Efson Lima

efson limaAlguns festivais literários nasceram online como o Flisba (Festival Literário Sul-Bahia), outros diante da pandemia e superada a resistência foram realizados por meio das plataformas digitais, tais como a  Flipelô (Festa Literária do Pelourinho), a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), o Flios (Festival Literário de Ilhéus) entre outros.  As redes sociais se tornaram uma arena para que os sonhos e a força da poética não desaparecessem em tempo pandêmico. A arte se reinventou, como as nossas vidas.

 

Os festivais literários, feiras literárias e as bienais tornaram-se fenômenos presentes no cenário cultural brasileiro nos últimos anos. Na Bahia, tem-se uma boa pulverização.  Além de movimentarem as cidades, estimulam economicamente os setores da produção do livro. Essas atividades permitem uma ampliação do fluxo turístico nas cidades onde ocorrem.

 

flisba 3As bienais do Rio de Janeiro e de São Paulo sempre estiveram consolidadas. A Feira do Livro em Porto Alegre segue o mesmo caminho. Certa vez, eu no Rio Grande do Sul, deparei-me com a Feira ocorrendo em uma praça da cidade. Vi várias editoras. A estrutura não era nada gourmet, mas estava presente a força de uma feira tradicional. Na Bahia, desde o desabamento de parte do Centro de Convenções do Estado, a Bienal do Livro deixou de ocorrer. A Bienal da Bahia até chegou a ser anunciada no ano passado, mas a pandemia não deixou ocorrer.

 

Ainda em terras baianas,  na Princesa do Sertão, em 2020, o  Festival Literário e Cultural de Feira de Santana (Flifs) foi o primeiro a romper a desconfiança e foi realizado com suporte da plataforma virtual. O Flifs, que  alcançou a 13ª edição no ano passado, teve que ser reprogramado para o ambiente virtual. O festival integra uma das ações da Universidade Estadual de Feira de Santana e ocorreu entre os dias 22 e 26 de setembro.

Por sua vez, nas terras do cacau, no sul do estado, ocorreu o Flisba ( Festival Literário Sul-Bahia). Desde o surgimento da ideia, passando pelo projeto e a sua concretização estiveram sendo articuladas virtualmente. Assim, o FLISBA se tornou o segundo evento realizado pelas redes sociais na Bahia, talvez, tenha sido o primeiro com essa natureza no estado. Inclusive, as pessoas não se reuniram fisicamente para pensar e executar o Flisba. Algumas nem se conheciam fisicamente e pessoas de diferentes lugares colaboraram na organização do Festival: São Paulo, Portugal, Salvador, cidades diferentes do sul da Bahia (Ilhéus, Itabuna, Itajuípe, Coaraci, Iguaí).

 

Outro evento literário que nasceu virtualmente foi a Felica (Festa Literária da Caramurê), atividade organizada pela editora de mesmo nome. Agora, a Feira está na segunda edição, inclusive, começa neste domingo, dia 28 de março e vai até o dia 4 de abril, sendo agora uma programação  integralmente pelas redes sociais (Youtube e Instagram).

 

Tivemos também a Festa Literária de Uauá (Fliu) realizada presencial, a festa foi reformulada para o ambiente virtual e ocorreu entre os dias 9 a 12 de outubro. Registra-se também a Flipelô (Festa Literária do Pelourinho ), que teve sua edição especial realizada pelas redes sociais, no período de 10 a 13 de dezembro,  a edição fez uma reverência ao Pelourinho –  um território literário.

Enquanto isso,  no plano nacional, o mais badalado dos eventos literários, a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) estava imersa nas suas polêmicas e muito se discutia sobre a sua realização. Ao fim,  ela ocorreu, mas não foi tão exitosa como poderia ter sido, caso não perdesse tempo com as polêmicas e focasse na realização do evento.

 

Antes que o ano de 2020 chegasse ao fim, fomos blindados, no sul da Bahia, com a Festa Literária e o Festival Literário de Ilhéus (Flios), cujas forças da oportunidade se levantaram e concretizaram um evento espetacular pelas redes sociais da Editora da UESC (Editus) e da Academia de Letras de Ilhéus (ALI), organizadoras centrais dos dois eventos.  A Festa que  ocorria tradicionalmente em maio, foi realizada em dezembro, permitindo que as distâncias fossem reduzidas mesmo na pandemia graças à força do poético  e das redes sociais.

 

A Lei Aldir Blanc, decorrente do contexto da pandemia, colaborou para que alguns festivais se concretizassem por meio das redes sociais. A própria lei e os editais estimularam a realização das atividades pelas plataformas virtuais. Na Bahia, a Fundação Pedro Calmon contribuiu muito para a realização das feiras e festivais virtualmente. O edital publicado assegurou premiações para os eventos dessa natureza, cujos recursos financeiros financiaram as atividades.  Foi um estímulo para a concretização desses importantes espaços de fomento a produção literária, divulgação e trocas de informações e percursos literários.

 

Agora, já em 2021, temos observado a força da Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira), que anualmente reúne mais de 30 mil pessoas no mês de outubro na cidade, tornando-se a principal atração turística da cidade.  Os responsáveis pela organização da Feira promoveram uma série de diálogos sobre o evento, rememorando momentos eternizados no campo da literatura brasileira a partir da Flica, cujo projeto foi batizado de “Flica nas redes” por meio do Youtube.

 

A realização desses eventos consolida o estado da Bahia como um celeiro literário. Essas ações ajudam aproximar o leitor do escritor e colaboram para a externalização da produção literária do estado.  E a execução desses eventos pelas redes sociais permite que pessoas sem condições físicas, temporais ou financeiras participem das festas literárias país afora. Esses eventos se tornaram  estratégicos para alcançar outros públicos. Entre as consequências, tivemos uma maior participação de público, a diversidade do público a partir de diferentes lugares e ampliação do alcance e o próprio surgimento de festivais.

 

Sem dúvida alguma, eles têm cumprido com os desafios impostos pelas circunstâncias de nosso tempo. Mas  só este dirá como ficará a natureza de cada evento literário: se será presencial, virtual ou híbrido. Então, o tempo cuidará de nos oferecer as respostas.

 

 

 

 

Efson Lima – Doutor em direito/UFBA. Escritor. Advogado e professor universitário. Das terras do sul da Bahia – Itapé/Ilhéus.efsonlima@gmail.com