Adary Oliveira

O artigo publicado na Folha de S. Paulo em 28/03/2012 com assinatura de Fabio Feldmann, com o título “Ameaça sobre o legado de Jorge Amado” deixou a Bahia indignada. Jorge Amado nunca desejou que os habitantes da terra de São Jorge do Ilhéus vivessem na pobreza e na miséria eternamente. As belas histórias que ele relatava com maestria, retratando as belezas do lugar, os costumes ímpares que iam da rica culinária ás vestes, das danças folclóricas ás gingas da capoeira, com palavreado singular e recheado de gírias da terra do cacau, não traziam desejo nem vaticinavam que a gente grapiúna estaria condenada a viver em ambiente hostil e insalubre para salvar o macaco-prego-do-peito-amarelo nem as cem espécies de morcegos catalogadas por estudiosos desses animais.

A região tão bem descrita por Jorge Amado teve sua economia abalada pela introdução criminosa da vassoura-de-bruxa que quase extermina sua principal riqueza, o cacau, sem que nenhum dos que atualmente defendem o meio ambiente para eles próprios tivesse movido uma só folha, nem examinado uma só amêndoa na busca de uma solução para esse gravíssimo problema.

Mais de 70% da produção industrial da Bahia está concentrada na Região Metropolitana de Salvador. Esta situação tem que ser mudada, pois o9 Estado precisa ser desenvolvido como um todo. A oportunidade que o mundo contemporâneo traz com a sua voracidade com a compra de alimentos, minérios e matéria prima têxtil, em quantidades e preços nunca vistos, não pode ser desperdiçada. A construção do Porto Sul e da Ferrovia Oeste–Leste, ligando o sertão ao mar, despertará o gigante adormecido e fomentará o desenvolvimento do interior longínquo, com, investimentos privados em negócios que irão proporcionar aos sertanejos e aos habitantes do litoral, condições de vida mais digna e mais humana.

As pessoas que defendem a manutenção do atual status quo nunca viveram no sertão e não fazem a menor idéia do que é viver no semiárido, região que ocupa 64% do território da Bahia. Se nos povoados da Ponta da Tulha e de Aritaguá a maioria vive sem as mínimas condições de higiene e salubridade, sem água potável, sem luz elétrica e morando em casa de sopapo, imaginem como vivem os moradores da caatinga. Longe do litoral, eles também serão beneficiados com a construção do porto e da ferrovia. Para os habitantes do sertão, que convivem quase todos os anos com penosa seca, como a que está ocorrendo agora, a sobrevivência dos demais pobres é conseguida até com a ingestão de língua de vaca, rapadura, farinha seca, cortadinho de palma e mandacaru.

Jorge Amado não desejou a continuidade da pobreza para ninguém e certamente não seria esse o legado imaginado por ele para seus conterrâneos nem do mar nem do sertão.

Todos na Bahia sabem de interesses contrários à construção do Porto Sul, que trará concorrência a negócios do Sudeste. Todos na Bahia sabem dos investimentos imobiliários de Itacaré, paraíso que muitos querem reservar para poucos. Mas fica aqui uma advertência: se o Porto Sul não for construído agora, em decorrência das ações protelatórias encetadas pelos afortunados que tentam enganar os incautos, ele não deixará de ser feito mais adiante. Como foi feito o Pólo Petroquímico que muitos eram contra.  Como foi implantada a usina a usina de cobre contra a vontade de muitos. Como se plantou uma moderna fábrica de automóveis contra os esforços dos inimigos do progresso. Aqui se deseja construir um Brasil não só maior, mas também um Brasil melhor. Não sem obediência ás leis de proteção ao meio ambiente, mas com a autoridade de quem viu seus empresários se unirem ao governo para em ato pioneiro instituir o Conselho Estadual de Proteção Ambiental em 03 de maio de 197; de quem idealizou, construiu e opera excelente central de tratamento de efluentes do Pólo Industrial de Camacari e de Salvador

Com trabalho e sem temor, o desenvolvimento será alcançado e a miséria e a pobreza serão riscadas do mapa, como desejava Jorge Amado.

Adary Oliveira  é doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona.

(Artigo publicado no Jornal A Tarde de 19/05/2012)