Julio Gomes

julio gomesÉ de conhecimento público que vários times, entre eles o Fluminense de Feira de Santana, na Bahia; e o Operário de Várzea Grande, do Mato Grosso, tentaram contratar Bruno, porém tiveram de desistir após protestos da torcida, de populares residentes nas cidades onde os clubes têm sede, e da perda de patrocinadores.

Não questiono aqui a legitimidade dos protestos, sobretudo por parte das mulheres, que têm sido, no Brasil, vítima de um verdadeiro genocídio, cometido na maioria das vezes por ex companheiros ou maridos, que se julgam no direito de matá-las sumariamente, de forma cruel e covarde, confiando na enorme complacência de nossas leis ou na ineficácia do sistema punitivo em nosso país.

Bruno agora só joga no time da penitenciária

Bruno

O protesto das mulheres e dos setores que as apoiam é mais do que legítimo, e deve ser respeitado e entendido como uma reação à violência e ao assassinato de mulheres que, absurdamente, ocorre todos os dias.

Entretanto, que fazer em relação à pessoa do goleiro Bruno? Ele, como qualquer ex presidiário, precisa retomar sua vida e, para tanto, sendo adulto e capaz para o trabalho, deve buscar encontrar um emprego, sendo lógico que o busque exatamente naquilo que fazia antes de cometer o horroroso crime que praticou, que é ser goleiro profissional.

Não sejamos hipócritas. Se você perguntar se eu ficaria feliz em ver o goleiro Bruno atuando profissionalmente no time para o qual torço, ou mesmo em qualquer outro clube de futebol, minha resposta pessoal, direta e objetiva seria: não.

Entretanto, o que fazer com relação a um assassino que cumpriu sua pena?

Se negarmos ao homicida bruno o acesso a um trabalho honesto, que lhe restará? Voltar-se de vez para o crime? Passar o resto da vida escondido no mato? Suicidar-se?

Dizem algumas pessoas que ao voltar a ser goleiro Bruno voltaria a ser ídolo. Nesse caso, de quem seria a culpa? Por que motivo um goleiro se torna ídolo, quando um médico, um professor, um bombeiro ou um policial jamais o seria? Por que motivo nossa sociedade, imbecilizada, precisaria, necessariamente, transformar um atleta em ídolo, por mais que possamos admirar sua atuação profissional?

Embora reconheça a legitimidade de todas as reações contrárias a pessoa de Bruno, em virtude da necessidade de fazer algo contra a estúpida violência que assassina mulheres por todo o Brasil, talvez seja o caso de darmos as costas para a atuação do profissional Bruno, não no sentido de impedi-lo de trabalhar, mas de tratá-lo simplesmente como uma pessoa que precisa continuar vivendo, e que para isso tem de tentar trabalhar no oficio que exercia.

Quanto a fazer dele um ídolo, por melhor goleiro que ele possa ser, talvez o erro esteja em nós, e não nele.

Deixemos que o profissional Bruno volte a trabalhar, por mais que isto nos desagrade; e estejamos cientes de que o ser humano Bruno carregará, por culpa dele mesmo e pelo resto de sua vida, a sequela inapagável do crime hediondo que miseravelmente cometeu.

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Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz

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Este texto não reflete a opinião do Blog do Thame