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 ´Mensajero del Diablo´

 

1981, Radio Difusora Oeste, Osasco. Nas emissoras do interior, a Equipe de Esportes é uma espécie de faz tudo. Cobre de eleição a velório. Carnaval, então, é quase uma obrigação.

E lá estávamos nós cobrindo o Carnaval, que em São Paulo  era realizado mais nos  clubes e não ao ar livre, como na Bahia.

Se já é um porre cobrir carnaval de rua, imagine-se nos clubes fechados, transmitindo aquela barulheira insuportável e entrevistando bêbados que não dizem nada com nada.

A transmissão começava as 10 da noite, parava as 11 e retornava meia-noite, avançando pela madrugada.

A parada de uma hora nada tinha a ver com descanso. Naquela época, as igrejas evangélicas já viam no rádio um excelente veículo para difundir a fé cristã e aumentar o rebanho. E aquele horário era comprado por uma dessas igrejas.

Ocorre que, não contente em divulgar a palavra de Deus, o pastor simplesmente esculhambava a cobertura do carnaval, que por acaso era feita na mesma emissora em que ele estava falando.

O mínimo que ele dizia no ar era que a gente atuava como mensageiros do diabo. E, ao final do programa, ainda sugeria que as pessoas desligassem o rádio.

Eram cinco noites de carnaval, cinco noites de cobertura.

mensajeroNa terceira noite, deu um problema no equipamento e fui até a sede da emissora fazer a substituição. Eis que, ao me dirigir à sala da técnica, que ficava nos fundos do prédio, deparo com o tal pastor encostado no muro, fazendo uma oração, digamos, mais íntima com uma de suas fiéis. Quase a tradução literal do “crescei-vos e multiplicai-vos”.
Uma chance daquelas, caída dos céus (ops!) não era para ser desperdiçada. E eu não desperdicei:

-Pastor, se nós somos mensageiros do diabo o senhor é o que, devorador de ovelhas?

Nos dias seguintes, se não fez elogios à nossa equipe pela brilhante cobertura da maior festa popular do Brasil (radialista adora uma frase pomposa!), o pastor pelo menos nos deixou em paz.

E certamente passou a ter mais cuidado em suas pegações, perdão, pregações para as ovelhinhas dadivosas.