Repórter-Torcedor
Daniel Thame
O ano era 1985. O São Paulo, treinado por Cilinho, decidia o Campeonato Paulista com a Portuguesa, no estádio do Morumbi. Sãopaulino até a medula, fazia reportagem de campo para a Radio Difusora Oeste, emissora modesta, mas briosa, de Osasco.
O São Paulo tinha um timaço, com Falcão, Silas, Muller, Careca, Sidney e Cia, mas a Lusa endurecia o jogo. E eu não sabia se reportava os lances ou se torcia. O São Paulo fez 1×0 no primeiro tempo com Careca e levava um sufoco até a metade do segundo tempo, quando Sidney fez 2×0.
A comemoração dos jogadores aconteceu ao lado do gramado, justamente onde eu estava. Foi quando minhas dúvidas acabaram. Larguei o microfone no chão e fui comemorar com os jogadores.
Quando o narrador Silva Neto, tão sãopaulino quanto eu, pediu a descrição do lance, silêncio total.
De cara, lá do estúdio da rádio, cortaram a minha linha de transmissão, um trambolho com um fio quilométrico acoplado a uma caixinha e ao microfone que a gente tinha que desenrolar e enrolar antes e depois de cada partida, e passei o resto do jogo apenas assistindo, até invadir o gramado para comemorar, desta vez o título em meio a torcedores e jogadores.
Como eram tempos românticos, levei apenas uma suspensão de três dias.
E, pior dos castigos, não me escalaram mais para os jogos do São Paulo.