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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: 31/out/2008 . 10:04

O HOMEM QUE MORDEU O CÃO

Uma das regras não escritas do jornalismo versa que se um cão mordeu um homem não é notícia, mas se um homem mordeu um cão, é notícia.
Pois naquela Havana do início de 1995, espírito de repórter a mil, eu ia atrás do homem que mordeu o cão. E do cão que mordeu o homem.
Durante o dia, fazia reportagens sobre a vida num país socialista afundado numa crise em que sabonete, pasta de dentes e até absorventes eram considerados artigos de luxo.
À noite, mergulhava no submundo da prostituição e do mercado negro, em meio a jineteras e jineteros e a comercialização nem tão clandestina de charutos e de PPG, um precursor do Viagra, que fazia muito sucesso na época. “Hay que endurecer”, já dizia Che.
Está última série de matérias produzidas em Cuba mostra como um país em frangalhos usa todas as armas para manter viva a chama do socialismo. Mesmo as menos ortodoxas. E também o fascínio exercido pelas novelas brasileiras, uma mania na Ilha.
Agora é esperar 2010, quando pretendo produzir algo do tipo “15 anos depois”. Isso se Deus, a crise econômica e Fidel permitirem.

MERCADO NEGRO ÀS CLARAS

Tabaco, ron, PPG, dólar?”. É impossível transitar por Habana Vieja e parar na entrada dos hotéis da capital cubana sem ser abordado pelos operadores do mercado negro. São dezenas, centenas deles, agindo praticamente nas barbas dos policiais, que assistem passivamente às negociações com os turistas.

O charuto cubano é o mais comercializado no mercado negro. Marcas como o Cohiba (o preferido de Luiz Inácio Lula da Silva) e Montecristo são as coqueluches para os compradores. Numa loja convencional, a caixa com 25 charutos Cohiba não sai por menos de 50 dólares. No “negro” dá pra negociar até por 15 dólares, mesmo valor do Montecristo. Guias turísticos alegam que os produtos do mercado negro são falsificados, mas isso soa incoerente num país que não produz uma agulha fora das fabricas controladas pelo governo. “Meu irmão trabalha numa fábrica de charutos e desvia para que eu venda”, diz candidamente R., de 22 anos.

Outro produto que está se tornando famoso é o PPG, remédio que controla o nível de colesterol, mas criou fama porque, supostamente, transforma o mais caidaço dos homens num garanhão. Lenda ou não, o PPG vende como água no mercado negro. Pode se comprar duas caixas por 10 dólares, quando nas lojas para turistas uma caixa custa o dobro.

Obter PPG para o ´negro´ é complicado por causa da receita médica? Nem tanto. “Um médico fornece as receitas e a gente consegue barato, pagando em pesos”, diz P., um jovem que combateu em Angola com o exército cubano, retornou e hoje “batalha” vendendo charutos e PPG.

A coisa é tão escancarada que existe até uma espécie de pronta-entrega, com contatos por telefone e entrega dos produtos nos hotéis. O comércio de rum no ´negro´ é restrito, quase insignificante. O câmbio de dólares é mais freqüente na porta das diplotiendas e interessa basicamente aos cubanos, que precisam da moeda americana para fazer compras, do que aos turistas, que só podem usar o dólar ou o peso turismo na base do 1/1.

A exemplo da prostituição, tem-se a nítida impressão de que o governo tolera o mercado negro, porque os dólares acabam ficando mesmo no país.

PLIM PLIM EM ESPANHOL

“No es posible”. A loirinha cubana, no esplendor dos seus 17 anos, não acredita quando ouve de um indiscreto brasileiro que aquele rapagão atlético da novela tem preferências sexuais -digamos- pouco ortodoxas. E chama as amigas, que também se arvoram diante da novidade.

Deixemos o musculoso ator de lado. E falemos das novelas da Globo, que são uma verdadeira mania em Cuba. Literalmente param a ilha nos três dias da semana em que vão ao ar, sempre às 9 da noite. Roque Santeiro fez tanto sucesso por lá quanto aqui. Há cerca de um mês os cubanos acabaram de assistir Felicidade, uma trama melosa que eles adoraram. Atualmente, está passando ´Tu ódio, mi amor´, que vem a ser Pedra Sobre Pedra, ambientada na Chapada Diamantina (Bahia). As brigas entre as personagens vividas por Lima Duarte e Renata Sorrah e o amor proibido entre Mauricio Mattar e Adriana Esteves dominam as converersas.

Em Cuba, novela é coisa de criança, de jovem, de adulto, de idoso. De homens e mulheres. Quando descobrem que somos brasileiros, vão logo falando sobre as novelas. Uma enfermeira, impaciente, pede que revelemos o desfecho de ´Tu ódio, mi amor´. Não quis tirar a graça de uma das poucas diversões dos cubanos e desconversei.

As novelas, claro, criam distorções a respeito do Brasil. Um cubano de meia idade nos aborda na praça Jose Marti, em Habana Vieja, para protestar contra o regime e dizer que bom é no Brasil, onde as pessoas tem carro, conforto e as crianças tem brinquedos, doces e moram em lugares bonitos. Duro é convencer um sujeito desses que a novela mostra um Brasil de mentirinha e que existem cerca de 30 milhões de pessoas (três Cubas!) vivendo em situação de miséria absoluta.

“Temos consciência desse problema e procuramos fazer uma análise crítica das novelas”, diz o jornalista Alberto Garcia. Esforço inútil. Até Fidel se rendeu aos encantos das novelas globais e recebe com inegável prazer artistas em visita ao país. Regina Duarte é popularíssima por lá, idem Lima Duarte, idem Antonio Fagundes e por ai vai, numa lista interminável.

Hay que endurecer, pero sem perder las novelas jamás”. Che Guevera deve estar se remexendo na tumba.





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