lugar-de-fala

Oscar D’Ambrosio

Por que o mercado de arte gosta tanto de desigualdade social exposta através da arte? A simplicidade dos questionamentos no melhor sentido incomoda mais que o sofrimento? As perguntas do artista Clóvis Camargo (@clovis.cmrg) levam a reflexões sobre a arte e os seus vínculos com a sociedade.

Uma delas é que o ideal de uma “sociedade igualitária” passa hoje pelo debate sobre o “direito à diferença”. Como aponta Djamila Ribeiro, no livro “O que é lugar de fala?”, “O lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas”.

Há pessoas que historicamente tiveram e tem mais chances de falar e de serem ouvidas na sociedade, pois a hierarquia social faz que inúmeras produções intelectuais, saberes e vozes sejam tratadas de modo inferior e colocadas em um lugar silenciado ou mesmo proibido de se manifestar.

Ter consciência do próprio sexo, gênero, cor, raça, etnia, origem regional, religião e orientação sexual permite o salto das experiências individuais próprias, portanto, de cada um, para a reflexão coletiva. Perceber-se e pertencer-se, nessa ótica, significa fundamentar as próprias perspectivas de vida.

O conceito de “lugar de fala” tem como base, portanto, o conceito de oferecer visibilidade a sujeitos cujos pensamentos foram desconsiderados durante muito tempo. Isso não significa, porém, calar o outro. O objetivo é abrir espaço para que as mais diversas vozes sejam ouvidas, consideradas e respeitadas.

O pressuposto primordial é ampliar a troca de ideias e discussões para que não haja a imposição de uma visão. Portanto, quem não faz de um grupo pode continuar expressando a sua opinião sobre ele, desde que entenda a importância de abrir espaço para aprender, entender e respeitar o que aquele grupo está tentando dizer.

Cabe ao artista, nesse contexto, explorar a sua técnica e a sua sensibilidade para conseguir realizar as pontes entre os diversos lugares de fala rumo a estabelecer discursos em que as conexões se realizem de modo que as diferenças e igualdades se façam presentes dentro de sua proposta estética e vivencial.

oscar 2

Oscar D’Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.