Eulina Lavigne

 

eulina lavigneEm 2005, deixei de pagar o meu Plano de Saúde e confesso que até hoje não me arrependo do que fiz. Hoje de acordo com a minha idade, se estivesse pagando um Plano de Saúde gastaria mais de R$2.000,00 por mês e sem garantia de bom atendimento. Então façamos a conta, quase R$30.000,00 por ano. Meu Plano de Saúde hoje é o SUS.

Alguns amigos, os mais desesperados (rs), me chamam de louca e me pedem para rezar todos os dias para não precisar dos serviços do SUS. Graças a Deus, sempre tive uma boa saúde e gasto anualmente menos de R$2.000,00 para fazer todos os meus exames preventivos.  Utilizei os serviços do SUS uma única vez quando quebrei o pé e fui realizar uma radiografia. Após o exame o servidor me pediu que retornasse para pegar o laudo médico após 15 dias. 15 dias? Já estaria com o meu pé torto. Solicitei a radiografia de imediato, sem o laudo, e eu mesma tratei de resolver o meu problema com a Mãe Terra, aplicando os meus conhecimentos sobre argiloterapia. E quem não tem o conhecimento? Como fica se simplesmente aceita?

Confesso que sempre agradeci a Deus por não precisar recorrer aos serviços do SUS e venho, recentemente, repensando sobre isso desde quando uma amiga descobriu que estava com um câncer e fez todo o seu tratamento com excelência pelo SUS.  Creio que isso foi possível não só por ser uma pessoa formadora de opinião e principalmente por ser uma pessoa conhecedora dos seus direitos e deveres.

Ela me conta que acredita que as pessoas preferem pagar um Plano de Saúde a dizer que são atendidas pelo SUS, além de terem a crença de que o sistema não funciona. Segundo ela funciona. Enquanto ela fazia radioterapia, todos tinham o mesmo atendimento, independente se o plano era privado ou SUS. A máquina é a mesma, os técnicos são os mesmos, os médicos são os mesmos… E o atendimento por ordem de chegada.

Penso também que a maioria das pessoas não percebe que somos nós que pagamos, e caro, por todo esse sistema, pois observo que, quando são atendidas por um médico particular ou do seu Plano de Saúde se recusam a esperar e gritam logo que estão pagando. E por que não fazer isso utilizando o SUS? Exigir um atendimento de respeito?

Quero saber se um médico particular, ligado a um Plano de Saúde realiza um atendimento melhor que o médico do SUS. Se a escuta é de no mínimo 1h ou que seja 30 minutos? São raros.

O SUS é o primeiro Plano de Saúde de todos os brasileiros e precisa ser utilizado com dignidade sob pena de deixar de funcionar e dar o seu último SUSpiro.

Desde que a Constituição de 1988 determinou ser a saúde um direito do cidadão e dever do estado a população passou a ter direito a assistência à saúde integral, universal e gratuita.

No final da década de 70 a Organização Mundial de Saúde (OMS) se propôs a resgatar a Medicina Tradicional (dos nossos ancestrais), com o objetivo de estimular políticas públicas mais humanizadas.

E você sabia que no Brasil, a legitimação e a institucionalização dessas abordagens de atenção à saúde iniciaram-se 10 anos depois? Sim, foi criado o SUS com a proposta de integrar a visão científica, saberes e procedimentos com a qualidade de vida e um atendimento mais humanizado. Vinte anos depois, com a portaria 971/2006 ficou regulamentada a política nacional de práticas integrativas, que veio ampliando a oferta de práticas para a comunidade. As práticas integrativas e complementares é uma medicina que valoriza os avanços da medicina moderna, inclui e respeita a medicina tradicional e dos sistemas médicos orientais onde a cura depende diretamente do paciente.

Hoje, contamos com 29 terapias reconhecidas pelo governo e muitas estão  presentes em cerca de 9.350 estabelecimentos em 3.173 municípios, sendo que 88% oferecidas na atenção básica. São poucas as pessoas que sabem disto e por não saberem não são beneficiadas.

O que temos feito para termos um atendimento digno?

Precisamos agir para transformar essa realidade e tornar mais humanizado o cuidado na saúde.

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Eulina Lavigne é mãe de três filhos, terapeuta clínica, Consteladora há 11 anos, Especialista em trauma, Mestra em Reiki Xamânico, Palestrante, Consultora em envolvimento humano e organizacional.