Caroline Chaves

Não se trata de nenhum país do Oriente Médio, Turquia ou Egito, é o Brasil!  Desde o movimento dos Caras Pintadas não se via no país qualquer mobilização social no sentido de revelar o inconformismo das pessoas perante as situações impostas pelo governo. Ouve-se falar de vandalismo, de movimento pacífico – relutam em dizer que o último é o valido. Mas quem se propõe em pensar a Constituição Federal, cuja ideologia é impecável e se propõe em falar em igualdade e erradicação da pobreza, não vem sendo posta em prática. E quem sabe que é nela que se fala em Estado Democrático de Direito?

Chamam de vândalos os que por sua vez resolvem dizer  basta! Não se trata de vinte centavos, trinta centavos ou um real. A verdade é que a onda de movimentos que se instaurou no país tem uma voz, um tom, um objetivo que vai além. Não são os centavos ou o real em questão, mas uma vida de sofrimento, de negligências, injustiças praticadas pelos governantes de uma pátria que pelo hino adotado deve-se chamar de amada.

Não há amor nas filas intermináveis do SUS, não há como colocar a mão no peito e sentir orgulho de um sistema judiciário que tarda, não tem como sentir orgulho da educação que engessa, dos políticos oportunistas e de uma democracia falha.

Democracia tem sentido destorcido na “pátria amada Brasil”, onde um come todos os dias e outro bebe água suja e pútrida de açudes. O povo mendiga por saúde, educação, dignidade e efetividade da constituição, tida como das mais modernas do mundo.

Pena que tudo está escrito no papel em um documento que deveria nortear e não ser posto de lado. Vandalismo e depredação estão sendo evidenciados neste momento, no entanto, esquece-se que existe um vandalismo maior e premeditado, que vem sendo praticado pelo governo. Que é impõe e enfia goela abaixo da sociedade condições de vida desumanas, impostos de cair os olhos, salário mínimo que não atende às necessidades básicas.

Não se tem dignidade ganhando o mínimo para realizar o proposto na Carta Magna, não existe dignidade em favorecer nações enquanto o país peleja para respirar. Falam de vandalismo, mas será que existe maior que o decretado nas vidas dos “cidadãos” brasileiros?

A passividade de Gandhi caminha lado a lado com a miséria vivida pelos brasileiros, logo, em um momento desse caso não seja mostrada a indignação, a “paz de Gandhi” reinará, o mal continuará, e o Brasil perpetuará a maltratar seus filhos que sempre ficam na passividade. Se faltava ideologia, agora sobrou.

De tudo que está acontecendo, pode-se ver e sentir com verdade e realidade a parte do hino que engrandece a nação: “Verá que o filho seu não foge a luta”.

 

(*) Caroline Chaves é advogada, doutoranda em Direito pela Universidade Nacional de Buenos Aires (Lomas de Zamora), com ênfase em Direitos Humanos; pós graduada em Direito Processual Civil pelo Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar