TV Cabrália, início da década de 90. O recém inaugurado Hotel Transamérica, na paradisíaca (que certa feita um repórter da emissora confundiu com afrodisíaca, sabe-se lá porque) Ilha de Comandatuba, recebia famosos e endinheirados de São Paulo, Rio e Brasília.,
A gente tinha um esquema lá que sempre que chegava alguém famoso era avisado. Para uma tevê regional, era uma festa entrevistar personalidades que só apareciam na então monopolista Rede Globo.
Os vips sentiam a nossa empolgação e quase sempre colaboravam, dando entrevistas para a Cabrália como se estivessem falando para o mundo. A gente fazia a gravação e ia almoçar no continente, porque a grana da diária não dava pra encarar um copo de água mineral no hotel, quanto mais um almoço.
Até que certa feita, fomos entrevistar o então governador de São Paulo, Orestes Quércia, que descansava no hotel com a família.
Político não pode ver um microfone, seja ele a BBC, seja ele do serviço de alto falante de Potiraguá.
E deu uma longa entrevista, que a gente poderia usar durante uma semana nos telejornais. Encerrada a gravação, Quércia convidou a equipe para almoçar.
Para quem iria pegar um rango mulambento, aquilo era o que se pode chamar de convite irrecusável.
Não recusamos. O almoço, como se previa, era um banquete. Todo tipo de saladas, pratos frios, pratos quentes, sobremesas. De se lamber os beiços.
Na equipe, havia um auxiliar de cinegrafista (função que hoje nem existe mais) chamado Bolinho. Meio caipirão, ele ficou observando como as pessoas se serviam, pra não passar vergonha.
O excesso de cuidados não evitou que ele, na hora de colocar a salada no prato, pegasse um vistoso pedaço de samambaia, que obviamente foi colocada na mesa como decoração. A gente percebeu, mas ninguém teve coragem de falar nada. Foi um milagre conter o riso.
O almoço estava uma delícia e todo mundo se fartou. Quércia foi muito simpático e fez questão de convidar a gente pra voltar outro dia, o que era apenas gentileza, não era pra valer.
Quando a equipe entrou na balsa pra pegar o carro e voltar pra Itabuna, Bolinho, exibindo o ar de felicidade de quem acabara de ser apresentado ao paraíso, saiu-se com essa:
-Almoço bom da porra! Só não gostei daquela salada. Rico tem cada gosto estranho.
Quase vinte anos depois, tem gente que dá um braço para comer uma tal de Mulher Samambaia.