeitura municipal, por meio de seu aparato institucionalizado, cortou algumas amendoeiras da Avenida Soares Lopes, cartão postal da Princesinha do Sul. As pessoas devem estar se perguntado por qual razão coloquei o professor Soane Nazaré nesse emaranhado. Seguimos. É para frente que andamos e é refletindo que podemos melhorar a nossa caminhada.

Não nos esqueçamos que a cidade de Ilhéus, com o maior litoral da Bahia, certamente, encontra dificuldades para ter nos parques, nas praças uma atenção especial das pessoas, mas isso é cultural e pode ser melhor orquestrado com a inclusão do debate das questões ambientais na vida social. A educação formal e não formal são caminhos para a preservação ambiental. Não é razoável comparar Ilhéus com Curitiba, cujos parques são tomados pelos curitibanos e seus visitantes ou estabelecer relação com Belo Horizonte, onde seus parques lotam nos fins de semana, mas é necessário construir outros percursos.

Estamos cientes de que cada cidade desenvolve seus hábitos mediante as suas necessidades e possibilidades. Entretanto, a cidade de Ilhéus precisa mediar uma educação ambiental permanente. Não é possível encontrar as praias e as praças sujas e a Avenida Soares Lopes, lindo cartão postal, maltratada e tendo as suas amendoeiras arrancadas e as maritacas expulsas, como se visitantes ingratas fossem.

ilheusPor sinal, as amendoeiras são largamente adotadas nas arborizações das cidades brasileiras. Para termos uma ideia, na cidade do Rio de Janeiro, a espécie amendoeira lidera a lista de árvores mais vistas na Cidade Maravilhosa; ela também lidera a lista da mais problemática. Entretanto, a sua retirada depois de um longo tempo exige um manejo adequado. A prefeitura de Ilhéus poderia ter feito, inclusive, dialogado com a população. Não basta fazer a previsão e o debate técnico entre os pares, precisa convencer os cidadãos da proposta. Houve falha no processo da comunicação. O velho Habermas está rindo.

Aqui, não é forçoso trazer à baila o professor Soane Nazaré, que ao lado de outros pioneiros, fundaram a Faculdade de Direito de Ilhéus, berço do processo educacional superior na região, cuja matriz educacional nos levou a Fespi e, consequentemente, a UESC. A região não precisa recorrer a experiências estrangeiras, ela tem na UESC um dos maiores centros de estudos sobre a questão ambiental no país com um Programa de Pós-graduação consolidadíssimo que aborda essa temática muito bem, o Prodema. Não me digam que prata da casa não faz milagre, pois, esse chavão não nos convence e não nos eleva enquanto nação grapiúna.

É também em Ilhéus, que durante um tempo tivemos a Universidade Livre do Mar e da Mata (MARAMATA) pujante, talvez, muitos dos jovens nem saibam da sua existência. Eu tive o prazer de ir para alguns seminários organizados pela instituição , talvez, uma das minhas primeiras “iniciações acadêmicas”, eu ainda estava no ensino médio. Simplesmente era um jovem do morro. Precisamente, do alto do Basílio, onde da minha casa via o Terreiro de Pai Pedro, um espaço tombado e que muitos ilheenses não sabem. Lá tem uma matinha. Os gaviões que fazem a festa.

A MARAMATA foi uma sacada do então prefeito Jabes Ribeiro e não poderia ter indicação melhor para dirigi-la no seu nascedouro senão o professor Soane Nazaré. Na caminhada pude observar algumas discussões sobre a famosa Agenda 21. Vi relembrar a Expedição do Príncipe Maximiliano numa perspectiva da preservação ambiental. Visitei o Museu do Mar. Pensava-se a sobrevivência do Rio Cachoeira. De imediato, a preservação do Rio Cachoeira interessa aos sul baianos e ainda mais aos Ilheenses, não podemos ter o rio como esgoto a chegar à Baía do Pontal. Portanto, relembrar e saudar o histórico do professor Soane é nossa obrigação. Ele foi à Faculdade de Direito da UFBA, formou-se e voltou à região do cacau para levar o ensino superior. Ele nos propiciou uma consciência crítica.

A cidade de Ilhéus foi abençoada pela natureza. Temos o Parque da Esperança. Temos rios, as praias nos embelezam com sua água; o patrimônio cultural integrante desse ambiente nos apresenta um Centro Histórico rico; as fazendas de cacau, uma parte mesmo que degradada pela crise do cacau, ainda guardam uma parte da Mata Atlântica. Temos que oferecer outro destino para a cidade de Ilhéus. Será que Ilhéus foi abençoada pela natureza e amaldiçoada pelos que nela nasceram, circulam, moram? Tenho certeza que não, pois, até hoje protesto quando ouço a música “Bye, Bye Brasil” de Chico Buarque, ousadamente, ele disse que pegou uma doença em Ilhéus. Só tem perdão devida à licença poética. Vamos concedê-lo, por favor. Mas deve pagar prenda.

A paisagem da Soares Lopes, apesar das significativas alterações, tem presente a ideia de ser uma “avenida parque” conforme sinalizado pelo então prefeito Ariston Cardoso por volta de 1975. Não obstante, na primeira gestão do prefeito Jabes Ribeiro foi apresentado um projeto de urbanização liderado pelo paisagista Roberto Burle Marx, entretanto, não foi finalizado. Posteriormente, no segundo mandato de Antônio Olímpio, a Avenida Soares Lopes teve suas obras finalizadas, permitindo a artéria ter a atual paisagem mesmo sofrendo modificações no projeto do paisagista.

maritacasPortanto, o prefeito Mário Alexandre tem o desafio de atuar para minimizar os impactos causados à cidade e a imagem, inclusive, a dele com essa destruição das amendoeiras e o sofrimento imposto as maritacas. No processo eleitoral deste ano, o tema ambiental estará na pauta com bastante intensidade. Ele precisa se cercar de propostas alvissareiras e plausíveis ao meio ambiente. Ele não pode se furtar a ouvir os engenheiros ambientais, biólogos e outros profissionais que costumam se encarregar do tema. É necessário convencer a população e continuar reposicionando a Maramata.

De fato, o professor Soane Nazaré não merecia qualquer associação com a retirada das amendoeiras em Ilhéus, mas foi uma oportunidade encontrada para reverenciar a quem devemos a nossa formação e a formatação do ideário de nação grapiúna. Soane Nazaré merece muito mais que o nome de um campus universitário. Por óbvio não é pouca coisa, mas costumamos esquecer quando não reverenciamos a memória. Ele ainda vivo, merece nossa atenção. Não é problema homenagear as pessoas vivas e que atuaram comprometidas com o progresso regional, o despropósito é cultuar quem não merece ou nada fez.

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Efson Lima – Doutor em Direito/Ufba. Professor universitário. Escritor. Advogado. Das terras grapiúnas.





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