camarãoUm dos projetos de pesquisa da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) dentre os aprovados na  Chamada Universal do CNPq, o estudo “Uma abordagem interdisciplinar de aspectos ecológicos e comportamentais do camarão de água doce Macrobrachium olfersii”  deverá ser conduzido durante três anos. Os autores da proposta são os professores do Grupo de Pesquisa em Carcinologia e Biodiversidade Aquática (GPCBio), coordenado pelo professor Fabrício Carvalho e composto pelos professores Edison Rogério Cansi, Danielle Santos e Adriano Silva, do Campus Jorge Amado, em Itabuna.

O objetivo é estudar o Macrobrachium ofersii como um modelo para ampliar o conhecimento sobre questões ecológicas, morfológicas e comportamentais de crustáceos de água doce. A espécie escolhida é um dos camarões popularmente conhecidos como “pitu”, e é notável pela agressividade dos machos, que têm uma das quelas (as “garras”) muito maior que a outra (em latim, macrobrachium significa algo como “braço grande”), e por ser capaz de mudar a sua coloração rapidamente, para se esconder de predadores. O professor Fabrício afirma que esse camarão e outras espécies de camarão do grupo Macrobrachium são capturados por pescadores artesanais para alimentação. Conforme ele, esse camarão “não é a espécie mais pescada na região para essa finalidade”, mas tem características similares a outras espécies nativas e a outros crustáceos cultivados na aquicultura para comercialização.

O coordenador do projeto explica que a existência de estudos prévios com oMacrobrachium olfersii favorece a confiança da identificação e validade dessa espécie. Outros motivos são o fato do pitu ser comum em rios da região Sul da Bahia e apresentar características biológicas como agressividade e comportamento críptico (isto é, a busca de áreas sombreadas e protegidas para evitar predadores); essas serão algumas das características comportamentais estudadas no projeto. A agressividade é um dos limitantes nas tentativas de criação de espécies de Macrobrachium na aquicultura. Além disso, conta o professor Fabrício, alguns aspectos da reprodução desse animal são similares às notadas em espécies de camarões de água doce pescadas ou criadas em cativeiro para alimentação humana. A equipe deverá definir locais de pesquisa em rios entre Itacaré e Una, após atividades de campo para reconhecimento das áreas.

Conexão de saberes
A proposta de pesquisa tem três linhas gerais, relata o professor Fabrício. Uma delas é a ecologia, a ser realizada em rios da região, para estudo da relação entre o estado de conservação das matas ciliares e a distribuição da espécie. Outra linha de estudo é a morfologia, com atividades em laboratório, com o objetivo de compreender características que possam influenciar no comportamento da espécie.

A terceira linha é na área de comportamento e vai acontecer em aquários, no laboratório a ser montado no Centro de Formação em Ciências e Tecnologias Agroflorestais da UFSB, localizado no CEPEC/CEPLAC. Nessa linha, explica o coordenador, a ideia é “compreender aspectos que possam explicar os resultados obtidos na linha de pesquisa de ecologia e gerar informações úteis para aquicultura de espécies nativas”. Os pesquisadores vão trabalhar nas três linhas de maneira que as atividades sejam realizadas simultaneamente.

O projeto foi contemplado na faixa A do edital da Chamada Universal, com orçamento de R$ 30 mil, e a maior parte foi alocada para despesas de capital. O coordenador do GPCBio detalha que essa despesa deve ser realizada na compra de equipamentos básicos para a pesquisa nessas linhas, como estereomicroscópio, freezer, aquários, câmera filmadora, medidor multiparâmetro, estimulador, fonte de alimentação digital, osciloscópio e outros instrumentos eletrônicos. Também estão previstos recursos para coletas e manutenção de amostras na Coleção de Invertebrados Aquáticos do Sul da Bahia, em uma parceria entre a UFSB e UESC. Há expectativa de que o projeto conte com bolsa para Iniciação Científica e de Apoio Técnico.

Além desse projeto, o CNPq também forneceu apoio para visita do coordenador do projeto ao Museu de História Natural da Universidade de Oxford, Inglaterra, em dezembro do ano passado, para fomentar a realização de pesquisas em conjunto com a UFSB na área de crustáceos.