:: ‘Ana Paula Maynart Cunha’
Para Cuba, com amor
Ana Paula Maynart Cunha
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Dezembro chegando e com ele começo a me despedir de Cuba. Protelei este momento o máximo que pude. Fiz cara de paisagem para o tempo, me envolvi em mil coisas, me preocupei com outras tantas, com o objetivo (consciente) de não pensar no fim de um dos períodos mais incríveis da minha vida.
Eu cheguei em Cuba sem querer chegar. Fui recepcionada pelo furacão Irma e meus temores aumentaram na proporção que os ventos caribenhos uivavam. Uma noite de terror. Senti pena de mim. A minha única pergunta era “o que estou fazendo aqui?”.
Não tinha nenhuma resposta que justificasse minimamente o motivo de aceitar estar num lugar tão estranho. Quais eram os desafios que eu me impunha com a decisão de sair da minha zona de conforto e vir viver uma vida totalmente ao revés de tudo do que eu aprendera até ali?
Pouco tempo depois, fui descobrindo que o desconhecido não era tão desconfortável como eu imaginara. Fui notando que havia coisas que me eram muito familiares: o azul do céu, o ar quente dos trópicos, as inúmeras tonalidades das peles das pessoas, a informalidade do cubano – que assim como o baiano, não se desloca nem um centímetro para se dirigir a alguém que está mais distante. Um “mi amor”, gritado de forma intensa, “caliente”, e bem aguda, elimina qualquer distância. Como o cubano, talvez, só o baiano chegue perto -.
Foi muito o que Cuba me deu, me dá e me dará.
Arrisco dizer que o que aqui aprendi – ou desaprendi – foi muito mais do que o que jamais esperei experienciar: daqui eu levo a certeza de que me tenho a mim e que sou a minha melhor companhia. Nesta ilha eu descobri que o meu lugar é onde eu estou.
E por falar em lugar e companhia, Havana me deu amigos incríveis, com quem passei momentos inesquecíveis e, certamente, com quem muitos outros momentos compartilharei. É algo que está pactado e tatuado, “con mucho amor, salsa, tabaco y ron”.
Foi também em Havana, misturando lágrimas com as águas do Malecón, que encarei as minhas angustias mais primitivas. Vi tsunamis e muita calmaria. Entendi o valor de ambos.
Eternamente grata “a la isla de Xangó y Iemaniá”, por absolutamente tudo que aqui tive e vivi. Oxalá tenha a oportunidade de devolver à vida a milésima parte desse meu tesouro subjetivo, que, em terras caribenhas, desenterrei.
Ainda resta um “ratico” para terminar de gozar das delícias deste lugar de gente que tem sangue quente correndo nas veias. Uns dias para continuar vendo e vivendo a vida em Cuba, com a certeza de que sempre vou querer voltar.
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Ana Paula Maynart Cunha é Embaixatriz do Brasil em Cuba.
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