34 bienal de sao paulo

Oscar D’Ambrosio

 

Ao percorrer a 34ª Bienal de São Paulo, encontrei doze deuses do Monte Olimpo. Cada um escolheu uma obra.

Zeus quis as poderosas pinturas do paraibano Antonio Dias, que se caracterizam pela síntese, com fundo monocromático negro e palavras pintadas em branco. Hera, que castigava as amantes do seu marido, gostou muito do vídeo “Evil.16: Torture. Musik”, do norte-americano Tony Cokes, que destaca o uso de da música e do som para fins de tortura.

Poseidon, deus dos mares, preferiu “Entrelaçado”, do artista holandês Melvin Moti, que lida com fotos de pedras sagradas e tecidos xamânicos de uma ilha de um arquipélago japonês. Atena, deusa da justiça, acompanhou de perto o trabalho de Jaider Esbell, artista e escritor Macuxi de Roraima.

Ares, deus da Guerra, se identificou com as esculturas de Hanni Kamaly, norueguesa que cria estruturas para homenagear vítimas de violência estatal. Deméter, ligada à filha Perséfone, preferiu o vídeo “Cópia Única”, de Hsu Che-Yu, de Taiwan, que reconta a história de dois irmãos que nasceram imbricados fisicamente e tiveram a separação devassada pela imprensa.

Apolo mergulhou nas pinturas geométricas racionalmente concebidas pela paulistana Daiara Tukano, povo da região amazônica. Ártemis, deusa da natureza preferiu as pinturas do colombiano Abel Rodríguez, que tem ambientes verdes e árvores como temáticas.

O coxo deus Hefesto quis saber mais sobre o áudio da portuguesa Luisa Cunha “1.680 m”, em que ela calcula, pelo tamanho do passo, o tempo que demoraria a percorrer o Pavilhão da Bienal vazio – e ficou pensando quanto ele demoraria. Afrodite se apaixonou pela performance coreografada “Dançarino do Ano”, de Trajal Harrell, dos EUA, em que ele reflete sobre as suas apaixonadas reações aos receber a indicação.

Hermes, deus da comunicação, preferiu os vídeos de Ana Adamovic, da Sérvia, que reinterpretam imagens e cantos de corais do passado. E Dionísio logo se interessou pelo “Bode Vermelho”, de Christoforos Savya (Chipre), patchwork que representa o animal sacrificado em seu nome antes do início das apresentações do teatro grego.

E você? Com qual deus e obra se identifica?

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Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.