roberto badaróO isolamento social continua sendo o principal meio de combate à disseminação do coronavírus na Bahia. Quem explica é o pesquisador e infectologista Roberto Badaró, integrante do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, diretor do Instituto de Tecnologias de Saúde do Senai Cimatec e diretor médico do Hospital Espanhol.

Segundo Badaró, há estudos pontuais que analisaram o impacto do isolamento social, como um publicado no dia 24 de abril e que aponta a ineficiência do lockdown no leste europeu. O infectologista afirma que este estudo específico não é comprovado por outros cientistas e está sendo utilizado inclusive por entidades governamentais para o direcionamento de críticas ao isolamento social.

Badaró destaca que os dados científicos estão sendo manipulados. “Este trabalho publicado no dia 24 de abril aponta que o lockdown no leste europeu não fez diferença na situação da região. Mas quem analisa esses dados percebe que ele não tem o número de casos diagnosticados em determinado momento, que seria o dado principal para se avaliar o efeito do lockdown. Ele pega esses casos, analisa e diz que fazendo ou não fazendo o lockdown é a mesma coisa”, diz o infectologista.

Segundo Badaró, para que as medidas de isolamento funcionem, é preciso um tempo de adaptação da população sobre as novas regras que alteram a rotina das pessoas. “Nos locais onde a epidemia realmente teve o impacto, o lockdown durou de três a quatro meses”. Para ele, um exemplo da necessidade de adaptação é o uso de máscaras. “Os brasileiros não têm esse hábito, que é comum em países da Ásia. Na China, é hábito usar máscara. Aqui tivemos que começar a criar esse hábito. A adesão ainda não é 100%. É compreensível, pois as pessoas demoram para atender. As pessoas precisam entender que agora é o pico para que a gente obtenha o efeito dessas ações”.

Outra grande mudança no dia a dia das pessoas é a percepção do tempo. “As pessoas estão acostumadas a ver o ano começando e rapidamente passando, chegando ao final. Neste momento de distanciamento social, o que acontece é o inverso: o ano está demorando mais a passar do que as pessoas gostariam. Isso acontece porque temos um tempo maior de observação”, explica Badaró.

Com base na experiência vivida em outros países, para o infectologista, as autoridades que alegam a ineficiência do lockdown estão manipulando os dados para apresentar um argumento teoricamente científico e dizerem que a medida não tem importância. “Há várias cartas de investigadores afirmando que há erro nos números analisados. Números manipulados podem servir para argumentos de autoridades que querem quebrar as medidas, as únicas que nós temos para permitir que a disseminação do vírus não ocorra”.