Sônia Haas mostra a certidão retificada em frente ao busto em homenagem ao irmão, João Carlos, em São Leopoldo — Foto: Thales Ferreira / Prefeitura de São Leopoldo

Sônia Haas mostra a certidão retificada em frente ao busto em homenagem ao irmão, João Carlos, em São Leopoldo — Foto: Thales Ferreira / Prefeitura de São Leopoldo

(do G1)- No Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados, data instituída pela ONU em 2011 para homenagear os desaparecidos políticos, a família de João Carlos Haas Sobrinho ganhou um motivo para comemorar. Quase 47 anos depois de seu sumiço, a família recebeu uma retificação na certidão de óbito que reconhece que sua morte foi “causada pelo Estado brasileiro”. No novo documento, recebido no dia 22 pela irmã de João Carlos, Sônia Haas, passou a constar que ele “faleceu entre setembro e outubro de 1972, sendo a data mais provável o dia 30 de setembro de 1972, sendo Xambioá, Tocantins, no âmbito do evento reconhecido como Guerrilha do Araguaia, em razão de morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”.

certidão joca
Com isso, Dr. Juca, como era conhecido, tem parte de sua memória preservada. Sônia acredita que, embora incompleto, este é um motivo para ser comemorado.

Nesta sexta, Sônia celebrou a memória do irmão em um ato no Largo da Prefeitura de São Leopoldo, onde fica um busto em homenagem a Dr. Juca. Apesar da resiliência com que encara anos de busca pela verdade, ela confessa que algumas lacunas seguem sem serem preenchidas:
“Não é fechamento, porque precisamos localizar os restos mortais e termos respostas sobre o que aconteceu. Não há referência concreta sobre como e onde aconteceu esta morte. Isso nos falta. O que ocorreu com esses corpos? Ninguém nos responde”, afirma.

dr juca

 
Ildefonso Haas e Ilma Linck, pais de Sônia e João Carlos, não puderam testemunhar a correção da história sobre o filho. Ele morreu em 1989 e ela, em 2001. “Morreram esperando poder sepultar o filho”, sublinha Sônia, que acrescenta que Dr. Juca não deixou filhos ou herdeiros. Até mesmo por isso, responsabiliza-se pela preservação das histórias e do legado do irmão.

 
O G1 entrou em contato com a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), que está vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), às 15h10, para confirmar detalhes sobre o processo. Porém, o órgão informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que só irá retornar na segunda-feira (2).
Do movimento estudantil à luta armada

João Carlos Haas Sobrinho nasceu em São Leopoldo no dia 24 de junho de 1941. Formou-se em medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi presidente do centro acadêmico da faculdade. Filiado ao PCdoB, mudou-se para o nordeste em 1967, três anos após o início do período militar.

 

 

 

De Porto Franco, no Maranhão, onde atendia a população pobre em um consultório, foi para a região do rio Araguaia, no Tocantins, em 1969, para auxiliar a guerrilha. A hipótese mais forte, segundo a família, é que tenha sido morto em combate com militares em 30 de setembro de 1972. Porém, até este ano, esta suposição não havia sido confirmada, já que o corpo não foi encontrado. Em 2008, alguns negativos foram revelados, e uma das fotografias mostra um corpo próximo a um soldado, o qual foi identificado como sendo João Carlos. Atualmente, há uma rua com seu nome em pelo menos três cidades: São Leopoldo, Porto Alegre e Caxias do Sul, na serra gaúcha.