adalgisaDaniel Thame

A bordo de um pequena van da Associação de Voluntariado Chiara para as Crianças do Mundo, uma baiana, Adalgisa Silveira, e dois italianos, embarcaram em Roma para uma viagem até a fronteira da Polônia com a Ucrânia, invadida e bombardeada pela Rússia. Além de resgatar ucranianos e trazê-los para a Itália, a missão levou alimentos e medicamentos  aos que permaneceram no país.

 

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“Diz um dito popular da província romana  que ´há  mais para fazer do que para dizer´ e resolvemos entrar em ação”, declarou a baiana de Caetité, radicada na Itália e que sempre realiza ações humanitárias.

 

Numa  conversa com seu parceiro, Emílio Giovannone, de 65 anos ela questionou:  “porque não vamos levar ajuda humanitária diretamente ao povo ucraniano?” No dia seguinte já estavam preparando a van para uma viagem de cinco mil quilômetros de ida e volta.

 

A viagem foi divulgada nas redes sociais, permitindo a arrecadação de donativos  para as vítimas da guerra no leste europeu.

 

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“Em poucas horas ficamos impressionados com tudo o que havia sido arrecadado, incluindo medicamentos básicos, que as farmácias doaram com suas indicações, muitos alimentos longa vida de todo tipo, especialmente para crianças, e muitas coisas para higiene pessoal”, diz Adalgisa.
Um dia após o anúncio da missão, depois de ter selecionado, encaixotado, etiquetado e carregado,  o amigo italiano, Roberto Bianchi, de 70 anos, ligou o motor da van em direção à Ucrânia.

Mesmo sem indicações precisas do roteiro, o caminho certo foi encontrado durante a viagem, em meio  neve que  acompanhou o grupo por um longo caminho, carregado de um  frio intenso, que nem mesmo o pouco aquecimento do micro-ônibus conseguiu aliviar.
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A SOLIDARIEDADE VENCE O MEDO
“Não podemos negar a preocupação, sabíamos que no lugar de ajuda humanitária, poderia ser o mesmo  que alimentava a guerra com armamentos e aí tínhamos medo de represálias da Rússia, em função do grande número de soldados na região” ressaltou Adalgisa.
O grupo atravessou  a Áustria e a Checoslováquia, percorrendo toda a Polônia, em direção ao ponto de chegada estabelecido, na  cidade de Medyka, o mais próximo da fronteira entre a Polônia e a Ucrânia, onde foi organizado um ponto de recepção para aqueles que fogem da guerra, e esperam ser transferidos para lugares mais seguros e acolhedores.

Após uma longa fila, já anoitecendo, juntamente com voluntários locais, foram descarregadas todas as caixas de donativos com a ajuda de um polonês que já havia trabalhado em Roma e também atuou com uma espécie de guia e segurança.

 

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A noite, para descansar da longa viagem, o grupo pernoitou, mesmo com riscos, numa pousada em território ucraniano, a 68 quilômetros da fronteira com a Polônia.

 

No dia seguinte o segundo objetivo,  trazer pessoas em fuga da guerra, que neste ponto só poderiam ser mulheres, velhos e crianças, pois na Ucrânia, foi estabelecida a Lei Marcial, para que nenhum homem possa cruzar a fronteira, pois devem permanecer para combater.

 

AS MÃES E A ESPERANÇA

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O grupo foi direcionado a um  local onde havia pessoas que tinham interesses de ir para Itália, por terem parentes, já terem trabalhado, conhecer alguém e /ou falarem a língua. A escolha não foi fácil, diante da multidão que queria fugir dos horrores da guerra.

Adalgisa e seus amigos continuam sua história: “foram várias centenas de pessoas que pediram a carona da esperança, foi dada prioridade às mulheres com filhos e sobretudo às que tinham referências na Itália.

 

“Escolhemos e  nos foram dadas  em confiança três jovens mulheres, uma Médica acompanhando duas outras pessoas, uma  delas grávida de  meses,  outra mãe com um recém-nascido, e mais duas crianças”, relata a baiana.

 

 

ACOLHIMENTO NA ITÁLIA

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Partimos, lotados de carga de humanidade e esperança, em direção a Itália, com várias paradas, pois não podíamos esquecer que a bordo tínhamos uma grávida, fizemos última parada em Modena, já na Itália, onde os  ucranianos puderam abraçar uma senhora, mãe da jovem médica, que já os esperavam”, conta . Dali os ucranianos foram bem recebidos e abrigados pela Itália, essa pátria acolhedora por tradição.

“Eram olhos e olhares cheios de gratidão, lágrimas e sorrisos misturados com tristeza e alegria e nunca deixaram de nos agradecer”, diz . A esperança de uma nova vida estava estampada nos olhos deles. Foi uma missão arriscada, mas da qual nunca esqueceremos, uma experiência inesquecível  e a alegria de salvar vidas”, finaliza Adalgisa Silveira que pretende voltar à Bahia brevemente para visitar parentes e amigos.

 

A NARRATIVA DA VIAGEM DA SOLIDARIEDADE

 

 

NASCE UM UCRANIANO-ITALIANO