golDia desses, vendo pela tevê o Galvão Bueno tentar transformar um lance bisonho de Neymar  numa jogada de gênio, lembrei-me de um episódio ocorrido lá pelo início dos anos 80. Do século passado!

A gente cobria, pela Radio Difusora Oeste, de Osasco, um jogo entre São Paulo e Náutico, pelo Campeonato Brasileiro. A partida não valia nada, porque os dois times já não tinham chances de classificação. Um desses jogos de entediar até torcedor fanático do São Paulo, como é o caso deste blogueiro.

Partidinha insossa, modorrenta, num Morumbi quase vazio.

Lá pelas tantas, o narrador Silva Netto (mais fanático ainda pelo São Paulo) narra um chute todo errado do atacante como se a bola tivesse “raspado” a trave.

Quando ele me acionou para contar como foi o lance, eu disse o que vi:

-A bola passou longe, sem nenhum perigo pro goleiro, segue o jogo…

Nem tinha notado que Silva Netto havia dito que a bola que passou longe tinha passado perto do gol.

Mas ele notou que eu o desmenti no ar, sem querer e sem perceber.

Em vez de seguir a narração do jogo, o que seria normal, ele decidiu me corrigir:

-A bola passou perto, um lance de perigo do São Paulo…

E eu, em vez de encerrar o assunto e pensar na morte da bezerra, insisti:

-Não, Silva, a bola passou longe. Estou ao lado do campo e vi…

Que nada!

Para o Silva Netto havia sido lance perigoso e não tinha jeito. Enquanto o jogo corria sem graça, os ouvintes da Difusora testemunhavam uma inacreditável discussão entre o narrador e o repórter, acerca de um lance banal.

Voltei a pensar na morte da bezerra e acabei concordando com Silva Netto, antes que ele transformasse uma bola que quase derrubou a bandeira de escanteio em gol do São Paulo.

Sem o “gol do Silva Netto” o jogo terminou mesmo em 0x0.