Não foi épico, foi roubo (ou: o ratón alemão meteu a mão no queijo francês)
Daniel Thame
“Épico”. “Heróico”. “Inesquecível”. “Histórico”. “Milagre”.
O mundo despeja adjetivos para descrever a vitória do Barcelona sobre o Paris Saint Germain por 6×1 na Champions League, depois de levar um sonoro 4×0 no jogo de ida em Paris.
Mas, o fato é o juiz alemão Deniz Aytekin roubou do Paris Saint-Germain a chance de se classificar para as quartas de final da Liga dos Campeões. Simples assim.
Feito um ratón, meteu gulosamente a mão no queijo francês. De lambuja, levou o vinho também.
Com 1 a 0 para o Barça, não um deu pênalti de Mascherano, que saltou para bloquear um cruzamento de braços abertos. E depois, mais outro pênalti não marcado para o PSG, do mesmo Mascherano em Di María.
Já com 2 a 0 para o Barça , o árbitro Aytekin inventou um pênalti absurdo cavado por Neymar no início do segundo tempo: 3×0. O Barcelona estava vivo e o PSG, que entrou em campo para cumprir a obrigação, como se aqueles 90 minutos fossem apenas protocolares, enfim acordou.
Cavani fez 1×3 e calou o Camp Nou lotado. Caixão fechado, prego batido. Precisando de mais três gols, os espanhóis a lutavam pela honra, porque a vaga, essa já era. Os franceses passaram a tocar a bola e esperar o tempo passar.
E o tempo passou até os 43 minutos do segundo tempo. Tudo dentro do script.
Mas ai o juiz (e justiça seja feita, Neymar também, numa noite em que lembrou o Neymar do Santos e da Seleção, tornando Messi um quase coadjuvante) decidem que a história não acabou.
Aytekin inventa mais um pênalti, desta vez de Marquinhos em Luiz Suarez. Neymar, que já havia feito o quarto, um golaço de falta, bate faz o quinto.
O imponderável invade o gramado blugrená.
Faltava mais um gol e `sua excelência` deixa o jogo correr até aos 50 minutos, quando veio o tento redentor de Sergi Roberto, na bacia das almas. 6×1, o placar necessário.
O inacreditável assombra o mundo da bola.
Nunca e em tempo algum na história da Champions, um time havia conseguido reverter um 0x4. O Barça de Messi e Neymar, que contra o PSG foi o Barça de Neymar e Messi (e de Deniz Aytekin) conseguiu.
Daí a tempestade de adjetivos em todos os idiomas possíveis.
Em meio a quase unaminidade de louvores ao time catalão, que efetivamente é uma lenda do futebol mundial e que no início do século, sob o comando de Guardiola, elevou o jogo à condição de arte como poucos times o fizeram, poucas vozes se levantaram para registrar o que efetivamente ocorreu em meio ao caldeirão de emoções que transbordou do Camp Nou e se espalhou pelo planeta: o PSG foi garfado, teve sua vaga surripiada por erros (?) de arbitragem.
O milagre, o heroísmo, o épico e a glória tiveram uma mãozinha demasiadamente humana para dar um empurrão rumo à História.