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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

abril 2024
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:: ‘mochileiro’



Sou de uma geração em que, na imensa e empobrecida periferia da Grande São Paulo naquela virada dos anos 70 para os anos 80, o sonho (além de mudar o mundo, na porrada se fosse preciso)  era chegar a Machu Pichu e Cuzco, no Peru, Meca dos Mochileiros de nuestra América.

 Para isso, bastava uma calça velha azul e desbotada, duas ou três camisas Hering, o dinheiro necessário  pra não passar fome e disposição pra encarar trens decadentes, carrocerias de caminhão, ônibus poeirentos e intermináveis caminhadas à pé. Tudo pra poder contemplar o mundo do alto daquelas montanhas imortais.

 Sonhávamos muito e nos contentávamos com pouco. Na estrada, adquiria-se um senso de companheirismo e de solidariedade que era inoculado no nosso caráter, para sempre.

 Hoje, na sociedade movida a aparência,  muitos jovens querem roupas de grife, carros do ano, baladas se possível todos os dias e dinheiro para gastar sem se preocupar com o café da manhã do dia seguinte. Tudo ao mesmo tempo, tudo sem o menor esforço.

 E aí, quando nos deparamos  com o caso de duas jovens baianas de classe média envolvidas com o submundo em troca de uma  vida de pequenos luxos, fazemos cara de surpresa.

 Não deveríamos fazer. Enquanto imperar o Deus Consumo, episódios como esse se tornarão cada vez mais comuns.

 Uma geração que, de tão apressada, nem se permite sonhar.

 E cá pra nós, perder a capacidade de sonhar, dos sonhos simples aos sonhos impossíveis, é mergulhar no abismo.

Daniel Thame 

 

Diários de um mochileiro. O dia em que nasceu um menino chamado Jesus…

Daniel Thame

 

Mochileiro errante, andava eu lá pelos lados Galiléia. Dinheiro curto, quanto havia dinheiro. Mal dava para o pão e o vinho. Tempos difíceis, como sempre foram difíceis os tempos para quem não tem a felicidade de nascer rico nesse mundo dividido entre os que têm tudo e nos exploram e os que não temos nada e somos subjugados.

Estava em Belém, uma cidadezinha da Palestina. Aquele dia tinha sido excepcionalmente ruim para mim. Tanto que só me alimentara porque um casal – a esposa  em adiantado estado de gravidez- dividira comigo um pedaço de pão. Pareciam caminhar a ermo, mas a mulher tinha um semblante de quem trazia no ventre não um filho, mas um tesouro.

Sem dinheiro nem para a mais modesta das hospedagens, fui procurar abrigo nos arredores da cidade. Era uma noite linda e uma estrela lá no céu brilhava mais do que todas as estrelas. Parecia um sinal, nós que àquela época esperávamos tanto por um sinal. Quem sabe alguém capaz de mudar o mundo. Ou, mais modestamente, garantir que todos tivessem pão e moradia digna. Nossos desejos eram simplórios, nos tempos simplórios em que vivíamos.

Andei pouco, o suficiente para avistar uma estrebaria. Cansado, só pensava numa reconfortante  noite de sono. Ao me aproximar da estrebaria, a surpresa. Lá estava o casal que dividira comigo o pedaço de pão. Ao lado deles, alguns pastores de ovelhas, uns poucos animais. Ao centro, brilhando como a mais brilhante das estrelas,  iluminada como a mais intensa das luzes, estava a criança.

Não tive coragem de me aproximar. Cansado, preocupado com o dia seguinte, me afastei e encontrei uma estrebaria vazia. Antes, olhei para aquela criança que tanto me impressionara. Acho que ela sorriu pra mim. Ou, talvez tenha sido só impressão minha.

Naquela noite, sonhei que aquela criança, que os pais deram o nome de Jesus, se transformara num grande líder popular. Não desses líderes que após chegar ao poder viram as costas para o povo e só pensam em fazer fortuna. Mas um líder que combate as injustiças sociais, a violência. Um líder que não apenas divide, mas multiplica o pão. No meu sonho, Jesus arrebatou uma multidão de seguidores,  todos eles humildes. Por isso, despertou a ira dos poderosos.

 

No meu sonho, aquele barbudo revolucionário não se curvou aos poderosos, não se desviou um milímetro do bom caminho, nunca abandonou os humildes e pagou um preço altíssimo por isso. Numa tarde sombria como só as tardes trágicas são sombrias, ele foi crucificado.

Meu sonho, entretanto, não terminaria na crucificação daquele homem que eu vira nascer numa noite estrelada. Morto, ele se multiplicou e sua mensagem se espalhou pelo mundo, atravessou séculos, cruzou milênios. O mundo continuaria desigual, mas jamais seria o mesmo, porque ele havia deixado um sinal. Ou melhor, ele era o próprio Sinal. Quem tiver olhos para ver, Veja. Quem tiver desprendimento para seguir, Siga.

No retorno para Belém, notei que a manjedoura onde nascera a criança estava vazia. Os pastores cuidavam de suas ovelhas e a vida seguia seu ritmo normal. Mas, eu estava extremamente inquieto.

Teria sido apenas um sonho? Ou teria, eu, recebido o sinal e não percebido. Durante minhas andanças nunca deixei de olhar para o céu. Em busca de uma estrela que me indicasse o caminho.

Mochileiro errante, até hoje eu me sinto passageiro de uma história onde poderia ter sido personagem. Porque apenas e tão somente a ação – e não a simples contemplação- é capaz de mudar a História.

E que bela história, que começaria assim:

Mochileiro errante, andava eu…

 





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