Tabaco, ron, PPG, dólar?”. É impossível transitar por Habana Vieja e parar na entrada dos hotéis da capital cubana sem ser abordado pelos operadores do mercado negro. São dezenas, centenas deles, agindo praticamente nas barbas dos policiais, que assistem passivamente às negociações com os turistas.

O charuto cubano é o mais comercializado no mercado negro. Marcas como o Cohiba (o preferido de Luiz Inácio Lula da Silva) e Montecristo são as coqueluches para os compradores. Numa loja convencional, a caixa com 25 charutos Cohiba não sai por menos de 50 dólares. No “negro” dá pra negociar até por 15 dólares, mesmo valor do Montecristo. Guias turísticos alegam que os produtos do mercado negro são falsificados, mas isso soa incoerente num país que não produz uma agulha fora das fabricas controladas pelo governo. “Meu irmão trabalha numa fábrica de charutos e desvia para que eu venda”, diz candidamente R., de 22 anos.

Outro produto que está se tornando famoso é o PPG, remédio que controla o nível de colesterol, mas criou fama porque, supostamente, transforma o mais caidaço dos homens num garanhão. Lenda ou não, o PPG vende como água no mercado negro. Pode se comprar duas caixas por 10 dólares, quando nas lojas para turistas uma caixa custa o dobro.

Obter PPG para o ´negro´ é complicado por causa da receita médica? Nem tanto. “Um médico fornece as receitas e a gente consegue barato, pagando em pesos”, diz P., um jovem que combateu em Angola com o exército cubano, retornou e hoje “batalha” vendendo charutos e PPG.

A coisa é tão escancarada que existe até uma espécie de pronta-entrega, com contatos por telefone e entrega dos produtos nos hotéis. O comércio de rum no ´negro´ é restrito, quase insignificante. O câmbio de dólares é mais freqüente na porta das diplotiendas e interessa basicamente aos cubanos, que precisam da moeda americana para fazer compras, do que aos turistas, que só podem usar o dólar ou o peso turismo na base do 1/1.

A exemplo da prostituição, tem-se a nítida impressão de que o governo tolera o mercado negro, porque os dólares acabam ficando mesmo no país.