:: ‘Liberdadet’
Rompem-se as cordas. E o carnaval da Bahia abre as asas para a liberdade
Daniel Thame
Durante duas décadas, o Carnaval de Salvador transformou-se numa espécie de Casa Grande & Senzala.
Protegidos pelas cordas, a elite branca de Salvador e milhares de turistas do Brasil e do Exterior, igualmente brancos em sua esmagadora maioria, desfrutavam das grandes atrações do Carnaval, em blocos cujos abadás caríssimos transformaram-se em grife e símbolo de status.
Do lado de fora das cordas, espremido entre as calçadas e os camarotes, o povo, negros e multados da mais miscigenada e também mais negra das cidades brasileiras. Os chamados ´pipocas, sorvendo migalhas do banquete oferecidos aos bem nascidos.
Como os blocos se tornaram um espaço exclusivo, produzia-se um clima de alegria, mas uma alegria artificial.
Um ´Muro de Berlim` tropical, contraste constrangedor na festa que de popular só tinha o nome. Porque havia a corda.
Juntos, sim. Mas misturados, aí já era demais!
Não é mais.
Coube a Rui Costa, um governador nascido e criado numa família humilde do bairro da Liberdade (mais que uma ironia, o nome embute um simbolismo), iniciar um processo de liberação das amarras.
Romper a corda.
Entre as já memoráveis imagens do Carnaval de Salvador em 2016, nenhuma é mais forte, pelo que representa, do que a de grandes artistas como Ivete Sangalo, Bell Marques e Banda Eva, Léo Santana, Baby do Brasil, Moraes Moreira, Vingadora, Luiz Caldas, Sarajane, Gerônimo, Saulo cantando para uma multidão sem cordas, unida na alegria autentica, que é marca do povo baiano, negros e brancos, pobres e ricos.
Ao romper as cordas e democratizar a folia, Rui Costa quebra um paradigma e abre caminho para fazer do Carnaval da Bahia efetivamente a maior festa popular do planeta.
Popular porque, enfim, o povo é protagonista e não um mero espectador excluído da folia.
Axé!
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