A0 PÉ DA GOIABEIRA lopes

Em não sendo este Barão qualificado para a prática de profundos exercícios de sociologia e história, nada o impede, porém, de externar suas impressões da viuda nacional, anotadas ao longo do tempo. E tal reflexão leva ao óbvio: o Brasil é um país de extraordinária vocação para o golpe (tomado aqui o termo “golpe” como atitude de força, ilegal, à margem da Constituição). Dito assim, é possível catalogar, da Independência (1822) até hoje, nada menos do que dez atentados contra a legalidade democrática, contados apenas os efetivados, não as tentativa frustradas – e enquanto não se configura o próximo, que já mostra seus inquietantes sintomas.

golpe.1O quadro que está ainda na retina desta geração é o produzido em 1964, uma farsa chamada “Revolução Democrática”, que custou ao País 21 anos de trevas, de corrupção, tortura, perseguição e assassinato de opositores. O roteiro foi, mais ou menos, este: os militares derrubaram o presidente constitucional, João Goulart, o Congresso empossou Castelo Branco (1964-1967); Castelo Branco empossou Costa e Silva (1967-1969); Costa e Silva deu posse a Garrastazu Médici (1969-1974); Médici deu posse a Ernesto Geisel (1974-1979); Geisel deu posse a João Figueiredo (1979-1985), todos sem voto popular, que tinham tomado o poder pela baioneta.

Em seguida a Figueiredo, José Sarney, que também não foi eleito presidente, recebe o governo. Na visão de alguns constitucionalistas, com a morte de Tancredo Neves, presidente eleito, masm não empossado, o caminho legal era realizar outra eleição. O “sistema” escolheu empossar Sarney, sem mais discussãoconversa. Desse ângulo, nossa lista de dez golpes passaria a onze; não esquecer que, com a morte de Costa e Silva, deveríamos ter, por qualquer grau de razoabilidade, a posse de José Maria Alkmin, o v vice civil na chapa verde-oliva. Os militares decidiram empossar Costa e Silva, que, até então, nada tinha a ver com o processo sucessório – e vamos chegamos, rapidamente, apara uma dúzia de golpes.

Deixando esses dois casos, dos quais não encontro muitas referências na mídia, vamos relembrar aos dez mais citados, pela ordem de ocorrência:

1823 – Um ano após a Independência, D. Pedro I inaugura nossa série de atentados à lei: ordena o cerco policial da Assembleia Constituinte e, dissolve o parlamento. Os opositores foram presos e, em seguida, exilados. O episódio passou à posteridade como “Noite da agonia”

1840 – O segundo golpe, de novo, envolve o Imperador. Com a abdicação de D. Pedro I, seu filho “Segundinho”, uma criança de seis anos, herda o trono do Brasil. Puxa daqui, estica de lá, nove  anos depois, ele é coroado, ilegalmente, por ser menor de idade. A Constituição, como hoje, fixava a maioridade em 18 nos, e o herdeiro tinha só 15. “E daí?” – disseram, como sempre dizem, os golpistas.

1889 – “Proclamação da República”, é o nome pomposo que a história dá ao golpe militar que pôs abaixo a  Monarquia. O principal articulador do golpe foi o tenente-coronel Benjamim Constant. O marechal Deodoro da Fonseca assume o poder executivo da Primeira República

1891 – Com a nova Constituição, Deodoro, “herói” da República, é eleito presidente, pelo Congresso, tendo como vice outro marechal, Floriano Peixoto. Mas o respeito com a lei durou muito pouco: em seu primeiro ato como presidente eleito, Deodoro assinou um decreto, dissolvendou o Congresso, por decreto. Em seguida, com outro decreto, estabeleceu o estado de sítio, adquirindo o direito de jogar a polícia em cima de quem a ele se opusesse.

1891 – Com menos de um mês dos decretos, a Marinha dá um ultimato ao presidente: ou renuncia ou o palácio do go verno será bombardeado, com presidente, cidade do Rio de Janeiro e tudo. Deodoro entrega o cargo, pega o quepe e svai de cena embora. O evento é conhecido como  “Primeira Revolta da Armada”.

1891 – Floriano Peixoto assume, com a Constituição mandando convocar nova eleição presidencial. O marechal alega que tal exigência constitucional  só valeria se Deodoro tivesse sido eleito diretamente, não pelo Congresso. Envolvido neste argumento, o Marechal de Ferro aboleta-se na Presidência. Floriano ainda teve contra si a “Segunda Revolta da Armada”, quando usou mão pesada, justificando o título de Marechal de Ferro.

1930 – As eleições daquele ano foram, como de hábito, fraudadas, para que saísse vencedor o candidato da situação, Júlio Prestes.

Só que, desta vez, a oposição não aceitou o resultado e partiu para o enfrentamento físico, com o apoio de  setores  das polícias de Minas, Rio Grande do Sul e Paraíba, bem como algumas áreas do exército. Uma junta militar formada  por dois generais e um almirante decidiu depor o presidente da República e passar o governo ao chefe do movimento revoltoso, o candidato derrotado Getúlio Vargas, da Aliança Liberal. Caía, sem maior pompa, a Primeira República, com apenas  41 anos de idade.

Voltaremos ao assunto, se não houver um golpe até a próxima sexta-feira.

PERFIL DO BARÃO

1111Todos mostram seu perfil, também vou mostrar o meu. Chamo-me Marcos Aparício Lins Machado de Guimarães Rosa, e, logo se percebe, não sou propriamente uma pessoa, mas uma homenagem: cada um desses nomes tem um significado para mim, mas não vou tirar de ninguém – se não o prazer, ao menos o exercício de identificá-los.

Atendo também por Barão de Pau d´Alho (e isto tem a ver com o cheiro de minha terra – aí uma pista para pesquisadores ociosos). Sou um jornalista modesto, se é que isto existe, pois escolhi esse título honorífico de menor impacto, quando bem me poderia autoproclamar Marquês da Cocada Preta, Conde de Macuco ou Duque Sei-Lá-do-Quê.  A propósito, os títulos de nobreza (tiremos daí os reis e príncipes, gente de outra classe) são, em ordem decrescente de importância, duque, marquês, conde, visconde e barão, caso não me engana e a história – e ao dizer isto já denuncio este como um espaço dedicado à informação…

Apesar do velho adágio “nobreza obriga”, não sou muito de frequentar as ditas rodas sociais, muitas vezes parecidas com rodas da malandragem: vivo um tanto isolado do lufa-lufa da cidade, envolvido com meus livros, um tabuleiro de xadrez e uns discos de jazz e MPB. Quando acometido da fadiga do tédio, ou se quero sofrer um pouco, ligo a tevê, assisto a um noticiário, registro um monte de agressões à língua portuguesa, me canso e retorno à  rotina. Novela, não vejo nunca, pois meu masoquismo ainda não chegou a tais extremos. Nada de telefone nem zap-zap, não sei bem o que é rede social, para  mim rede é aquela coisa que os pobres do Nordeste usam em substituição à cama, e que os ricos têm nas casas de praia.

Procuramos fazer aqui, semanalmente, uma coluna, erguida com  as coisas que nos derem na telha, deixando a eventuais leitores espaço para os devidos xingamentos, pois vivemos, formalmente, em regime democrático. Diga-se ainda que, por se tratar de um espaço politico-ecológico, escolhi para musa da coluna aquela moça chegada a encontros religiosos em altos de goiabeiras – e de cujo nome, graças a Deus, já esqueci.