Eulina Lavigne

eulina lavigneSe perguntar à maioria das pessoas qual o oposto do amor, a primeira resposta que ouvimos, assim no impulso, é que é o ódio.

E se pararmos para pensar um pouco podemos observar que o oposto do amor é o medo. O medo de. O medo de se envolver, o medo de se machucar, o medo de dizer o que sente de fato, o medo do abandono, o medo de amar a si próprio. No fundo temos medo de nos amar como somos e muitas vezes projetamos no outro aquilo que gostaríamos de ser, ou de ter, ou de fazer e, por medo, não somos, não temos e não fazemos.

E quando o outro pode ser quem é, fazer e ter, entramos no desamor e sentimos raiva. Do outro? Não. De nós mesmos. Bert Hellinger, criador da Constelação Familiar, se utiliza de uma frase muito interessante que diz: “Que mal lhe fiz para estar tão furioso com você?”. No fundo tenho raiva de mim porque aceitei muitas coisas que não devia ter aceitado. Porque deixei de exigir, tomar ou pedir o que eu poderia ter exigido, tomado ou pedido. Esse tipo de raiva paralisa, pode deixar o sujeito enfraquecido e preso por muitos anos.

amorQuando desenvolvo o amor por mim, e incluo o medo e a raiva como partes de mim, considerando-os importantes para a minha caminhada, me fortaleço e me sinto mais segura para amar o próximo. Por que o medo, quando reconhecido em momentos que me cabe, me protege. Por exemplo, Ângela Cavallo foi capaz de levantar e segurar um veículo por quase 5 minutos para salvar o seu filho que ficou preso sob um Chevrolet 1964. O medo de perdê-lo foi tão grande que a fortaleceu a tal ponto que fosse capaz de fazer o que fez. O amor que tinha pelo filho, superou qualquer obstáculo.

O medo me convida a ficar mais alerta e focado para que algo de pior não aconteça. E isso me faz bem!

A raiva pode ser saudável quando ela me impulsiona para a ação, quando me fortalece para tomar uma atitude e me impor com energia, ou quando ela se expressa como uma força de alerta, centrada para responder a situações de emergência.

Quando me deixo tomar pelo medo – que muitas vezes nem é meu, é uma transferência do medo que a mãe tinha ou pai, ou avó -, ele me paralisa e me torna escravo dele. E assim me impede de amar na minha plenitude. Assim também pode acontecer com a raiva. Eu tomo a raiva de uma pessoa contra terceiros. Por exemplo: quando uma mãe tem raiva de um pai e deixa de expressar essa raiva, normalmente um filho fica com raiva dele. Toma a raiva que pertencia a mãe para si. E quando um homem deixa de expressar a raiva que sente de sua mulher, um filho é castigado por ela. E assim esse ciclo vai sendo alimentado. Estas foram constatações de Bert Hellinger em seus estudos e observações sobre a família.

Penso que quando formos capazes de incluirmos todos esses aspectos em nós e aprendermos a nos amar como somos e não como o outro deseja que sejamos para agradá-lo; incluir a raiva e o medo como algo necessário para a nossa sobrevivência, e não como impedimentos do fluxo da vida, quem sabe poderemos amar o próximo na sua integridade.

Porque assim estaremos olhando para uma Alma que se expressa por meio de um corpo, e não simplesmente um corpo que se expressa para ser quem não é.