Sem perder o rumo
Gerson Marques
Em 26 de março de 2010, o presidente Lula e o governador Wagner, assinaram em Ilhéus a licitação para construção da Ferrovia Oeste/Leste – Fiol, parte de um complexo que ainda incluía a construção de um porto em parceria público privado – PPP.
Passado sete anos os projetos não se concluíram, a ferrovia com menos de cinquenta por cento de suas obras realizadas, encontra-se parada, e o porto não chegou a sair do papel.
Neste momento, o governo do estado tenta uma saída via a empresa China Railway Engeneering Group (Creg), uma gigante asiática que já vem comprando projetos parecidos na América do Sul. A situação porém não é fácil, o governo da Bahia trabalha na estruturação de uma nova modelagem do negócio e antes de assinar com os chineses, depende ainda da aprovação no Tribunal de Contas da União.
A paralisação do projeto no entanto, abriu uma janela de oportunidades para um debate mais qualificado e produtivo, sobre o modelo de desenvolvimento regional, principalmente um debate construído aqui, envolvendo as lideranças e inteligências locais.
O Sul da Bahia, como já disse, em outro artigo é uma pobre região rica, apesar de ter um cem números de possibilidades, não consegue consolidar de forma efetiva nem uma, depois de perder o cacau como fonte “infinita” de riqueza, não viu a industrialização se efetivar, não se tornou um pólo comercial para além das fronteiras, não é um destino turístico relevante e nem um centro de serviços de referencia.
Essencialmente, o Sul da Bahia sofre de uma crise estrutural, associado à ausência de projetos estruturantes, capazes de redesenhar o modelo de desenvolvimento, principalmente de projetos que se complementem e dialoguem entre si, sem perder referencias já consolidadas como o patrimônio ambiental extremamente significante, uma rede de ensino superior em franco processo de expansão, assim como uma oferta logística, razoável e já estruturada.
A necessidade de construir aqui este debate, além de refletir melhor a visão de quem vive e trabalha na região, evitaria as armadilhas conhecidas dos projetos pensados em escritórios distantes por mentes mirabolantes, que imaginam serem Deus, e donos de soluções explicadas em planilhas.
Nossas respostas precisam por exemplo considerar e contemplar, a realidade de mais de trinta mil jovens desempregados só no eixo Ilhéus / Itabuna, a ausência de saneamento básico que se constitui em uma tragédia ambiental e social muito grave, o baixo nível educacional nos ensinos básico e fundamental, com alto índice de evasão escolar, e a ineficiência da mão de obra, situações que somadas levam a região a se posicionar sempre entre os campeões nacionais de violência, da falta de saúde e geradora de migrantes.
Também não existe soluções fáceis, não podemos nos iludir com soluções setorializadas, parciais, soluções para a área rural por exemplo, são fundamentais, mas sozinhas não respondem aos problemas tipicamente urbanos, por outro lado é inegável que partes da solução estão exatamente no campo, onde o antigo modelo do cacau começa a dar espaço para o chocolate o cacau fino, a agricultura orgânica e a sustentabilidade via agricultura familiar, o que no futuro, ajudará a fixar as pessoas no campo, melhorar a renda e valorizar as propriedades.
Entender o turismo moderno em suas dimensões múltiplas e complementares é outro desafio, estruturar e vender a região para além das praias é um caminho lógico, isso implica exatamente no conceito de complementaridade, interior e praia, fazendas de chocolate, eco turismo, aventura, esportes no ambiente natural, além é claro de melhorar o que já é atração, requalificação o uso das praias por exemplo.
Se este caminho parece obvio, por ande andam as soluções para as áreas urbanas, como incluir a periferia, a juventude com baixa escolaridade, a mão de obra desqualificada no processo de desenvolvimento regional? Aí reside o X da questão, o velho modelo de industrialização via incentivo fiscal e baixa responsabilidade local e social já está superado, tem se mostrado mais como problema do que como solução onde foi implantado, sem considerar os graves problemas ambientais que em nossa região em particular são ainda mais impactantes.
Me parece, sem a pretensão de apontar soluções, mas ajudando o debate, que o modelo mais adequado para pensar a região está na área de serviços, seja na consolidação do turismo, seja no aprofundamento da condição de pólo de educação e pesquisa de alto nível, ou mesmo no desenvolvimento de uma rede de logística capaz de oferecer serviços e estrutura para atração de grandes empresas.
Neste sentido, o Porto Sul como foi pensado me parece superado, exigindo dos planejadores uma nova abordagem, principalmente no aspecto do impacto económico local, na integração do projeto com um modelo de desenvolvimento capaz de responder as grandes questões parcialmente apontadas aqui, além das já colocadas como as questões ambientais.
Volto a insistir na criação de uma agência regional de desenvolvimento, capaz de pensar e articular a região de forma integrada, à partir de um olhar local.
Gerson Marques é Diretor Presidente da Chocosul – Associação dos Produtores de Chocolates do Sul da Bahia