Memórias de um Dinossauro
TV Cabrália, inicio dos anos 90. Santa Catarina enfrentava uma enchente apocalíptica e o Vale do Itajaí foi arrasado pela fúria das águas. A Rede Manchete, da qual a Cabrália era afiliada, fez uma campanha para arrecadar alimentos, remédios, roupas e cobertores para os flagelados.
A Cabrália entrou na campanha e em poucos dias arrecadou toneladas de donativos, que seriam enviados a Santa Catarina.
Uma noite, por volta das 20 horas, entro no estúdio abarrotado de solidariedade, onde mal havia espaço para as câmeras e a mesa do apresentador. De repente, me deu o estalo.
Naquele mesmo período, moradores da Bananeira e do Gogó da Ema, bairros carentes de Itabuna, estavam sofrendo com as cheias do Rio Cachoeira. Nada que se comparasse à tragédia de Santa Catarina, mas centenas de famílias perderam seus parcos pertences e muitas estavam desabrigadas.
O raciocínio foi óbvio. Se a gente pedisse donativo pras vítimas das enchentes em Itabuna, é provável que o retorno seria quase nenhum. Já para os catarinenses, em função da comoção nacional que se criou, mal havia espaço para estocar tantas doações.
Não tive dúvidas. Com a cumplicidade do então bispo diocesano Dom Paulo Lopés de Faria, hoje habitando merecidamente o reino dos céus, uma parte dos donativos foi entregue para uma igreja e dali seguiu para as famílias da Bananeira e do Gogó da Ema.
A outra parte, é bom que se diga, foi entregue aos catarinenses, que sem saber e por linhas tortas, haviam proporcionado um gesto de solidariedade aos itabunenses, irmãos de pátria e de infortúnio.