RNA viralEm estudo coordenado pelo Professor João T. Marques, do Laboratório de RNA de Interferência da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a participação do professor do programa de Genética e Biologia Molecular, Dr. Eric Aguiar (Uesc), e Dr. Roenick Olmo (CNRS-França), Dr.ª Juliana Alves (ICB/UFMG), além de pesquisadores da Université de Strasbourg (França) e da Northwestern University (Estados Unidos), pesquisadores descreveram como células de insetos reconhecem moléculas de DNA viral para montar uma resposta antiviral.

Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios que sequestram a maquinaria da célula hospedeira. As células hospedeiras precisam reconhecer rapidamente a infecção e iniciar as defesas antivirais efetoras para evitar a replicação viral.

Para entender como as células infectadas reconhecem a infecção por vírus de DNA e como ocorre a sinalização para ativar respostas efetoras para controlar a replicação viral, foram utilizados como modelo a mosca da fruta (Drosophila melanogaster) e o vírus de DNA de dupla fita Invertebrate iridescent virus 6 (IIV-6), com o auxílio de diversas técnicas de Sequenciamento de Nova Geração, bioinformática, microscopia e de biologia molecular.

Nesse trabalho foi observado que durante a exposição a moléculas de DNA viral, a enzima celular RNA Polimerase II reconhece o DNA invasor e inicia sua transcrição, produzindo RNAs de fita dupla (dsRNAs), que são moléculas intermediárias que iniciam a resposta antiviral mediada pela via de RNA de interferência, que bloqueia a multiplicação do vírus.

“A descrição desse mecanismo é importante porque, de uma perspectiva evolucionária, pode nos ajudar a entender como diferentes organismos encontraram soluções distintas para o mesmo problema. Nesse caso, o mecanismo descrito é um exemplo de convergência evolutiva, pois se assemelha muito ao que observamos em células humanas infectadas por vírus de DNA”, relata o Prof. João Marques.

Segundo o Prof. Dr. Eric Aguiar, que liderou as análises de bioinformática do trabalho, “o uso do Sequenciamento de Nova Geração e Análises de Bioinformática foram fundamentais para entender os mecanismos de reconhecimento desse DNA invasor junto a possíveis mecanismos de resposta do hospedeiro para levantar hipóteses que pudessem ser experimentalmente respondidas”.

Estudos como esse são fundamentais devido a sua relevância para diversas áreas, desde a virologia e imunologia até a biotecnologia. “Os vírus de DNA são importantes patógenos de diversos organismos, como o bicho da seda, além de serem utilizados como controle biológico para alguns tipos de pragas, como é o caso da lagarta da soja”, lembra o Dr. Isaque Faria, autor do manuscrito.

Os autores ainda destacam que os achados desse trabalho, ao serem extrapolados para outros organismos, poderiam auxiliar no melhor entendimento das relações vírus-hospedeiro e contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias de combate a infecções causadas por vírus.

 

O artigo foi publicado recentemente na importante revista Cell Reports, com o DOI: https://doi.org/10.1016/j.celrep.2022.110976.