Em alguns momentos da primeira metade do século passado as imensas riquezas geradas pela produção de cacau criaram todas as condições para que uma parte desses recursos fosse aplicada em projetos de diversificação, permitindo um duradouro processo de desenvolvimento e bem estar social, algo impossível de ocorrer quando se vive da monocultura, por mais lucrativo que o produto seja.

Ou aparente ser.

O fato é que, por falta de visão ou pela ilusão de que aquelas riquezas seriam eternas, aliadas a uma notória ausência de espírito coletivo, as raras iniciativas no sentido de se evitar a extrema dependência do cacau se mostraram ineficientes.

O resultado é que quando a crise provocada pela vassoura-de-bruxa se revelou mais devastadora do que todas as outras crises, o Sul da Bahia mergulhou num abismo e viu sua economia reduzida a frangalhos.

As conseqüências foram e ainda são visíveis: produtores descapitalizados, centenas de propriedades rurais relegadas ao abandono, desemprego em larga escala, empobrecimento das pequenas e médias cidades e criação de bolsões de miséria nas periferias, cada vez mais carentes e violentas, de Ilhéus e Itabuna.

Mesmo com um processo de recuperação a partir dos primeiros anos deste século, com a expansão do turismo e de um incipiente pólo de informática em Ilhéus e da consolidação dos pólos de comércio, prestação de serviços, saúde e ensino superior em Itabuna, ainda existe uma imensa demanda por empregos, que resultariam numa vida mais digna para milhares de pessoas.

E eis que o Sul da Bahia se vê diante de uma segunda chance de encontrar o caminho do desenvolvimento, com a implantação de projetos importantes como o Porto Sul e a Ferrovia Oeste Leste, cujos benefícios não se limitarão apenas a Ilhéus, mas se estenderão aos demais municípios do Sul da Bahia.

O porto e a ferrovia farão da região um pólo industrial, além de aquecer outros setores da economia, criando as bases para um novo ciclo de desenvolvimento. São obras capazes de ter, para o Sul da Bahia, o mesmo impacto que o Pólo Petroquímico teve para a Região Metropolitana de Salvador.

Mais eis que, em vez de gerar uma ampla mobilização de todos os segmentos regionais, em função das múltiplas oportunidades que oferecem, a Ferrovia Oeste-Leste e o Porto Sul enfrentam a resistência de alguns setores, a exemplo dos ambientalistas e alguns hoteleiros, que num misto de má fé, desinformação e interesses inconfessáveis, tentam transformar o porto e a ferrovia numa versão grapiuna do apocalipse, como se em vez de progresso e desenvolvimento, eles fossem trazer destruição.

Em nome de uma causa justa, a conservação ambiental, esses setores estão usando todos os artifícios para barrar os projetos, como se fosse possível, em função das rígidas leis ambientais de hoje, realizar obras de tamanha envergadura sem os necessários estudos e as compensações por eventuais danos, mínimos se comparados aos benefícios que o Porto Sul e a Ferrovia Oeste Leste proporcionarão.

O debate é necessário, salutar e contribui para que sejam dadas todas as garantias para que os impactos ambientais sejam mínimos e compensáveis.

Já a radicalização em nome de uma causa (será que é apenas isso?) é condenável, numa região que não pode se dar um luxo de desperdiçar essa segunda e talvez derradeira chance, em nome de uns poucos caranguejos, uma penca de guaiamuns, meia dúzia de siris e um pedaço de mata.

Ou será que eles são mais importantes do que os milhares de pais de família que estão aí, a espera de um emprego que lhes permita viver com dignidade e quem sabe, num domingo de sol, desfrutar com os amigos as decantadas praias e as maravilhas naturais de Ilhéus?