:: ‘poema’
Perdão
Sione Porto
Nesta noite que abraça
O universo imenso
Aquela mágoa chorosa
Vem invadir o meu peito.
Amargo e triste destino
Que ainda me assombra
Se põe entre o céu e a terra
Com marcas de desespero.
São imagens que persistem
Pelo que te fiz sofrer,
Consumindo os meus dias,
Sem dar trégua ao meu viver.
Diz-me o que devo fazer
Para reverter esse mal
De forma definitiva
E acalmar meu coração.
Errei e sei que fui cega,
Mas hoje, tudo conspira
Para alívio de minha culpa,
Vim pedir o teu perdão!
Reminiscências
Sione Porto
No meu coração ardente,
Guardei teu amor maduro
Como pérolas de conchas
Que retirei do escuro.
No teu olhar apaixonado
De quimeras e desejos
Depositei meus segredos
Guardados dentro do peito.
Do nosso imenso amor
Frutificou a paixão
E bela noite de inverno
Ficou no meu coração.
Protegida em teus braços
E percorrendo as ruelas
Procuramos belos fados;
Os ouvimos em A SEVERA.
Lembro-me bem, meu amor
Do teu olhar carinhoso
Já repleto de saudade
Sofrendo com meu retorno.
Sob o som de calma música,
Com anjos “esvoaçantes”,
Vivemos prazeres mútuos,
E hoje estamos distantes.
Perdão
Sione Porto
Nesta noite que abraça
O universo imenso
Aquela magoa chorosa
Vem invadir meu peito.
Amargo e triste destino
Que ainda me assombra
Se põe entre o céu e a terra
Com marcas de desespero.
São imagens que persistem
Pelo que te fiz sofrer,
Consumindo os meus dias,
Sem dar trégua ao meu viver.
Diz-me o que devo fazer
Para reverter esse mal
De forma definitiva
E acalmar meu coração.
Errei e sei que fui cega,
Mas, hoje, tudo conspira.
Para alívio de minha culpa,
Vim pedir o teu perdão!
Reencontro
Sione Porto
Mágico reencontro no frio aeroporto;
Tu, a esperar-me de anorak vermelho,
Enquanto aflitos, meus olhos te buscavam
Através dos espelhos… desespero.
Teus olhos brilhantes me enxergaram,
Docemente e feliz me aproximei.
Com sorrisos repetidos e surpresos
Meus braços amorosos te apertavam.
Em Fátima, à noite, sinos badalavam,
E eu retraída, no frio que sufocava,
Em teu peito, feliz, me abrigava.
Naquela noite de inverno e silêncios,
Permiti percorrer-me suavemente,
E fiz-me tua sobre rosas e lençóis.
Segredos
Sione Porto
Pergunto-me onde deixei a minha vida.
Vão-se os dias, noites, meses e os anos,
As indiferenças perdidas.
E o meu canto perdido, onde deixei?
Como responder sobre a minha vida?
Se tudo é secreto, arredio,
Nada escrito nesta melancolia.
Os dias e as noites nada representam
Cada palavra dita soa apenas com miragens
Não sei onde estou ou onde ficarei,
Se tudo está morto.
Vejo tão somente silêncio,
Eternidade, sonhos, frio e nostalgias.
Não sei onde estou…
Simbolismo
Sione Porto
Ah! Quem dera poder dizer
… as coisas que eu desejo
nas trevas deste penar…
Palpita tanta melancolia
… que às vezes, por ironia,
dorme junto comigo… Dorme meu penar!
Zombam sombras estranhas
nos relâmpagos fantasmáticos
vestidos brancos, luzes funestas
… suspiros deléveis embriagados de dor!
Dorme sono insano
… noites vagas… vagas sobre o luar.
Pobre Rio Cachoeira
Sione Porto
Menina, vi o Rio Cachoeira,
Belo e veloz, descer
Em busca do mar
Com seu verde e ondas vertiginosas,
E brilhar perto das margens,
Nos fazendo encantar!
Então, comigo pensava,
Quão magnífico, ó Rio Cachoeira,
Cheio de vida e amplexos,
Trazendo cardumes nas redes,
Peixes se multiplicando,
Para os pobres, alimentarem.
Menina, vi o Rio Cachoeira
Banhando as lavadeiras,
Que, após lavarem roupas tão alvas
Entoando sonoros cantos ribeirinhos,
Saíam com suas trouxas na cabeça,
Nos fazendo sonhar e sonhar.
Hoje, procuro o Rio Cachoeira,
De tanta beleza de outrora,
Mas apenas vejo sujeira
Dentro e nos seus arredores.
Povoado de garças sorrateiras,
Que triste é o Rio Cachoeira!
Será que ninguém ver o seu penar?
Antes tão absoluto e majestoso,
A deslizar nas ondas fortes,
Na sólida terra grapiúna,
Que hoje geme e sangra,
Querendo se recuperar.
Bravo Rio Cachoeira,
Estrela brilhante
Daqueles que o amam.
Certamente uma voz
Falará mais alto para salvá-lo,
E, como aquele que não foge à luta, sobreviverá!
Sócrates e o cálice de cicuta
Kant e a demência, insana e bruta.
Heráclito pai da dialética, o obscuro desvairado
Aristóteles banido de Atenas, filósofo amaldiçoado.
Giordano Bruno ardendo nas chamas da fogueira
Maquiavel lambendo botas, vida traiçoeira.
Pessoa, morre solitário, garrafas de vinho à mão
Florbela, suicida-se de tanto amor pelo irmão.
Descartes, metódico,escondia-se do mundo
Hobbes vítima de um medo medonho, profundo.
Mayakóvsky não suportou o peso da revolução
Mário de Sá-Carneiro o peso do coração.
Schopenhauer,depressão no grau mais alto
Deleuze joga-se da janela estalando no asfalto.
O desassossego bate à porta
abrir ou não abrir, o que de fato importa?
É preciso força e coragem para entender
a essência desta rápida passagem que é viver.
Ai como é linda a eterna infância
e como vive feliz o ser com a sua ignorância!
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Roseli Arrudha
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